Repressão militar em Mianmar registra primeira morte

Uma mulher foi baleada na cabeça, em NaiPyidó, capital administrativa do país

sex, 19/02/2021 - 14:44
Sai Aung Main Mulher segura cartaz com a imagem da manifestante morta a tiros Mya Thwate Thwate Khaing, durante protesto contra o golpe militar, em Yangon, Mianmar, em 19 de fevereiro de 2021 Sai Aung Main

A repressão dos militares birmaneses aos manifestantes que protestavam contra o golpe fez sua primeira vítima fatal nesta sexta-feira (19), com a morte de uma mulher por um disparo.

Mya Thwate Thwate Khaing foi baleada na cabeça em 9 de fevereiro, em uma manifestação contra o golpe de Estado, em NaiPyidó, capital administrativa de Mianmar. Os confrontos explodiram nessa data, quando as forças de segurança começaram a atirar balas de borracha contra os manifestantes.

Os médicos do hospital da cidade disseram à AFP que pelo menos duas pessoas foram gravemente feridas por balas reais: uma delas, a jovem que faleceu nesta sexta.

Boa parte do país se rebelou quando a junta militar derrubou a então chefe do governo civil, Aung San Suu Kyi, em 1º de fevereiro. Desde então, ela é mantida em prisão domiciliar.

A organização dAmnistia Internacional concluiu, após análise das imagens à sua disposição, que “a polícia alvejou de forma imprudente os manifestantes”.

A irmã da menina, Poh Poh, lançou um apelo emocionado aos jornalistas: "Por favor, juntem-se ao movimento de protesto para que triunfe."

“Eles podem derrubar uma jovem, mas não podem roubar a esperança e a determinação de um povo determinado”, escreveu no Twitter o enviado especial da ONU para os direitos humanos em Mianmar, Tom Andrews.

As cerimônias fúnebres da jovem serão no domingo.

- Sanções internacionais -

As pressões se multiplicaram sobre os militares, que até agora ignoraram as inúmeras condenações e sanções internacionais.

O Reino Unido, uma ex-potência colonial, anunciou na quinta-feira (18) que aplicará sanções a três generais birmaneses por "graves violações dos direitos humanos".

O Canadá, por sua vez, punirá nove oficiais militares birmaneses e acusou a junta de ter realizado "uma ação sistemática de repressão por meio de medidas legislativas coercitivas e do uso da força".

O chefe da junta, general Min Aung Hlaing, tornou-se um pária internacional, após a ofensiva contra os muçulmanos rohingya em 2017.

Na semana passada, o presidente americano, Joe Biden, anunciou que Washington bloqueará o acesso dos generais a um fundo de US$ 1 bilhão nos Estados Unidos.

- Cortes de Internet -

Apesar da dura repressão, continuam as convocações de desobediência civil com inúmeras manifestações e greves no país.

Mianmar sofreu cortes de Internet pela quinta noite consecutiva, informa uma entidade especializada instalada no Reino Unido, acrescentando que houve uma retomada do serviço nesta sexta, às 9h locais.

Nesse horário, centenas de pessoas já estavam reunidas nas grandes avenidas de Yangon, a maior cidade do país, com retratos de Aung San Suu Kyi nas mãos, e clamando por "liberdade para nossa líder".

Na remota região de Sagaing, os manifestantes marcharam pela cidade de Monywa, com três dedos das mãos levantados, símbolo de rebelião.

A junta continua prendendo aliados da ex-chefe de governo, assim como funcionários que participam do movimento de protesto.

A Associação de Ajuda a Presos Políticos (AAPP), com sede em Yangon, relatou mais de 520 detenções desde o golpe militar de 1º de fevereiro.

Os militares justificam seu golpe, alegando que houve fraude nas eleições legislativas de novembro vencidas, em massa, pela Liga Nacional para a Democracia (LND), o partido de Aung San Suu Kyi.

A ganhadora do Prêmio Nobel da Paz, de 75 anos, que não é vista desde sua prisão domiciliar, está sendo acusada por motivos não políticos, como a importação ilegal de walkie-talkies e de ter violado "a lei sobre a gestão de catástrofes naturais". Deve comparecer à Justiça em 1º de março.

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