'Chega de ódio', o clamor nas ruas da Argentina

Ato aconteceu para repudiar o atentado contra a vice-presidente Cristina Kirchner

sex, 02/09/2022 - 20:45
Emiliano LASALVIA Vista aérea de manifestantes reunidos na Praça de Maio, em Buenos Aires, para repudiar o atentado frustrado contra a vice-presidente Cristina Kirchner, em 2 de setembro de 2022 Emiliano LASALVIA

A emblemática Praça de Maio, em Buenos Aires, ficou lotada de manifestantes nesta sexta-feira (2) para repudiar o atentado contra a vice-presidente Cristina Kirchner, que saiu ilesa, ao considerá-lo um fato limite na vida democrática argentina.

Dezenas de integrantes de sindicatos e organizações políticas marcharam no centro de Buenos Aires e em outras cidades. Além disso, trabalhadores da classe média sem filiação, profissionais e estudantes se somaram à convocação do governo, que declarou feriado nacional para facilitar a participação.

Entre as centenas de bandeiras argentinas e de grupos sociais e sindicais, havia muitos cartazes com a frase "Basta de odio" (Chega de ódio).

"Esta mobilização demonstra que estamos em desacordo com o que está acontecendo, que o ódio e os ataques têm que parar", disse Mónica Sucoti, psicopedagoga e professora de 71 anos, agarrada a uma bandeira argentina.

"Nós, que vivemos golpes de Estado na Argentina, não podemos tolerá-lo. É um ato contra a democracia, é isso que está em risco pelo ódio contra nós, que pensamos diferente", acrescentou.

Sucoti considerou que "é a falta de tolerância e empatia com relação ao outro a causa de que os desacordos políticos tenham solapado a sociedade até abrir o chamado 'abismo' que confronta peronistas e antiperonistas e se sintetiza na figura de Cristina".

Para Laura Itchat, professora universitária de 47 anos que participou com seu bebê de cinco meses, o ataque à vice-presidente deveria ser um ponto de inflexão para acabar com "o abismo".

"Estamos diante de um fato gravíssimo, que nenhum setor pode deixar de repudiar para defender a democracia porque nos coloca em um limite que é imprescindível não pisar", afirmou.

Aos 17 anos, Juan Ignacio Saíz se disse farto dos enfrentamentos políticos e considerou o atentado o resultado de "anos de discursos de ódio e abismo".

"A política se tornou uma briga de torcida", resumiu.

- 'Milagre' -

Em meio ao som ensurdecedor dos tambores, as fileiras de manifestantes avançaram até transformar a histórica Praça de Maio, em frente à Casa Rosada, sede da Presidência, em uma maré humana colorida.

"Se tocarem em Cristina, que confusão vai se armar", foi um dos cânticos que a multidão repetia.

Sobre um palanque em frente à sede do governo, ministros, líderes políticos e sindicais, assim como representantes da Associação Mães e Avós da Praça de Maio, participaram de um ato no qual foi lido um documento que fez um apelo à convivência.

"Esta marcha poderia ter sido de outra maneira, ninguém capta toda a dimensão do ocorrido", refletiu Gustavo Capra, de 66 anos, que compareceu, acompanhado de esposa e filha, interpelado por "uma obrigação moral".

Em relação ao agressor, um homem de 35 anos detido no momento do atentado, Capra considerou que se trata "de um rapaz influenciado por todos os meios de comunicação e por uma oposição cega, que usa o peronismo e o kirchnerismo como saco de boxe para agredir e se aproximar mais de sua gente. Isso tem que acabar, que façam política como se deve", disse.

Para Sergio Wischñevsky, historiador e professor universitário, Cristina Kirchner está viva pelo "milagre" de uma bala que não saiu.

"Se o tiro tivesse saído e matado Cristina, estaríamos entrando em uma espiral de violência que nos levaria ao sétimo círculo do inferno", frisou.

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