Julgamento dos 'Canibais de Garanhuns' é adiado

O advogado de Jorge Beltrão Negromonte da Silveira apresentou atestado médico e não compareceu ao júri

sex, 23/11/2018 - 10:29
Chico Peixoto/LeiaJáImagens/Arquivo Chico Peixoto/LeiaJáImagens/Arquivo

Estava marcado para esta sexta-feira (23) o julgamento do trio que ficou conhecido como os "Canibais de Garanhuns”, mas por conta da ausência do advogado de Jorge Beltrão Negromonte da Silveira e dos advogados das outras duas rés abandonarem o plenário o júri foi adiado para o dia 14 de dezembroGiovanni Martinovich, advogado de Jorge, apresentou atestado médico e não compareceu.

O acusado, Isabel Cristina Pires da Silveira e Bruna Cristina Oliveira da Silva são réus pelo assassinato, ocultação e vilipêndio de cadáver de duas mulheres em 2012. As vítimas foram Alexandra da Silva Falcão, de 20 anos, e Gisele Helena da Silva, 31. Ambos os crimes teriam ocorrido na residência dos acusados, no bairro Jardim Petrópolis, em Garanhuns, Agreste de Pernambuco.

O júri estava marcado para começar às 9h no Fórum Desembargador Rodolfo Aureliano, área central do Recife. Por conta da ausência de Martinovich o juiz Ernesto Bezerra Cavalcanti determinou o desmembramento do processo, com o julgamento de Jorge sendo adiado, mas o das demais ocorrendo ainda nesta sexta-feira.

Contrários à decisão, os advogados de defesa de Bruna Cristina pediram que a nova data valesse para os três réus, alegando que Jorge é o mentor do crime e seria importante a presença dele, mas o juiz indeferiu. Em seguida, os advogados de Isabel Cristina solicitaram que fosse feito um incidente de insanidade mental na sua cliente, mas o pedido também foi indeferido. Com as negativas, os advogados abandonaram a sessão e o juiz se viu obrigado a adiar o julgamento dos três acusados.

"O adiamento de Jorge prejudica a nós. Então há nada, nenhum problema se for adiado o de todos para o dia 14", argumentou o advogado de defesa de Bruna, Rômulo Lyra. "Estamos buscando a melhor defesa para a nossa cliente. Não vamos deixar ela participar de um julgamento onde a maior tese defensiva dela não está presente, que é o interrogatório de Jorge", complementou Madson Aquino, que faz a defesa de Isabel. Madson explicou o pedido de laudo psiquiátrico: "Eu fiz o requerimento de novo laudo psiquiátrico porque o laudo realizado há cerca de três anos é em relação ao momento do fato. Hoje pedimos a instauração do incidente de insanidade mental com relação à situação dela hoje. A gente não consegue conversar com Isabel a ponto que ela consiga concatenar ideias para fazer sua audefesa. A gente tem certeza que ela tem algum distúrbio psíquico".

O Ministério Público criticou a atitude dos advogados de abandonar o plenário. "Eu tenho 30 anos de carreira e nunca tinha visto uma coisa dessa. Os doutores se habilitaram nos autos há muito mais de um ano, conhecem o processo. Que atitude mais impensada. Demonstra um total despreparo para o exercício da profissão", opinou o promotor André Rabelo. 

Antes de encerrar, o juiz Ernesto Bezerra Cavalcanti solicitou que a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) investigue a conduta dos advogados que deixaram a sessão. O magistrado também vai oficiar o MPPE para instaurar procedimento visando apurar as possíveis responsabilidades sobre o gasto do erário público com o julgamento que não ocorreu. A Defensoria Pública também será intimada para que esteja presente no próximo julgamento com o objetivo de que, caso os advogados abandonem mais uma vez, ela assuma. 

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Crime

Segundo a denúncia do Ministério Público de Pernambuco (MPPE), a morte de Gisele Helena da Silva ocorreu no dia 25 de fevereiro de 2012. Ela teria sido atraída para a casa dos acusados por Isabel, sob o pretexto de ouvir conselhos e falar da "Palavra de Deus". Gisele estava de costas quando foi atingida por um golpe de faca na garganta desferido por Jorge Negromonte.

Ela teria sido esquartejada no banheiro por Jorge e Bruna. Conforme os autos, partes do corpo foram armazenados para consumo dos acusados para o que eles diziam ser um "ritual de purificação". O resto do corpo foi enterrado no quintal da residência em um buraco previamente aberto por Jorge com esse intuito. Eles ainda teriam subtraído os pertences da vítima, como carteira de trabalho, CPF e cartões de créditos, utilizados para realização de compras no comércio local. Através das compras, a polícia conseguiu chegar até o trio.

O assassinato da outra vítima, Alexandra da Silva Falcão, segundo o MPPE, ocorreu no dia 12 de março de 2012. Ela teria sido chamada por Bruna para trabalhar como babá de uma criança que ela apresentava como filha. Isabel ficou à espreita para garantir a execução do plano. Enquanto conversava com Bruna, a vítima foi atingida por um golpe de faca na garganta desferido por Jorge. A mulher também foi arrastada para o banheiro e esquartejada por Jorge e Bruna, tendo parte do corpo servido de alimento e outra parte enterrada.

Os Canibais de Garanhuns serão julgados por duplo homicídio triplamente qualificado - cometidos mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe; com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum; e à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa da vítima -, e também por ocultação e vilipêndio de cadáver e furto qualificado. Jorge e Bruna respondem ainda por estelionato. Bruna também será julgada pelo crime de falsa identidade.

Em 2014, os réus já foram condenados por homicídio quadruplamente qualificado, vilipêndio e ocultação de cadáver contra Jéssica Camila da Silva Pereira. O crime foi cometido contra Jéssica Camila da Silva Pereira em Olinda, no Grande Recife. Jorge foi condenado a 21 anos e 6 meses de reclusão mais um ano e seis meses de detenção. Isabel Cristina foi condenada a 19 anos de reclusão e um ano de detenção. A ré Bruna Cristina, a 19 anos de reclusão e um ano de detenção.

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