Macron defende entrada em vigor da reforma até fim do ano

A França vive desde a última quinta-feira um contexto social muito tenso com uma onda de protestos espontâneos, marcados pela violência

qua, 22/03/2023 - 12:43
Philippe Lopez Um retrato oficial do presidente Emmanuel Macron em uma estrada bloqueada por sindicalistas que se manifestavam contra a reforma da Previdência, perto de Blaye, sudoeste da França Philippe Lopez

O presidente da França, Emmanuel Macron, defendeu nesta quarta-feira (22) a entrada em vigor de sua impopular reforma da Previdência até o fim do ano, em um momento de intensificação dos protestos contra o projeto do governo.

"Esta reforma é necessária. Não me faz feliz. Teria preferido não fazê-la", declarou o presidente liberal em uma entrevista aos canais TF1 e France 2, na qual reconheceu a "impopularidade" da medida.

A França vive desde a última quinta-feira um contexto social muito tenso com uma onda de protestos espontâneos, marcados pela violência. Sua entrevista não parece acalmar as coisas, na véspera de um novo dia de protestos convocados pelos sindicatos.

Suas declarações são "um desprezo pelos milhões de manifestantes", disse Philippe Martinez, líder do sindicato CGT. Macron "adicionou mais lenhas a uma fogueira muito acesa", afirmou o chefe do Partido Socialista, Olivier Faure.

Desde janeiro, o governo enfrenta forte rejeição ao seu plano de adiar a idade de aposentadoria de 62 para 64 anos até 2030 e antecipar para 2027 a exigência de contribuir 43 anos, e não 42 como agora, para receber uma pensão completa.

Mas a tensão explodiu na última quinta-feira, quando Macron e sua primeira-ministra Élisabeth Borne anunciaram a adoção da reforma por decreto, porque temiam perder a votação na Assembleia Nacional (câmara baixa), com o apoio inclusive da oposição de direita.

Há uma semana, Paris e outras cidades registram protestos não declarados todas as noites, nos quais manifestantes, em sua maioria jovens, incendeiam contêineres e outros itens em seu confronto com a polícia.

"Não vamos tolerar nenhum transbordamento", alertou Macron, chamando esses manifestantes de "sediciosos" e comparando-os aos que invadiram o Capitólio nos Estados Unidos em 2021 e o Congresso Nacional no Brasil em janeiro deste ano.

No dia anterior, em reunião com os legisladores de seu partido, o presidente já alertou que a "multidão" e os "distúrbios" não tinham "legitimidade" sobre os representantes do povo, declarações criticadas inclusive por seus aliados.

As forças de segurança estão na mira devido às centenas de prisões realizadas desde quinta-feira passada, que na grande maioria dos casos resultam em libertações sem acusação, e devido aos métodos usados para controlar os protestos.

A Anistia Internacional alertou nesta quarta para o "uso excessivo e generalizado da força" e para "prisões arbitrárias", preocupações já manifestadas pela oposição de esquerda, advogados, magistrados e até pela Defensoria do Povo.

- Qual saída? -

Além da reforma, Macron, reeleito em abril do ano passado, enfrenta dificuldades para aplicar seu programa reformista durante o segundo mandato, que vai até 2027.

O chefe de Estado reconheceu na entrevista de hoje que o seu único erro foi "não conseguir convencer" sobre a reforma, a qual espera aplicar "até o final do ano" e que procura evitar um futuro "déficit" no fundo de pensões. Agora a reforma é examinada pelo Conselho Constitucional.

Os observadores consideraram um fracasso a adoção por decreto desta reforma crucial para Macron, que tentou adotá-la no primeiro mandato, uma vez que dificultaria a aprovação de novos projetos, em um contexto de falta de maioria absoluta.

Tendo descartado dissolver a Assembleia, submeter a reforma a referendo ou remodelar o governo, conforme solicitado pela oposição, Macron encarregou a primeira-ministra de "construir um programa de governo" e "ampliar a maioria".

Símbolo dessa nova situação, o governo paralisou uma reforma migratória que o Senado deveria começar a debater e que agora será dividida em várias partes para facilitar sua adoção, diante da rejeição por parte da direita de regularizar trabalhadores sem documentos.

COMENTÁRIOS dos leitores