Terreiros de Umbanda sofrem onda de vandalismo em SP

Casas de culto estão sendo destruídas após a presença de um carro com placa adulterada. Líderes religiosos contam que se sentem desamparados pelo Poder Público

qui, 02/12/2021 - 09:25
Rafael Bandeira/LeiaJáImagens/Arquivo Terreiro se prepara para distribuir doces no dia de Cosme e Damião Rafael Bandeira/LeiaJáImagens/Arquivo

O município de Sumaré, no Interior de São Paulo, sofre uma onda de intolerância religiosa contra terreiros de Umbanda. Três casas foram vandalizadas desde setembro e fieis estão apreensivos pela falta de uma atuação mais contundente do Poder Público.

Imagens quebradas e roupas de santo rasgadas junto com peles de tambores utilizados nas giras (cultos) descrevem o rastro de destruição deixado nas casas pelos criminosos. As informações são da Folha de S. Paulo.

"Sumaré está esperando um corpo de um pai ou uma mãe de santo estendido no meio do terreiro, com um tiro no peito, para selar a intolerância religiosa e o racismo religioso", afirmou Fabiana Cavalcanti, dirigente da Casa de Caridade Pai João de Oyó, que fala pela maioria dos pais e mães de santo da cidade. 

Em um intervalo de 90 dias, o primeiro ataque ocorreu na madrugada de 11 de setembro, no Terreiro Oxalá e Iemanjá, no Jardim Bela Vista, onde até o relógio de energia foi arrancado do poste. Menos de um mês depois, na manhã do dia 7 de outubro, o alvo foi a casa espiritual Pai João da Guiné, no Jardim Picerno. O terceiro local foi depredado no início de novembro, mas não chegou a ser invadido. Teve a fachada vandalizada e o toldo removido.

Os relatos convergem sobre a presença de um Chevrolet Corsa, que costuma rondar os terreiros antes dos ataques. A placa foi levantada e consta como um modelo Meriva. "Vários pais e mães reclamaram sobre isso. Disseram que ele passa bem devagar, tira várias fotografias e sai cantando pneu. Estamos bem apreensivos", comentou Fabiana.

Devido ao medo de novos ataques, religiosos começaram a vigiar as casas na tentativa de identificar os criminosos. "Cada casa coloca um dos filhos para vigiar a entrada. É perigoso, mas orientamos para apenas tentar tirar fotos e filmar", apontou a representante.

Os pais e mães de santo destacam que procuraram políticos locais desde a primeira invasão e acionaram o Ministério Público, mas nenhuma ação foi percebida na prática e eles ainda teme pela insegurança.

"É dever do Estado proteger o cidadão e a casa de oração, seja ela católica, evangélica, budista, kardecista, seja de matriz africana. Sentir esse racismo religioso, essa intolerância religiosa comendo a gente vivo, deixa a gente bastante chateado", critica Fabiana.

O Ministério Público comunicou que um inquérito foi instaurado, mas não sabe a quantidade de boletins relacionados à intolerância religiosa que foram registrados desde o ano passado. A justificativa é que o Departamento de Polícia Judiciária de São Paulo ainda não repassou as informações.

Na quinta (25), o presidente da Câmara Municipal, o vereador William Souza (PT), encaminhou ofícios à Secretaria Municipal de Segurança Pública, ao comandante do 48º Batalhão da Polícia Militar do Interior e ao delegado de Sumaré.

A Secretaria de Segurança Pública do Estado confirmou a investigação no 2º Departamento de Polícia de Sumaré do caso ocorrido em outubro. "A unidade também investiga um fruto de fios em um centro espírita ocorrido em 11 de setembro. Diligência prosseguem visando a identificação dos autores de ambos os delitos. Quanto ao B.O registrado pela Delegacia Eletrônica, o mesmo foi indeferido por divergências nos dados", complementou.

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