Ausência de cruz pastoral indica que Bento XVI não reinava
O corpo de Joseph Ratzinger foi vestido com a batina branca usada desde sua eleição ao trono de Pedro, em 19 de abril de 2005, até sua morte, em 31 de dezembro de 2022
Com a abertura, nesta segunda-feira (2), do velório de Bento XVI, falecido no sábado (31), aos 95 anos, centenas de fiéis poderão velar o papa emérito durante três dias, na Basílica de São Pedro.
No caixão, as vestes do corpo em exposição indicam que não estava reinando. A Igreja Católica, que costuma se comunicar por meio de seus símbolos sagrados, anuncia, assim, que o pontífice reinante não faleceu.
Por isso, o corpo de Bento XVI não porta a Férula, espécie de bastão em forma de cruz e chamada de cruz pastoral.
Segundo fontes religiosas, para determinar os paramentos com que será sepultado na quinta-feira (5), em uma cripta na Basílica de São Pedro, o primeiro papa emérito da história, ou seja, sem funções, foi necessário estabelecer novas regras.
Por isso, não usa o pálio pontifício, fita circular com cruzes que os papas carregam nos ombros.
Esse pálio indica a jurisdição dos arcebispos metropolitanos e foi-lhe concedido três vezes: em 1977, com sua nomeação como arcebispo de Munique e de Freising, na Alemanha, em 2002, quando se tornou decano do Colégio dos Cardeais; e em 2005, quando foi eleito papa, segundo o vaticanista Francesco Grana.
O corpo de Joseph Ratzinger, que foi especialmente tratado para ser exposto na Basília de São Pedro, foi vestido com a batina branca usada desde sua eleição ao trono de Pedro, em 19 de abril de 2005, até sua morte, em 31 de dezembro de 2022.
A decisão gerou debates teológicos ainda em vida, pois alguns estudiosos e especialistas consideraram que não era correto ele usar a batina branca papal e residir no Vaticano após sua renúncia.
O falecido também veste uma casula vermelha e uma mitra branca adornada com ouro, ambos emblemas do luto papal. O rosário foi entrelaçados em suas mãos.
O que mais surpreende é o sapato preto, já que o vermelho, usado por João Paulo II, Paulo VI e João Paulo I, evoca o sangue derramado pelos mártires que seguiram as pegadas de Cristo.
Essa tradição foi quebrada pelo papa Francisco, que prefere usar vermelho apenas por baixo e optou por sapatos pretos que sempre usou e com os quais chegou ao Vaticano.
Segundo os vaticanistas, Ratzinger será enterrado com o anel episcopal, e não com o anel do pescador, usado por ele durante seus oito anos de pontificado (2005-2013). A joia foi destruída logo após sua renúncia, em 28 de fevereiro de 2013.