Cerca de 10% das salas de cinema fecharam na pandemia

Especialista em mercado audiovisual explica que pandemia potencializou a crise, mas não é única responsável pela situação atual

por Rafael Sales ter, 28/09/2021 - 21:51
Pixabay/Alfred Derks Pixabay/Alfred Derks

De acordo com os dados da Associação Brasileira das Empresas Exibidoras Cinematográficas Operadoras de Multiplex (Abraplex), cerca de 10% das salas de cinema fecharam as portas de vez durante a pandemia de Covid-19. Dentro desse número, estão incluídos também cinemas de rua, como foi o caso do Espaço Itaú de Cinema, que anunciou o fechamento das unidades em Curitiba e Porto Alegre em virtude de uma adaptação em digitalização dos filmes. Assim, abre-se a discussão sobre o quanto a pandemia foi um agravante nesse processo, e se realmente o fechamento de salas de cinema pode se tornar uma tendência.

De acordo com o professor e doutor em comunicação Bruno Tavares, existe uma propensão de os espectadores estarem cada vez mais interessados nas possibilidades que o streaming oferece e, por conta disso, as salas de cinema vão precisar se reinventar. “A gente vem observando nesses últimos dias que o fechamento das salas de cinema, principalmente cinema de rua, é um reflexo da economia”. Tavares comenta que é natural acontecer o fechamento das salas por conta dos aluguéis, além dos altos custos de manutenção dos espaços, justamente em um momento de diminuição no número de espectadores.

Vale lembrar que a pandemia de Covid-19 também ampliou a experiência do streaming, mas o especialista também lembra que um dos principais erros que a indústria cinematográfica cometeu e ainda comete é o de não distribuir muitos filmes voltados para o público infantil. “Se não forem criados determinados hábitos, uma criança quando for adolescente e adulto vai ter outros costumes, como consumir filmes dentro de casa. Ela nunca teve a experiência de uma sala de cinema e isso nunca vai fazer falta para ela”. E assim, intensifica-se aquilo que as novas gerações já estavam vivenciando: a comodidade em poder escolher o conteúdo que quer assistir, sem sair de casa.

É importante dizer que o fator econômico não afeta apenas a indústria cinematográfica, mas atinge também o consumidor, já que muitas vezes o preço do ingresso não vale a pena em relação à assinatura de uma plataforma de streaming, onde você pode assistir conteúdo ilimitado com a sua família. Tavares afirma que diante desse cenário, a indústria do audiovisual precisa entender o fenômeno que ocorre no mundo, para criar estratégias de forma a trazer um novo público aos cinemas. Caso contrário, o público que frequenta as sessões presenciais, que  tende a ser um público mais velho,  vai diminuir significativamente e desaparecendo com o passar do tempo.

Os grandes cinemas vão acabar?

Para o especialista em comunicação, ainda que possam existir diversos fatores sociais e econômicos que implicam diretamente na forma como o público consome cinema, a tendência é que as salas de cinema continuem existindo, mesmo com a digitalização dos filmes. “Toda vez que a gente tem uma nova tecnologia acaba assustando, e existem vários exercícios de 'futurologia' que afirmam que determinada mídia vai desaparecer. Isso aconteceu com o cinema na chegada da televisão. Também aconteceu com o rádio e com o jornal impresso”. Tavares reforça dizendo que é bem possível que haja uma convivência entre as duas mídias.

Mas ele relembra que para a indústria cinematográfica sobreviver, é importante adotar algumas medidas, como uma curadoria de conteúdo, além de pesquisas que possam indicar quais as tendências no mercado, para assim, poder mapear e oferecer uma diversidade de conteúdo que um grande público tenha preferência. Tavares conta que a questão do custo x benefício também precisa ser revista, já que o preço da pipoca, refrigerante e estacionamento costumam sair mais caro que o próprio ingresso, o que afasta do cinema s classes mais baixas, como a C e D. É preciso rever a estratégia, a fim de realmente tornar a experiência de ir ao cinema em um grande evento para todos. 

 

 

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