Mesas vazias e prejuízo após ataque de tubarão em Piedade
Além dos prejuízos causados pela pandemia da Covid-19, barraqueiros e autônomos da área da 'igrejinha' enfrentam uma nova queda de clientes após o ataque que vitimou um banhista de 51 anos, no último dia 10
Frente ao mar mais perigoso do Litoral de Pernambuco, comerciantes e barraqueiros próximos à igrejinha, na praia de Piedade, em Jaboatão dos Guararapes, Região Metropolitana do Recife (RMR), já sentem o prejuízo após o ataque de tubarão do último dia 10, que resultou na morte de um banhista de 51 anos. Após meses sem clientes por conta dos decretos restritivos da Covid-19, a incerteza dos trabalhadores se intensifica diante das mesas vazias que voltaram a tomar a faixa de areia.
"Quando não tem ataque, uma hora dessa os bares já estão todos cheios", lamenta Marli Alves, em uma manhã de trabalho pouco movimentada. Barraqueira há 30 anos na região, a trabalhadora tem experiência para contornar os impactos causados pelo predador: ela estima o prazo de aproximadamente 30 dias "até a poeira baixar" e os consumidores "esquecerem" do ocorrido.
Dos 66 incidentes - e 26 óbitos - com tubarão em Pernambuco notificados pelo Comitê Estadual de Monitoramento de Incidentes com Tubarões (CEMIT) nos últimos 29 anos, 13 ocorreram no local. O principal risco da área é a falta de barreiras naturais que impeçam a proximidade do animal com os banhistas. Contudo, o fator mais agravante relacionado aos ataques em Piedade é o desrespeito dos próprios frequentadores às placas de sinalização e aos alertas dos agentes do Grupamento de Bombeiros Marítimo (GBMar).
Após dois anos como barraqueiro, Fábio do Nascimento desistiu da função e investe em piscinas infláveis para que os visitantes evitem entrar no banho de mar. Ele aponta que a alta da maré costuma potencializar os aluguéis. "Quando o mar enche é que eu consigo mais clientes. Com a maré baixa, as crianças ainda descem, mas quando a maré está cheia, a gente vende mais um pouquinho", comentou.
O fato é que a maré cheia, aliada ao período de inverno, quando as águas ficam mais turvas, facilita a presença de tubarões no raso. O vendedor de espetinho Laércio Silva tem um ponto na praia há 22 anos e ressalta que o período que vai até meados de setembro é o de menor clientela.
Para os comerciantes, faltam políticas públicas para controlar a incidência de tubarões no região. Porém, o mar é o habitat natural do predador, que passou a migrar com mais frequência para as praias mais movimentadas da RMR após o início das construções do Porto de Suape, no Cabo de Santo Agostinho, em 1983.
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Procurada pelo LeiaJá, a Prefeitura do Jaboatão dos Guararapes calcula que, pelo menos, 335 comerciantes cadastrados sobrevivem da movimentação na orla do município. A administração acrescenta que atua junto tanto dos trabalhadores registrados, quanto dos autônomos, na conscientização dos riscos do banho de mar na localidade. Em nota, a gestão reiterou que conta com apoio do Corpo de Bombeiros na fiscalização e intervenções preventivas.