Combate ao alcoolismo: dependência destrói vidas

Consumo de álcool, que se intensificou com a pandemia, leva ao vício que mata milhões ao ano, segundo a OMS

por Alfredo Carvalho sex, 19/02/2021 - 15:29
Matheus Montes / LeiaJá Matheus Montes / LeiaJá

O Dia Nacional do Combate ao Alcoolismo, nesta sexta-feira (19), também inicia a Semana Nacional de Combate ao Alcoolismo, que conscientiza a sociedade dos prejuízos que o álcool pode causar à saúde física e psicológica. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o vício alcoólico é responsável por matar cerca de 3 milhões de pessoas ao ano.

Segundo levantamento da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), que entrevistou mais de 12 mil pessoas de 33 países da América Latina e Caribe, onde 30,8% eram brasileiros, o consumo de álcool se intensificou durante a pandemia do coronavírus (Covid-19). O estudo indica que 35% das pessoas com idade entre 30 e 39 anos, passaram a beber com mais frequência, numa média de cinco ou mais doses.

A pesquisa também aponta que dobrou o consumo mensal de bebidas contrabandeadas ou produzidas em casa (como a cerveja artesanal), de 2,2% para 4,9%. De acordo com a entidade, a produção dessas bebidas possui nível exagerado de álcool, que corresponde a riscos de saúde, como intoxicação. Além disso, o estudo também constatou que, durante o isolamento social, a cerveja liderou 48,7% das preferências, contra 29,3% do vinho.

O alcoolismo, assim como a dependência de outras drogas, é uma doença crônica, que atinge o indivíduo como um todo. A psicóloga especialista em dependência química e professora da Universidade Guarulhos (UNG), Alessandra Chrisóstomo, explica que essa enfermidade já foi tratada como uma doença individual, biológica e considerada um desvio de caráter, mas, após diversas pesquisas, foi dado um novo olhar para o problema.

Segundo a psicóloga, é constatado que a dependência alcoólica prejudica funções cerebrais, como atenção, memória e percepção; aspectos psicológicos, entre eles, sentimentos e autoestima; sociais, como destruição de amizades e vida profissional; além de prejudicar a família. "Como uma doença multifatorial, necessita de um olhar sistêmico que atenda a todos estes aspectos, bem como de uma abordagem terapêutica efetuada por equipe multidisciplinar", explica Alessandra.

Durante o tratamento, Alessandra recomenda a inclusão de acompanhamento psiquiátrico junto a medicamentos, psicoterapia, terapia familiar, participação em grupos, como o Alcoólicos Anônimos (AA), e a reconstrução dos projetos de vida, como trabalho, estudo ou alguma atividade prazerosa e saudável. "A família, ou quem efetua este papel, é parte fundamental em todo o processo. Costumo intitular a dependência química de 'a doença dos vínculos', e desta forma, através da terapia familiar, um melhor relacionamento poderá ser restabelecido", afirma.

Durante o procedimento, cabe ao acompanhante estabelecer uma comunicação harmoniosa e determinar os limites do dependente. "Com isso, vínculos mais seguros e saudáveis poderão ser reconstruídos para que este ser humano que está em sofrimento possa ter uma vida plena, com qualidade, e que, finalmente, encontre seu caminho e seja verdadeiramente feliz", orienta.

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