Calma precária na África do Sul após semana de incidentes
África do Sul teve uma semana de distúrbios e saques
Após uma semana de distúrbios e saques na África do Sul, que o presidente descreveu como uma tentativa orquestrada de desestabilização, o país recupera neste sábado (17) uma calma precária, enquanto as operações de limpeza continuam.
Nos arredores da cidade Durban, às margens do oceano Índico, junto a um muro pintado com uma frase que dizia "Free Zuma", havia uma pilha de escombros retirados de um shopping incendiado, observaram jornalistas da AFP no local.
Sikhumukani Hongwane, um guarda de segurança, estava trabalhando quando o local foi atacado no domingo passado. Ele explica que viu uma multidão queimando uma garagem próxima e fugiu. "Temos medo inclusive agora", admitiu.
Os primeiros incidentes de queima de pneus e bloqueios de estradas começaram na semana passada na província de Kwazulu-Natal (KZN, leste), devido à prisão do ex-presidente Jacob Zuma por desacato.
Armazéns, fábricas e shoppings foram atacados e a violência se espalhou para Joanesburgo, a maior cidade do país, no contexto de um grande desemprego e de novas restrições pela covid-19.
No total, 212 pessoas morreram e mais de 2.500 foram detidas.
No entanto, após uma semana de alguns dos piores incidentes desde a fundação desta jovem democracia, parecia prevalecer uma tranquilidade frágil, sem incidentes em Joanesburgo ou Kwazulu-Natal, de maioria zulu.
"Com o pretexto da política, os autores desses atos tentaram provocar uma insurreição popular", disse o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa.
Vários funcionários do governo acusam abertamente os partidários de Zuma de organizarem os ataques. A polícia está investigando 12 suspeitos.
Na província de Kwazulu-Natal já eram perceptíveis os efeitos da destruição de centenas de comércios. Também há problemas de abastecimento após dias de bloqueio do transporte. A estrada que une Joanesburgo e Durban só reabriu neste sábado, sob estreita vigilância das forças de segurança.
Alguns moradores disseram que ficaram sem pão e distribuições de alimentos foram organizadas.
"Estamos enviando alimentos aos hospitais que não tinham nada para dar aos seus pacientes", disse à AFP Imitiaz Sooliman, da associação Gift of the Givers, explicando que os comboios são escoltados por homens armados.
As autoridades foram muito criticadas pela lentidão em reagir e por não terem impedido a violência.
O chefe de Estado reconheceu que o governo estava "mal preparado", mas prometeu que os responsáveis seriam punidos: "Não permitiremos que ninguém desestabilize nosso país e saia impune".
Cerca de 10.000 soldados foram enviados para apoiar a polícia, com efetivos insuficentes e acusada de corrupção. Essa quantidade pode aumentar para até 25.000 nos próximos dias.