Manejo sustentável na Amazônia pode ser pleno, diz técnica
A prática oferece alternativa à degradação da floresta e torna a produção de commodities mais lucrativa, afirma a agrônoma Natalia Guarino
O manejo sustentável é realizado durante a exploração do meio de forma eficiente e consciente, visando à sua preservação e respeitando o ecossistema, com baixo impacto ambiental. Na Amazônia, a prática promove benefícios econômicos e sociais, com respeito à floresta.
A aplicação do manejo sustentável é fortemente recomendada. A agrônoma Natalia Guarino, doutora em Zootecnia e professora de Bubalinocultura de Corte e Leite, de Zootecnia de Ruminantes, Bovinocultura de Leite e de Pecuária Sustentável da UFRA – Universidade Federal Rural da Amazônia, fala que, desde o ano passado, com o lançamento do Programa Territórios Sustentáveis, a prática de manejo sustentável tornou-se quase que obrigatória. A professora relata que não será possível permanecer trabalhando com métodos tradicionais.
“Agora, a gente vai trabalhar sempre visando à perpetuação daquele local. A gente não herdou a terra dos nossos pais, a gente pegou emprestado dos nossos filhos”, comenta a professora, fazendo referência à frase de Wendell Berry, romancista, ensaísta, poeta, ativista e agricultor americano.
Natalia afirma que a região ainda não atingiu seu ponto ideal quanto ao manejo sustentável, mas está no caminho certo e já se afasta do ponto crítico. Ela cita o Zoneamento Ecológico Econômico – ZEE da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) e declara que esse instrumento de planejamento territorial possui controle das regiões, especialmente das mais próximas da floresta.
Natalia também comenta sobre os desafios para a aplicação do manejo sustentável: “Ainda temos pessoas que têm mentalidade conservadora, tradicional. São os primeiros produtores que chegaram aqui, que passaram para os filhos, para os netos. A política nacional era ‘Integrar para não entregar a Amazônia'; então, eles eram estimulados a abrir áreas, a derrubar”.
Conflitos entre programas, excesso de legislação e burocracia e falta de diálogo entre os Ministérios são outros desafios encontrados, de acordo com a professora. Apesar disso, ela informa que esses problemas estão diminuindo, visto que há fiscalização por via remota.
Natalia defende o diálogo entre os legisladores, mantendo uma língua uniforme. “A gente não pode estar na região de maior visibilidade do mundo refém do que um governo federal, estadual ou municipal deseja momentaneamente; tem que ser uma coisa perpétua.” A professora também destaca a importância da presença das universidades em tomadas de decisões e aconselhamentos e a necessidade da realização de uma COP – Conferência das Partes na Amazônia.
O investimento em conhecimento e na fixação dos saberes na região são essenciais para o desenvolvimento sustentável de técnicas próprias, acredita Natalia. “A gente tem o nosso próprio clima, a gente tem o nosso próprio solo. O conhecimento, legislação, uniformização das legislações e educação seria fundamental”, afirma.
Apesar dos empecilhos encontrados, a professora diz ser possível o manejo sustentável se tornar uma prática aplicada de forma plena na Amazônia. Ela também enfatiza que políticas públicas que levam conhecimento aos produtores que trabalham de forma errada são fundamentais.
“A gente só precisa aprender um pouco mais, melhorar um pouco mais, ter mais recurso, dinheiro. Investimento em ciência, conhecimento.
Princípios elementares
De acordo com EOS Data Analytics, fornecedor global de análises de imagens de satélite mantido por Inteligência Artificial, o manejo florestal sustentável tem três princípios: proteção da natureza, desenvolvimento econômico e desenvolvimento social.
Em 2021, a Semana do Meio Ambiente no Pará, realizada no canal do Governo Estadual no YouTube, teve o manejo sustentável como tema em debate e discutiu a agenda dessa prática em florestas. A live foi mediada pela engenheira ambiental Ayamy Migiyama, ex-diretora de Gestão dos Núcleos Regionais de Regularidade Ambiental da Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Pará – Semas, e teve a participação de Leonardo Sobral, gerente florestal do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola – Imaflora; Jorge Silveira, diretor de Gestão de Florestas Públicas para Produção Sustentável do Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade – IDEFLOR-Bio; e Jakeline Viana, coordenadora do Centro Integrado de Monitoramento Ambiental – CIMAM da Semas.
Na Amazônia, a prática se realiza, por exemplo, com aplicação de espaçamento e cobertura morta com folhas para reter a umidade, visando a proteção do solo; plantio direto, evitando revirar o solo para e plantando em palhada; e integração, maximizando os espaços ao trabalhar com várias culturas.
O grupo de trabalho do Territórios Sustentáveis, projeto do Governo do Pará coordenado pela Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas), alinhou estratégias e reformulou algumas iniciativas para garantir mais eficiência dos trabalhos de campo. O Territórios Sustentáveis é um dos pilares do Programa “Amazônia Agora”. O objetivo do plano estadual é garantir os avanços econômicos e tecnológicos do setor rural, com boas práticas ambientais.
O manejo e a madeira
De acordo com Adalberto Veríssimo, mestre em Ecologia pela Universidade da Estadual da Pensilvânia (EUA) e pesquisador do Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia), e Ana Cristina Barros, graduada em Ecologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e especialista em infraestrutura sustentável, o manejo sustentável agrega valor para fins de emprego e renda e para a economia do estado.
A floresta tropical é responsável por abrigar uma grande porcentagem de árvores que são extraídas para fins madeireiros. Estima-se que cerca de 60 bilhões de metros cúbicos de madeira em tora sejam retirados para recursos florestais.
O setor madeireiro da Amazônia é o que mais gera empregos na região, totalizando cerca de 127 mil empregados de forma direta e 105 mil empregados indiretamente, além de gerar renda para pessoas de fora da região, gerando em torno de 150 mil empregados pelo setor madeireiro. O Pará é o único estado de maior relevância em atividades madeireiras na Amazônia.
Analisar a parceria entre empresa e comunidade e a importância para o desenvolvimento sustentável da região Amazônica, de modo a incentivar futuras parcerias. Esse é o principal objetivo d, desenvolvido pela
A professora do curso de Direito da UNAMA - Universidade da Amazônia, unidade Parque Shopping, Ana Carolina Farias lançou o livro “O plano de manejo florestal sustentável na Amazônia” a fim de facilitar a pesquisa. A professora comenta que foi possível identificar que a parceria empresa e comunidade no plano de manejo florestal poderia promover o desenvolvimento sustentável. “Isso contribui para a proteção dos territórios tradicionais e dos seus comunitários por meio de uma exploração racional e, desta forma garantindo um desenvolvimento socioambiental, ou seja, social, ambiental e econômico”, afirmou.
Por Amanda Martins e Lívia Ximenes (sob a supervisão do editor prof. Antonio Carlos Pimentel e com informações da Ascom UNAMA e Agência Pará).