Curso de formação busca ampliação do número de doulas

“A Arte de Doular” é o primeiro curso de formação de acompanhantes da gestação e educadoras perinatais da Amazônia e visa ao crescimento de profissionais da área

seg, 13/06/2022 - 16:52
Arquivo pessoal Danielle Souza, naturopata, e Marluce Araújo, doula Arquivo pessoal

O apoio emocional e psicológico durante as diversas fases que envolvem a gestação é fundamental, especialmente na vida da mulher, visto que as mudanças são incontáveis. Com o objetivo de oferecer auxílio, confiança e conforto à parturiente e à sua família, as doulas acompanham a gravidez, o parto e o puerpério, 

Pensando nisso, a Amazônida Produtora e o Coletivo MãeDalas criaram o primeiro curso de formação para doulas e educadoras perinatais da Amazônia, reconhecido pelo Ministério da Educação (MEC) e com estágio supervisionado na rede do Sistema Único de Saúde (SUS). O curso, presencial, tem estrutura curricular essencialmente regional, para uma formação humanizada das raízes amazônicas, valorizando os profissionais técnicos da área da saúde local e os conhecimentos tradicionais das mestras de saberes populares e das parteiras que ainda vivem nos interiores do Estado.

O curso “A Arte de Doular” é realizado a partir das diretrizes da Federação das Doulas do Brasil e é certificado pelo MEC. Segundo a doula Marluce Araújo, uma das idealizadoras, o curso de formação surge com o objetivo de ampliar o número de doulas e mostrar o papel e a importância dessas profissionais na gestação, parto e puerpério. Além disso, é uma forma de incentivo para que o serviço chegue ao Pará de forma gratuita às gestantes que não possuem condições financeiras de contratá-lo.

“O curso vem dessa necessidade de ampliar essa rede de mulheres que servem outras mulheres e que trazem poesia e arte para compor esse cenário que muitas vezes se torna pesado e desafiador”, diz Marluce.

Marluce pratica a arte de doular há nove anos e diz que a decisão de se tornar doula veio logo após o parto de seu primeiro filho, tendo a presença da profissional naquele momento e que fez toda a diferença para ela, deste a gestação, até o momento do parto. “Ela me apoiou e realmente me ajudou muito nos momentos mais delicados do meu trabalho de parto”, afirma.

A atuação da doula considera todo o apoio científico e holístico adquirido em curso preparatório. A profissional oferece apoio físico, psicológico e emocional para a gestante e sua família, como uma forma de passar mais segurança para todos que vivenciarão a experiência, especialmente a gestante.

“A doula é a profissional que, no cenário do parto, vai ser a primeira a chegar e a última a sair. É a mulher que serve outra mulher, apoiando, auxiliando, informando, empoderando para que ela possa compreender esse processo fisiológico do parto; o que é uma intervenção; qual a necessidade, se há ou se não há necessidade de intervenção. É a guardiã da mulher e da nova vida que está para chegar”, complementa.

As doulas atuam com diversas técnicas para facilitar o momento do parto, como escolher as posições que vão ser eficazes para ampliar o corpo, utilização de óleos essenciais e bolsa térmica. Um dos instrumentos utilizados, chamado de “rebozo”, é um tecido para fazer fricções na pélvis, ajudando a aliviar a dor das contrações e auxiliar na descida do bebê. Além disso, danças e chá de bênçãos são usados como uma forma de encorajar a gestante.

Sendo um pilar fundamental para o trabalho das doulas, a Naturopatia – medicina natural que utiliza práticas integrativas e holísticas em tratamentos para a saúde – não atua diretamente durante o trabalho de parto, mas auxilia no período gestacional e no momento de preparação para a chegada do bebê com cuidados naturais, por meio de óleos essenciais e chás. Danielle Souza, naturopata há nove anos e produtora do curso, vem de uma família que acredita no poder da natureza e especializou-se em ginecologia natural, assistindo mulheres desde a menarca – primeira menstruação – ao climatério – período entre a fase fértil e a última menstruação.

“Na Naturopatia, trabalhamos, por exemplo, com shantala [técnica de massagem indiana que serve para acalmar o bebê]; banhos de ervas para o recém-nascido, para prevenir cólicas; cuidados de chás e banhos, para auxiliar no ginecológico da mulher; absorventes de chá gelado, para diminuir o inchaço no pós-parto; banhos de assento e, principalmente, no caso de mulheres que passam pela cesárea, alguns tipos de técnicas que auxiliam, inclusive, nesse pós-operatório, como tinturas que são desinflamatórias, pomadas que são cicatrizantes naturais”, esclarece Danielle.

A naturopata fala sobre a importância da presença da doula no parto, o que possibilita à mulher e à família uma chance de viver a ocasião de forma segura e respeitosa. Danielle aponta que a profissional repassa muito mais que informações técnicas, levando em consideração a sensibilidade que um nascimento possui e a preparação necessária para seu acontecimento, agregando conhecimento acerca dos procedimentos e fases.

Danielle salienta o quão primordial é a presença dessas profissionais no período de pós-parto – assim como durante a gestação e o parto – para as puérperas, uma vez que existem doulas especializadas nessa etapa para oferecer o vital apoio afetivo e emocional. A naturopata destaca que, principalmente em quadros de baby blues – período temporário de oscilação emocional, que dura, geralmente, duas semanas – e depressão pós-parto, o acompanhamento é essencial.

“A doula, muitas vezes, é essa profissional que identifica que a puérpera precisa de acompanhamento psicológico. O limiar entre processos que são puerperais e processos da saúde mental, de adoecimentos mentais, são muito próximos”, assinala.

Cronograma do curso

11 e 12 de Junho

25 e 26 de Junho

13 e 14 de Agosto

10 e 11 de Setembro

Setembro e Outubro: Visita técnica e Estágio Supervisionado

31 de Outubro: Trabalho de Conclusão

Por Isabella Cordeiro, Juliana Maia e Lívia Ximenes (sob a supervisão do editor prof. Antonio Carlos Pimentel).

 

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