Talibã exige que mulheres usem véu que cubra corpo e rosto
Desde que voltou ao poder, o Talibã tomou medidas contra as mulheres, como excluí-las dos empregos públicos ou proibi-las de viajar sozinhas
O Talibã deu um passo importante na restrição das liberdades das mulheres ao determinar, neste sábado (7), que as afegãs usem em público um véu que as cubra da cabeça aos pés, de preferência uma burca, símbolo da opressão no país.
Em um decreto publicado neste sábado, Hibatullah Akhundzada, chefe supremo do Talibã e do Afeganistão, ordenou que as mulheres cubram completamente seus corpos e rostos em público, dizendo que a burca é a melhor opção.
"Terão que usar um xador [termo usado para a burca] porque é tradicional e respeitoso", ordena.
"As mulheres que não são nem muito jovens nem muito velhas terão que cobrir o rosto quando estiverem na frente de um homem que não seja membro de sua família", para evitar provocações, especifica o texto.
Se não tiver algo importante para fazer fora, é "melhor que fiquem dentro de casa", acrescenta.
O decreto também detalha as punições a que estão expostos os chefes de família que não impuserem o uso do véu integral.
Desde o retorno do grupo fundamentalista islâmico ao poder em meados de agosto, o temido Ministério para a Promoção da Virtude e Prevenção do Vício publicou várias ordens sobre como as mulheres devem se vestir. Mas este é o primeiro decreto nacional sobre o assunto.
Até agora, o Talibã exigia que as mulheres usassem pelo menos um hijab, um véu que cobre a cabeça, mas deixa o rosto descoberto, enquanto recomendava o uso da burca.
O Talibã impôs o uso da burca durante seu primeiro regime, entre 1996 e 2001, durante o qual conduziu uma forte repressão aos direitos das mulheres, de acordo com sua rigorosa interpretação da "sharia", a lei islâmica.
Na época, os agentes do Ministério da Promoção da Virtude açoitavam as mulheres flagradas sem a burca.
Promessas não cumpridas
De volta ao poder em agosto, ao final de duas décadas de presença militar dos Estados Unidos e seus aliados no país, o Talibã prometeu estabelecer um regime mais tolerante e flexível.
Mas rapidamente tomou medidas contra as mulheres, como excluí-las dos empregos públicos ou proibi-las de viajar sozinhas, liberdades que conquistaram nos últimos 20 anos e que rapidamente desapareceram.
Em março, após meses prometendo que permitiria a educação para as meninas, o Talibã ordenou o fechamento das escolas do ensino médio femininas, poucas horas depois de abrirem suas portas.
Essa mudança inesperada de atitude, que justificou argumentando que a educação das meninas deveria ser feita em conformidade com a sharia, escandalizou a comunidade internacional.
O Talibã também impôs a separação entre homens e mulheres nos parques públicos de Cabul, com dias de visita alocados para cada sexo.
Também em março, os islamistas ordenaram às companhias aéreas no Afeganistão que impedissem as mulheres de voar a menos que acompanhadas por um parente do sexo masculino.
Dias depois, membros do Talibã em Herat, a cidade mais progressista do Afeganistão, pediram aos instrutores de autoescola que não emitissem licenças para mulheres, que tradicionalmente dirigem nas grandes cidades do país.
Após a chegada do Talibã, as mulheres tentaram preservar seus direitos manifestando-se em Cabul e outras grandes cidades. Mas seus protestos foram violentamente reprimidos e muitas mulheres afegãs foram detidas por semanas.