Dólar dispara ante emergentes
Nenhuma moeda sofreu mais do que o peso argentino
O rali do dólar em relação a moedas emergentes teve prosseguimento nesta quinta-feira, 30, com o peso argentino enfrentando turbulências ainda mais poderosas do que as vistas nos dias anteriores. A situação agonizante se perpetuou por outros países em desenvolvimento, afetando moedas do Chile, do México, da Rússia, da Índia, da África do Sul, da Turquia e da China. Os tremores foram agravados durante a tarde em meio a relatos de que mais tarifas americanas sobre produtos chineses estão a caminho.
Próximo ao horário de fechamento das bolsas em Nova York, o dólar caía para 111,00 ienes, enquanto o euro subia para US$ 1,1674 e a libra avançava para US$ 1,3018. Entre as emergentes, a moeda americana saltava para 38,7550 pesos argentinos (+13,98%), 68,260 rublos russos (+0,31%), 14,7398 rands sul-africanos (+2,38%), 19,1449 pesos mexicanos (+0,95%), 6,6538 liras turcas (+2,70%), 71,052 rupias indianas (+0,62%) e 679,16 pesos chilenos (+1,71%).
"De A a Z, as moedas emergentes estão sob pressão novamente. No entanto, o sentimento de risco não está contido apenas nas moedas com problemas domésticos. No meio do ambiente global, a maioria das divisas está de pé atrás com a força do dólar", comentaram estrategistas do Rabobank em nota a clientes. A moeda americana, de fato, apresentou um salto diante de divisas emergentes, renovando máxima histórica em relação à rupia indiana e se aproximando de marcas psicológicas na comparação com as moedas da Rússia, da África do Sul, da Turquia e do Chile.
Nenhuma moeda, porém, sofreu mais do que o peso argentino. Logo no início do dia, o dólar disparou, obrigando o Banco Central da República Argentina (BCRA) a elevar a taxa básica de juros de 45% para 60% e a aumentar o compulsório bancário em 5 pontos porcentuais. A moeda americana apresentou reação pontual, mas voltou a apresentar valorização robusta, de 22%, chegando à marca de 41,5 pesos. Em alguns bancos argentinos, a subida do dólar superou os 42 pesos. Outra ação do BCRA foi necessária e, no meio da tarde, a autoridade monetária anunciou um leilão de US$ 500 milhões, com o mercado tomando US$ 330 milhões.
"O anúncio de ontem do presidente da Argentina, Maurício Macri, sobre o adiantamento dos fundos de ajuda do Fundo Monetário Internacional (FMI) junto com uma política monetária significativamente mais apertada deveria ter dado alívio à pressão sobre o peso argentino. No entanto, isso não aconteceu devido a falhas na comunicação. As autoridades argentinas perderam a confiança dos investidores", disse a economista Priscila Robledo, da Continuum Economics.
Alberto Ramos, do Goldman Sachs, vai na mesma linha, ao afirmar que, diante do quadro de aguda intensificação do estresse nos mercados, o governo argentino deveria agir de modo decidido e considerar um choque no ajuste fiscal. "A baralha para ancorar a moeda e apoiar o sentimento do mercado não pode ser vencida apenas pelo banco central", advertiu Ramos em relatório enviado a clientes. O pânico nos mercados foi tão intenso que fez o risco Argentina, medido pelo Credit Default Swaps (CDS), derivativo de crédito que protege contra calotes na dívida soberana, disparar para 748,33 pontos no fim da tarde, representando avanço de 14,65% em relação a ontem.
O yuan chinês também apresentou sofrimento em relação à divisa americana, o qual foi intensificado com notícias sobre o comércio global. Durante a tarde, relatos de que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, pretende prosseguir com tarifas sobre US$ 200 bilhões em produtos chineses já na próxima semana voltaram a pesar no sentimento dos agentes. Em Hong Kong, no mercado offshore, o dólar subia para 6,8694 yuans no fim da tarde.