Egito se despede de Mubarak com honras militares

Uma cerimônia oficial acontece na mesquita Al-Mushir Tantaui, ao leste do Cairo, um dia depois de seu falecimento em um hospital da capital, aos 91 anos

qua, 26/02/2020 - 12:16
Khaled DESOUKI Hosni Mubarak, em 29 de setembro de 2010, no Cairo Khaled DESOUKI

O Egito prestará honras militares ao ex-presidente Hosni Mubarak, durante seu funeral nesta quarta-feira (26). Falecido ontem, Mubarak dirigiu o país por quase 30 anos, até deixar o poder em 2011, pressionado pela chamada Primavera Árabe.

Uma cerimônia oficial acontece na mesquita Al-Mushir Tantaui, ao leste do Cairo, um dia depois de seu falecimento em um hospital da capital, aos 91 anos. Ele será enterrado no túmulo familiar de Heliópolis, na parte leste da cidade.

Hoje, um importante dispositivo com veículos blindados foi mobilizado para os arredores da mesquita e do cemitério, observaram jornalistas da AFP.

Vários canhões foram alinhados diante da mesquita para a homenagem militar. Com retratos do ex-presidente e bandeiras egípcias em mãos, admiradores de Mubarak já estão a postos.

Samir Gaafar, de 59 anos, carrega uma foto do ex-presidente, com um texto que denuncia a revolta de 2011. "Venho aqui hoje, já que os pobres deste país ficaram mais pobres depois de Mubarak", disse Samir à AFP.

O país terá três dias de luto nacional a partir de hoje, decretados pelo atual presidente Abdel Fattah al-Sissi. Assim como o falecido presidente, Al-Sissi é um militar à frente de um regime autoritário.

- 'Herói de guerra' -

Na terça-feira à noite, o presidente Al-Sissi saudou Mubarak como um dos "heróis da guerra de outubro de 1973" contra Israel, durante a qual havia dirigido a Força Aérea.

Também foi homenageado por líderes estrangeiros, entre eles o palestino e o israelense.

O ex-presidente islamista Mohamed Mursi, que chegou ao poder em 2012 após a Primavera Árabe e depois foi destituído pelo Exército egípcio no ano seguinte, não mereceu tanto reconhecimento após sua morte em 2019. Seu enterro se deu de forma muito discreta, longe das câmeras.

Mubarak renunciou ao cargo em fevereiro de 2011, após 18 dias de uma revolta sem precedentes contra seu regime, no marco da Primavera árabe, deflagrada no início daquele ano, na Tunísia.

O ex-comandante em chefe, que liderou por 30 anos um regime marcado pelos abusos policiais e pela corrupção, foi o primeiro presidente do país a ser processado. Foi absolvido da maioria das acusações que pesavam contra ele.

Com o passar dos anos, a aversão dos egípcios pelo ex-presidente foi mudando, tornando-se uma espécie de indiferença misturada com nostalgia. Muitos passaram ver em seu mandato um período de estabilidade.

Sua fama de "moderado" no mundo árabe lhe rendeu amigos no Ocidente, incluindo os Estados Unidos, desde então um firme aliado de Egito.

Nesta quarta, o jornal do Estado "Al-Ahram" destacava na primeira página: "Mubarak nas mãos de Deus".

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