Vidas transformadas pelo movimento #MeToo

Movimento levou muitas mulheres no mundo a reagir à violência sexista e às agressões sexuais

seg, 03/10/2022 - 08:45
STEPHANIE KEITH O movimento #MeToo impulsionou uma onda de manifestações pelos direitos das mulheres, como esta de 2017, em Nova York STEPHANIE KEITH

O movimento #MeToo levou muitas mulheres no mundo a reagir à violência sexista e às agressões sexuais. Seguem alguns depoimentos ouvidos pela AFP.

"Revelar meu segredo"

"Nunca imaginei que um dia explicaria minha história e revelaria meu segredo, mas depois de ter lido tantos depoimentos de mulheres vítimas de agressões sexuais, me motivei a dar este passo" explicou à AFP "L", tunisiana de 26 anos, agredida na infância.

"É como se tivesse desbloqueado algo em meu interior. Me motivou a mudar de vida, a ser feliz. Me tornei mais forte, já não quero ser a pessoa passiva que tem medo de tudo", afirmou.

Seus pais se opuseram fortemente à apresentação da denúncia por temer que sua filha fosse rejeitada "em uma sociedade infelizmente muito conservadora".

"L." decidiu falar em alto bom som o que aconteceu com ela. "Comecei com meus pais, minhas irmãs, minhas tias, minhas primas. Tentei fazê-los compreender que ter uma vítima de estupro (na família) não é nenhuma vergonha".

"Reavaliar meus anos de juventude"

"Fiz um estágio com um congressista nos anos 2000", explica à AFP Louise (seu nome foi alterado a seu pedido), uma americana de 36 anos.

Rapidamente um membro da equipe a convidou para jantar, ela recusou. Por anos, mantiveram uma relação de amizade, mas o homem costumava "fazer comentários inoportunos".

"Não dava importância, sempre encontrava desculpas", explicou.

Esse funcionário acabou sendo denunciado publicamente com a eclosão do movimento #MeToo. "Não me surpreendeu realmente", afirma esta americana, acrescentando que o episódio lhe deu a oportunidade de "reavaliar meus anos de juventude".

"Esta experiência me abriu os olhos. Eu estava tão acostumada aos comentários inapropriados dos homens que os dele pareciam normais".

"Atualmente trabalho em Washington, é difícil para mim entender a maneira como a mulheres são tratadas", explica. "Tenho a impressão que muitos pensam que podem fazer o que querem porque têm poder".

"Me deu forças para denunciá-lo"

Gabriela Ortiz, de 26 anos, foi agredida sexualmente no ano passado por um amigo de seu companheiro, com a cumplicidade dele, durante uma tarde no México.

O movimento #MeToo lhe deu forças para denunciá-los. "Começaram a surgir muitas denúncias e então compreendi que, ainda que possa parecer um clichê, não estamos sozinhas", disse à AFP.

Funcionária de uma empresa de serviços financeiros, Gabriela decidiu também denunciar seus agressores nas redes sociais.

"Mostrar que podemos falar sobre isso"

"Antes do #MeToo não era possível falar sobre estupros", explica à AFP Nazreen Ally, de 43 anos, moradora de Durban, na África do Sul.

Chefe de uma empresa de segurança, Ally foi estuprada aos 13 anos e relatou sua experiência no início do movimento.

"Quando comecei a falar, muitas mulheres dividiram suas histórias comigo e percebi que outras mulheres também sofriam em silêncio", descreve.

"Comecei a me abrir progressivamente sobre o tema, para demonstrar às mulheres que também poderiam fazê-lo".

"Aplicar os princípios feministas"

"Dentro de mim, me sentia feminista, mas não me atrevia a aplicar" essa ideologia, explicou à AFP Karine Zerbola, de 49 anos, gerente de um bar em Annecy, França.

Zerbola afirma que já não admite piadas sexistas.

O movimento #MeToo "me confirmou que os comportamentos de alguns homens foi durante muito tempo desrespeitoso e que isso não era normal", explica.

Essa reflexão a levou a "prestar muita atenção" à "paridade", diz.

"Contrato o mesmo número de homens e mulheres e todo mundo faz o mesmo trabalho", explicou.

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