Alemanha anuncia restrições rígidas aos não vacinados

Embora os números tenham se estabilizado nos últimos dias, eles permanecem alarmantes, com dezenas de milhares de novos casos todos os dias

qui, 02/12/2021 - 14:11
JOHN MACDOUGALL / POOL / AFP Angela Merkel e Olaf Scholz JOHN MACDOUGALL / POOL / AFP

A Alemanha decidiu nesta quinta-feira(2) aumentar as restrições a pessoas não vacinadas contra a covid-19, para tentar conter uma quarta onda de infecções, enquanto o consenso sobre a vacinação obrigatória cresce.

“A situação é muito, muito complicada”, disse o futuro chanceler Olaf Scholz, após um encontro com a líder do governo em final de mandato, Angela Merkel, e com os líderes das 16 regiões do país.

Embora os números tenham se estabilizado nos últimos dias, eles permanecem alarmantes, com dezenas de milhares de novos casos todos os dias e muitos hospitais à beira do colapso.

Para lidar com as infecções, as autoridades decidiram aplicar restrições a pessoas não vacinadas, que representam cerca de um terço da população.

- Sem fogos de artifícios -

“Vamos organizar atividades culturais e de lazer em toda a Alemanha, mas apenas para pessoas vacinadas ou recuperadas” da covid-19, disse Merkel, que deixa o poder no dia 8 de dezembro após 16 anos no comando do país.

Essa regra chamada “2G”, em referência a pessoas vacinadas ou recuperadas, “também será estendida ao comércio, com exceção de lojas de produtos básicos”, disse a chanceler.

Essas restrições drásticas no acesso à vida social para os não vacinados foram descritas por vários líderes políticos como um "confinamento".

Pessoas não vacinadas já estão sujeitas a restrições de acesso às vias públicas há várias semanas, mas as regras variam e não cobrem todas as regiões do país.

Para evitar multidões nas festividades de final de ano, o governo e as regiões também proibiram fogos de artifício, muito populares entre os alemães.

Clubes e boates terão que fechar se o marco dos 350 casos for ultrapassado, o que já aconteceu na maioria das regiões. O uso de máscaras voltou a ser obrigatório nas escolas do país.

Essas medidas buscam melhorar a situação nas próximas semanas, antes de uma votação sobre a obrigatoriedade das vacinas. A medida já foi adotada pela vizinha Áustria, onde poderá entrar em vigor em fevereiro, após a manifestação do Conselho de Ética e a votação do Parlamento.

A opinião pública evoluiu significativamente neste assunto. No verão passado, dois terços dos alemães eram contra as vacinas obrigatórias, agora 64% são a favor, de acordo com uma pesquisa da RTL e da ntv. Nas ruas de Berlim, a vacinação obrigatória tem uma recepção bastante favorável.

“A princípio, sempre acho que obrigar é delicado. Mas acho que já estamos tão afundados na pandemia que não há outra maneira” , explicou Clara à AFPTV.

"Teria sido uma boa ideia desde o início", concordou Alicia Münch.

- "Ameaçador e grave" -

A medida convence os dois aliados da coalizão dos social-democratas (os verdes e os liberais, que costumam ser contra o corte das liberdades), e também os conservadores de Angela Merkel, atualmente na oposição. Apenas o partido de extrema direita AfD se opõe e lançou uma campanha com o slogan "Vacinação obrigatória? Não, obrigado!".

O contexto é agravado pelo atual período de transição na Alemanha, com a saída de Angela Merkel, que fará um discurso de despedida na quinta-feira, e a entrada de Scholz, cujas eleições parlamentares só ocorrerão na próxima semana.

As restrições promovidas pela nova coalizão devem mostrar, segundo o futuro chanceler, que "não há vazio de poder, como alguns acreditam".

A Bundesliga deve impor um limite ao número de espectadores nos estádios, evitando assim o retorno aos jogos em recintos fechados.

“Do ponto de vista da medicina intensiva e de emergência, a situação da pandemia nunca foi tão ameaçadora e grave como agora”, alarma-se a Associação Alemã de Medicina Intensiva, que pede um confinamento parcial da população.

As autoridades alemãs também são criticadas por gargalos no acesso à vacinação e dificuldades para marcar consultas médicas.

Farmácias serão mobilizadas para ampliar a distribuição.

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