WikiLeaks denuncia chantagem com fotos e vídeos de Assange
Assange também é questionado por tentar influenciar as eleições de 2016 nos Estados Unidos e o processo de independência catalã em 2017
O WikiLeaks denunciou nesta quarta-feira que está sendo chantageado por pessoas que obtiveram imagens de seu fundador, Julian Assange, dentro da embaixada do Equador em Londres a partir de câmeras de segurança instaladas na embaixada.
Kristinn Hrafnsson, editor-chefe do WikiLeaks, acusou as autoridades equatorianas de guardar milhares de fotografias e vídeos que pararam nas mãos de um grupo de pessoas na Espanha que estão pedindo três milhões de dólares (2,7 milhões de euros) em troca de não publicá-las.
Hrafnsoon disse ter se encontrado com esses "personagens questionáveis" há dez dias na Espanha e, embora não fale espanhol e teve que recorrer a um tradutor disse acreditar que são de origem latino-americana.
Os documentos incluem milhares de fotografias e gigabytes de vídeos nos quais Assange, de 47 anos, é visto se encontrando com advogados e outros visitantes e passando por um exame médico.
Afirmando não saber como as imagens saíram do prédio onde o fundador do WikiLeaks vive refugiado desde 2012, Hrafnsson assegurou que a polícia espanhola abriu uma investigação.
No entanto, considerou "muito mais preocupante" que esta tentativa de extorsão "o armazenamento deste material e a espionagem pelo governo equatoriano", que chamou de "ilegal e altamente antiético".
Contactada pela AFP, a embaixada do Equador em Londres limitou-se a afirmar que "não tem comentários" a fazer sobre o assunto.
De acordo com o editor do WikiLeaks, desde que o presidente Lenin Moreno chegou ao poder no Equador, Julian Assange "tem experimentado uma situação como a do Show de Truman", referindo-se ao filme em que o personagem interpretado por Jim Carrey tem toda a sua vida gravada e retransmitida na televisão.
Hrafnsson também acusou a equipe da embaixada de fotocopiar um documento legal pertencente a Aitor Martínez, um dos advogados de Assange.
O WikiLeaks, plataforma que se tornou famosa em 2010 ao divulgar centenas de milhares de documentos americanos classificados, acredita que os Estados Unidos trabalham com o Equador para extraditar Assange.
"Assim, é muito provável que os documentos privados obtidos pela embaixada tenham sido compartilhados com a administração Trump", disse Hrafnsson sem fornecer qualquer prova.
Na semana passada, o Equador descreveu como "insultantes" as declarações do WikiLeaks, segundo as quais Quito teria um acordo com Londres para expulsar Assange.
Na segunda-feira, o chanceler do Equador José Valencia disse que seu país resolverá "no devido momento" se mantém ou retira o asilo diplomático concedido pelo ex-presidente Rafael Correa a Assange.
Na época, Assange enfrentava uma ordem de prisão europeia. A Suécia queria sua extradição por acusações - que não prosperaram - de supostos crimes sexuais.
As autoridades britânicas mantêm um mandado de prisão contra ele por violação de sua liberdade condicional e vão prendê-lo assim que ele deixar a sede diplomática equatoriana.
Com a chegada de Lenín Moreno ao poder mudou o tratamento do Equador dado a Assange.
O ex-aliado de Correa, que revisou praticamente todas as políticas de seu antecessor, incluindo a de aberta crítica aos Estados Unidos, acusa-o de interferir nos assuntos internos do Equador.
Assange também é questionado por tentar influenciar as eleições de 2016 nos Estados Unidos e o processo de independência catalã em 2017.
Moreno, que chegou a considerar Assange uma "pedra no sapato" da diplomacia equatoriana, cortou temporariamente suas telecomunicações em 2018.
Correa também chegou a restringir seu acesso à Internet por um tempo, incomodado com a interferência do australiano.