O retorno dos moradores após o horror de Bucha

Massacre em Bucha chocou o Ocidente

sex, 08/04/2022 - 11:20
Ronaldo Schemidt Padres rezam em vala comum em Bucha, Ucrânia Ronaldo Schemidt

Quando começaram os primeiros bombardeios russos em Bucha, Hanna Predko fugiu da cidade com seus três filhos. Ela voltou na quinta-feira, "feliz" que o exército ucraniano tenha recuperado esta cidade perto de Kiev, onde dezenas de corpos foram encontrados no fim de semana.

"Estamos muito felizes que nossas forças armadas conseguiram expulsar esses bastardos", exclama Hanna, de 31 anos. "Agora todo mundo conhece esse lugar, infelizmente por um preço alto", acrescenta.

Em 24 de fevereiro, ela decidiu fugir para o oeste da Ucrânia com seus três filhos. Sua mãe, Natalia Predko, de 69 anos, também partiu durante uma operação de retirada de civis, quando a cidade já estava ocupada pelas tropas russas. Seu marido quis ficar.

Na área circundante, os combates não cessaram até que, no final de março, soldados russos se retiraram da cidade, deixando para trás dezenas de corpos, alguns com as mãos amarradas nas costas.

Na quinta-feira, Hanna voltou para Bucha com a mãe e, em frente à prefeitura, abriu o porta-malas de seu carro cheio de comida para entregar aos moradores.

Nesse dia, um funcionário municipal colocou a bandeira ucraniana no telhado da prefeitura pela primeira vez desde o fim da ocupação da cidade pelos russos.

Cidade em ruínas

"Estou muito, muito feliz por voltar e ver nossa bandeira nacional após a libertação de nossa cidade pelo exército ucraniano. Glória à Ucrânia!", diz Natalia, olhando a bandeira azul e amarela.

Ela também está feliz por ter reencontrado seu marido, são e salvo. "Planejamos ficar aqui", diz a filha.

"Muitos amigos meus moram no exterior, tínhamos a possibilidade de partir. Mas decidimos voltar, mesmo com a cidade em ruínas", explica a jovem.

Em uma praça em frente à prefeitura, jovens voluntários distribuem alimentos. Dezenas de habitantes, a maioria idosos, recolhem o que precisam.

Caminham devagar, puxando um carrinho ou carregando sacolas plásticas cheias de comida.

Para chegar a Bucha, Boris Biguik, de 63 anos, decidiu pegar a bicicleta. Ele quer ver a casa de seu filho, um policial da região que não estava lá quando a cidade foi tomada pelos russos.

Boris mora ao lado, na cidade de Vorzel, que também foi ocupada por um mês pelas tropas russas. "O toque de recolher acabou hoje. Então resolvi vir consertar a porta da casa do nosso filho porque os vizinhos diziam que estava quebrada. Os russos roubaram tudo da casa, quebraram as portas e janelas", conta.

O ex-policial, que em tempos normais mora em Kiev, estava em Vorzel com sua esposa para descansar após uma cirurgia. "Eu não podia lutar", explica.

Quando os bombardeios começaram, foi impossível retornar à capital. Uma noite, diz ele, o filho de um vizinho morreu "porque os russos equipados com câmeras térmicas lançaram granadas de drones em todos que saíram".

Há uma semana, quando os soldados russos partiram, "pegaram tudo o que podiam. Saquearam tudo, os seus veículos blindados estavam cheios de coisas roubadas".

Martin Griffiths, subsecretário-geral da ONU para Assuntos Humanitários, visitou brevemente a cidade.

"O mundo está profundamente chocado" com os crimes cometidos, particularmente em Bucha, disse. "A próxima etapa é conduzir uma investigação", acrescentou.

Em frente a uma vala comum perto de uma igreja branca, o arcebispo Sviatoslav Shevchuk, chefe da Igreja Greco-Católica Ucraniana, reza.

"Aqui vimos o genocídio do povo ucraniano", comentou à AFP. "Rezamos porque o juiz mais importante é Deus, mas a justiça deve ser feita também aqui. Caso contrário, se não condenarmos esse crime, ele se repetirá", acrescenta.

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