Máquina milionária de detecção de câncer está parada no HC
Aparelho foi adquirido ainda em 2012 mas não tem previsão de instalação
Desde 2009, o Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco (HC-UFPE) almejava ter uma máquina de Exame PET-CT (Tomografia por Emissão de Pósitrons). Em 2012, a unidade conseguiu o caro equipamento - que na época custava R$ 3 milhões e hoje possui preço de mercado em torno de R$ 6 milhões -, mas ele ainda não está em uso.
O equipamento de PET-CT serve para diagnosticar o câncer e classificar em que estágio a doença está, ajudando no direcionamento do tratamento. O aparelho consegue detectar lesões pequenas que tomografias e ressonâncias comuns não conseguem.
Apesar de estar dentro da unidade e fora das caixas, a máquina ainda não está operante por falta de estrutura. O aparelho precisa funcionar em uma sala com condições adequadas de refrigeração e eletricidade.
A professora de Medicina Nuclear da UFPE e chefe do setor de medicina nuclear do Hospital das Clínicas, Simone Brandão, diz que todo o processo de compra da máquina de PET-CT está repleto de infortúnios
Simone é responsável pelo projeto de compra da máquina, iniciado em 2009. Segundo ela, as empresas Phillips, Genereal Electric (GE) e Siemens, que disputavam a venda, não avançavam no envio dos documentos solicitados. “O sistema burocrático é muito complicado. As empresas ficam brigando entre elas e não mandam o que a gente precisa”, lamenta a professora.
Quando o Hospital das Clínicas conseguiu as propostas já era 2012 e o equipamento que a unidade pretendia adquirir já estava ultrapassado. “Abortamos a licitação 15 dias antes do pregão. Ficamos super apreensivos mas decidimos que íamos pedir uma máquina mais nova e melhor”, lembra Brandão.
Junto a um edital do Hospital das Clínicas de Porto Alegre, Brandão conseguiu um processo de licitação mais acelerado. Em maio de 2012, fecharam o contrato com a GE. Em setembro, a máquina chegou. O equipamento passou um ano e dez meses encaixotado, por não ter local para ficar. “A sala da máquina tem que ter refrigeração e eletricidade adequada, mas o prédio do HC tem 30 anos que foi inaugurado, de construção é muito mais, e não tem as manutenções. O hospital começa a inflar e vão se criando gambiarras, começam a criar salas sem nenhum planejamento”, justifica a chefe do setor de medicina nuclear.
Brandão lembra que quando finalmente o aparelho foi tirado da caixa, perceberam que era o modelo anterior, ultrapassado. “Falamos com a GE, que queria deixar a máquina com a gente e dar uma de tomografia de brinde. Eu disse que não quero, que não vou utilizar uma máquina antiga”.
Daí, recorda Brandão, foi quase um ano para desinstalar a máquina, botar de novo na caixa, levar ao porto, para levar aos Estados Unidos e trazer a nova. Mais um ano desperdiçado.
Só em janeiro de 2016, a nova máquina foi instalada. Logo depois houve uma infiltração no hospital que queimou a parte elétrica do local, atrasando mais uma vez o processo de ativação do aparelho.
Não há previsão para o funcionamento da máquina de tomografia. Mesmo quando ela for finalmente utilizada, não será em uma sala com estrutura ideal. Brandão não sabe precisar quem é o grande responsável por toda a demora, mas tece algumas críticas. “Quando conseguimos os R$ 3 milhões, havíamos solicitado R$ 5,5 milhões ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, para poder construir uma sala ideal, comprar mobília, equipamentos de radioproteção, mas eles só deram os R$ 3 milhões e acabou. Não existe uma seriedade”.
A chefe do departamento também critica a lerdeza na construção da sala, que, de acordo com ela, já está sendo feita às gambiarras. “Você não vê vontade nos funcionários públicos de engenharia. Eles ficam travados e as obras não andam. Eu vou lá, digo que a diretoria está mandando fazer e não fazem. Funcionários públicos não estão obedecendo, sabem que não vão ser punidos, eles não veem aquilo como ‘meu’”, acusa. “Eu já peguei três diretorias neste hospital. Às vezes tem um diretor mais persistente, mais ágil, mas ele cansa. Quando ele pega um monte de problema, ele pensa ‘oxe, quero isso para mim não’ e vai levando”.
O relato da máquina parada partiu de uma denúncia da Sociedade Brasileira de Medicina Nuclear (SBMN), que relata o mesmo problema no Hospital de Base do Distrito Federal e no Rio Imagem, no Rio de Janeiro. Após a denúncia, Brandão percebe que a diretoria da unidade hospitalar está mais comprometida, convocando reuniões para saber do andamento das obras.
A Tomografia por Emissão de Pósitrons foi incluída no Sistema Único de Saúde (SUS) desde abril de 2014 para diagnóstico de câncer de pulmão, colorretal e de linfomas. A SBMN considera que o acesso à ferramenta é deficitário no país. O Brasil possui atualmente 135 equipamentos, entre esfera pública e privada, sendo 15% no Nordeste. Pernambuco possui 5 aparelhos de PET-CT.