Fundador de escola para meninas é detido no Afeganistão

A missão pediu às autoridades afegãs que 'expliquem onde ele está, os motivos da detenção e que proporcionem acesso a uma representação legal e contato com sua família'

ter, 28/03/2023 - 08:48
Sanaullah Seiam Meninas assistem aula em escola da cidade afegã de Zabul, em 14 de março de 2023 Sanaullah Seiam

O fundador de uma escola para meninas no Afeganistão foi detido em Cabul, informou nesta terça-feira (28) a ONU, que pediu às autoridades do governo Talibã que expliquem as razões da detenção.

"Matiullah Wesa, diretor da PenPath1 e defensor da educação para as meninas, foi detido na segunda-feira", publicou no Twitter a Missão das Nações Unidas no Afeganistão.

A missão pediu às autoridades afegãs que "expliquem onde ele está, os motivos da detenção e que proporcionem acesso a uma representação legal e contato com sua família".

O governo Talibã proibiu no ano passado as mulheres de frequentar o Ensino Médio, o que transformou o Afeganistão no único país do mundo que proíbe a educação das meninas depois do ensino fundamental.

Um irmão de Wesa confirmou a detenção e disse que aconteceu na segunda-feira à noite, quando ele saía de uma mesquita.

"Matiullah havia terminado suas orações e deixava a mesquita quando foi detido por alguns homens em dois veículos", disse Samiullah Wesa à AFP.

"Quando Matiullah pediu para ver os documentos de identidade dos homens, eles o agrediram e o levaram à força", acrescentou.

A organização fundada por Matiullah, que faz campanha por escolas e distribui livros nas áreas rurais, se dedicado a divulgar a importância da educação para as meninas entre os líderes dos vilarejos.

Mesmo com a proibição do ensino para as mulheres, Wesa prosseguiu com as visitas a regiões remotas para buscar apoio entre os moradores.

"Estamos contando horas, minutos e segundos para a abertura das escolas para as meninas. O dano que o fechamento das escolas provoca é irreversível e inegável", tuitou Wesa na semana passada, quando começou o ano letivo mo Afeganistão.

"Encontramos com os moradores e vamos seguir com nossa proposta, caso as escolas continuem fechadas", completou.

O regime Talibã impõe uma interpretação severa do islã desde que retornou ao poder, em agosto de 2021, quando as forças dos Estados Unidos e da Otan, que apoiaram os governos anteriores, deixaram o Afeganistão.

Os líderes talibãs, que também vetam o ensino universitário às mulheres, afirmam que as escolas para mulheres devem reabrir as portas após o cumprimento de algumas condições.

Eles dizem que não têm dinheiro nem tempo para adaptar os programas escolares de acordo com os preceitos islâmicos.

O regime Talibã fez promessas similares durante seu primeiro governo, de 1996 a 2001, mas as escolas para meninas nunca reabriram as portas nos cinco anos.

Analistas acreditam que a ordem contra o ensino para as meninas veio do líder supremo do Afeganistão, Hibatullah Akhundzada, e de seus conselheiros ultraconservadores, que expressam ceticismo sobre a educação moderna, em particular para as mulheres.

Além de gerar indignação internacional, o fechamento das escolas provocou críticas dentro do movimento, com alguns funcionários de alto escalão do governo de Cabul contrários à decisão.

No Afeganistão, um país profundamente conservador e patriarcal, as atitudes em relação à educação feminina mudam lentamente nas áreas rurais, onde suas vantagens são reconhecidas.

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