Psicólogos alertam para o aumento dos casos de suicídio

Profissionais afirmam que atendimento clínico, empatia e acolhimento são determinantes para auxiliar pessoas com depressão. Palestra na UNAMA - Universidade da Amazônia, em Belém, abordou o tema.

por Rosiane Rodrigues seg, 23/09/2019 - 09:50

O curso de Psicologia da UNAMA - Universidade da Amazônia promoveu na quarta-feira (18), em alusão ao Setembro Amarelo, mês de prevenção ao suicídio criado em 2015a palestra "Saúde Mental e Suicídio". O evento, que reuniu mais de 200 pessoas, ocorreu no campus Alcindo Cacela, em Belém.

Nos últimos anos, houve aumento no número de pessoas com diagnóstico de depressão e também no índice de suicídios. Segundo estudo da Organização Pan-Americana da Saúde, em parceria com a Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS Brasil), cerca de 800 mil pessoas se matam todos os anos no mundo. Diante da relevância do assunto, os professores de Psicologia, com apoio do Núcleo de Responsabilidade Social da UNAMA, convidaram profissionais para debater o tema.

Para Ana Carolina Peca, coordenadora de estágio de Psicologia da UNAMA, as demandas para atendimento psicológico estão cada vez maiores. "Há dois anos a nossa demanda semestral era de 400 pessoas; agora são mais de 1.600 pessoas por semestre. É um aumento significativo e isso denota o tamanho do sofrimento das pessoas", afirmou.

Segundo Alessandro Bacchini, coordenador do curso de Psicologia da UNAMA, a comunidade pode contar com o atendimento profissional oferecido pela clínica psicológica da universidade. "Temos acompanhamento voltado para pessoas de baixa renda. Trabalhamos também com plantão psicológico, com grupos vivenciais (com demandas das escolas), rodas de conversas com pais de crianças autistas. Só é cobrada uma taxa simbólica de R$ 10,00, mas quem não tiver condições de pagar a taxa faz uma cartinha e a gente consegue baixar, porque o que importa para a gente é ajudar", disse o coordenador.

A primeira palestrante foi Dorotea Albuquerque Cristo, professora da UNAMA e psicóloga da Sespa (Secretaria de Estado de Saúde), que falou sobre a atenção e o cuidado que as pessoas precisam ter com sinais aparentemente simples, como fazer as coisas que os outros querem só para ser aceito em determinado grupo, mas que podem ser determinantes para o caso de depressão. Segundo a profissional, é preciso que os profissionais de Psicologia ouçam seus pacientes com empatia. Não apenas os psicólogos, mas todos os que estiveram ao lado de pessoas que queiram desabafar algo que está incomodando. 

Márcio Valente, professor de psicologia da UNAMA, falou sobre as pesquisas que fez baseadas no holocausto judeu, durante a Segunda Guerra Mundial. Ele citou que falar o que se vive, ou o que se viveu, é a forma de ressignificar o que a pessoa está sentindo, evitando, assim, a depressão, mas para isso é preciso que alguém esteja disposto a ouvir. “É uma escuta que acolhe aquilo que é tão difícil de perceber, ou seja, aquela pessoa que está próximo a mim está sofrendo. Mais que escutar, é apoiar e ter a atitude de auxiliar a pessoa a procurar ajuda, o que não estamos conseguindo fazer, porque não temos tempo para perceber que algo não está bem”, disse o professor.

A professora Elizabeth Samuel Levy abordou o tema “Será que sofremos mais hoje?". Durante a palestra, ela citou vários motivos que mostram que as pessoas estão sofrendo mais. Segundo ela, síndrome do pânico e neurose de angústia são os casos com maior frequência nas clínicas, e a maioria entre jovens.

José Jacob, empresário paraense, falou sobre a dor que sentiu ao perder sua filha para o suicídio, em 2017. Ele disse que percebeu que tinha algo errado com a filha e tentou buscar ajuda em um retiro de dez dias, no Rio de Janeiro. “No retiro ela teve um surto e tivemos que voltar a Belém. Foi aí que começou o verdadeiro pesadelo, porque na volta, no avião, ela fez um gesto que nunca tinha feito. Pegou minha mão, me abraçou e ficou quietinha ali comigo. Depois que chegamos, no dia seguinte, ela fez outra coisa que nunca tinha feito: bateu na porta do meu quarto e me convidou para tomar café”, disse, com lágrimas nos olhos, ao recordar que na tarde daquele mesmo dia receberia o telefonema de que ela havia se jogado do apartamento onde morava com a avó paterna.

O empresário relatou que precisou vencer o sentimento de culpa e entendeu que precisava fazer algo para ajudar pessoas que passaram por situações parecidas e a tentar evitar que isso se repetisse. José criou o Instituto Ana Carolina, em julho deste ano, que ajuda as pessoas que com depressão ou familiares e amigos das vítimas do suicídio.

Para Enzo Walker, aluno do 8° semestre do curso de Psicologia da UNAMA, a palestra foi importante para mostrar que é preciso ter o autocuidado e o olhar carinhoso com o próximo. “Procure escutar o próximo e, mais importante, procure mostrar que você se importa, que você tem amor e carinho por essa pessoa, porque só assim as relações se fortalecem”, disse o estudante.

Rachel Abreu, antropóloga e membro do Núcleo de Responsabilidade Social da UNAMA, disse que o evento trouxe discussões sobre as causas e consequências do suicídio. Segundo ela, os transtornos não são elementos banais e é extremamente necessário que sejam analisados. "É importante que a academia faça essa discussão, não apenas no Setembro Amarelo, mas ao longo do ano. Que a gente consiga ter uma sensibilidade maior de perceber os nosso alunos, os nossos colegas de trabalho e o nosso mundo para que se evite que algo mais conflitante venha ocorrer com as pessoas que estão ao nosso redor”, concluiu Rachel, ressaltando a satisfação de ver o auditório lotado durante toda a programação.

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