Brasileiro ligado ao PCC é suspeito de atentado a juízas
Waldemar Pereira Rivas, o "Cachorrão", é acusado de ser o mandante da execução do jornalista Léo Veras, em fevereiro de 2020, em Pedro Juan
Um brasileiro ligado ao Primeiro Comando da Capital (PCC) e procurado pela Interpol é suspeito do atentado contra duas juízas paraguaias, no sábado, 9, em Pedro Juan Caballero, na fronteira do Brasil com o Paraguai. Waldemar Pereira Rivas, o "Cachorrão", é acusado de ser o mandante da execução do jornalista Léo Veras, em fevereiro de 2020, em Pedro Juan. As juízas, Mirna Carolina Ocampos Ramírez e Vivian Marina Quiñónez Vargas, que são irmãs, tiveram a casa em que moram alvejada por mais de 50 disparos de armas de fogo.
Os tiros estilhaçaram vidros, mas as juízas e sua mãe, que também estava na residência, não foram atingidas. Na semana passada, Mirna Ramírez integrou um tribunal de condenação que expediu ordem internacional de captura de Cachorrão.
Conforme o comissário Javier Gimenez, que investiga o caso, Cachorrão tem estreitas ligações com integrantes do PCC, presos na Penitenciária Regional de Pedro Juan Caballero. Ainda no sábado, a unidade foi ocupada pela Polícia Nacional e 28 celas ocupadas por integrantes do PCC foram revistadas.
As juízas Mirna e Vivian estão sob proteção policial. Outros três magistrados que integraram a comissão pediram medidas protetivas. A ordem de captura foi expedida depois que o Tribunal de Apelação Penal do Paraguai anulou a decisão do Tribunal de Execução que havia inocentado Cachorrão pela morte de Léo Veras, alegando falta de provas, em novembro de 2022.
O tribunal determinou que Rivas fosse submetido a novo julgamento e pediu a inclusão de seu nome na lista vermelha da Interpol, organização internacional de cooperação policial. Desde a absolvição, ele está foragido.
Jornalista morto com 12 tiros
O jornalista Lourenço Veras, mais conhecido como Léo Veras, jantava com a família, em fevereiro de 2020, quando um grupo invadiu sua casa. Após receber os primeiros tiros, o jornalista correu para os fundos do imóvel, mas foi alcançado. Ele foi atingido por 12 disparos. Os atiradores fugiram em um Jeep de cor branca, veículo que estava em nome de Rivas. Brasileiro que morava em Pedro Juan, Veras denunciava o tráfico de drogas e armas na fronteira, área de atuação do PCC.
Cachorrão foi preso em maio daquele ano por agentes da polícia paraguaia. Uma perícia em seu celular mostrou que, dias antes do crime, ele havia recebido ligações de integrantes da facção presos na penitenciária de Pedro Juan.
O suspeito ficou encarcerado até o julgamento em que foi absolvido, em 3 de novembro de 2022. O acusado saiu em liberdade, mesmo sendo procurado pela Justiça brasileira para cumprir pena por homicídio no Brasil.
Em maio de 2022, dois homens em motos aquáticas invadiram a praia privativa de um hotel na Colômbia e mataram a tiros o promotor paraguaio Marcelo Pecci, responsável pela Unidade Especializada de Crime Organizado e Narcotráfico do Paraguai. Pecci atuou em casos de grande repercussão, como o assassinato da filha de um governador regional, no ano passado. Foi ele, porém, quem apresentou a acusação contra Rivas por associação criminosa e homicídio doloso pela morte do jornalista brasileiro.
Cachorrão foi acusado de um latrocínio (roubo seguido de morte) ocorrido em 30 de abril de 1998 em Dourados, no Mato Grosso do Sul. O crime foi praticado contra o douradense Nilson Soares, 25, que teve sua moto roubada. Waldemar Rivas foi preso dois anos depois em território paraguaio com a moto levada no assalto.
Em 2008, ele foi extraditado para o Brasil para cumprir a pena por envolvimento no latrocínio e saiu em regime semiaberto em 2012. O sentenciado descumpriu o regime e voltou para Pedro Juan Caballero, onde já havia estabelecido contatos com o PCC, e se tornou membro da facção. O Brasil pediu a extradição de Rivas, mas o pedido só apareceu no sistema da Justiça paraguaia um dia depois que ele foi solto.
A reportagem não conseguiu contato com o defensor de Waldemar Rivas. No julgamento em que Cachorrão foi absolvido por falta de provas, a defesa apontou que a promotoria fez uma atribuição de autoria "inexistente e insustentável juridicamente".
O defensor explorou o fato de ter havido divergência sobre o veículo usado pelos assassinos de Léo Veras. Enquanto a promotoria apontava que o veículo era um Jeep Renegade, de propriedade de Cachorrão, a investigação policial falava em um Jeep Cherokee, que não pertencia a ele.