Milei toma posse como presidente da Argentina
Alheio à política tradicional, à qual se refere depreciativamente como 'a casta', Milei foi empossado perante o Parlamento, entre aplausos e gritos de 'liberdade, liberdade!'
Javier Milei, economista libertário e ultraliberal de 53 anos, assumiu neste domingo (10) a Presidência da Argentina, determinado a realizar um tratamento de choque para retirar o país da sua agonizante crise econômica, embora precise do apoio da oposição.
Alheio à política tradicional, à qual se refere depreciativamente como "a casta", Milei foi empossado perante o Parlamento, entre aplausos e gritos de "liberdade, liberdade!".
"Juro por Deus e pelo país sobre esses santos evangelhos", proclamou Milei, seguindo o protocolo usual. Em seguida, recebeu a faixa e o bastão das mãos do presidente cessante, Alberto Fernández.
Ao seu lado, a vice-presidente, Victoria Villarruel, prestou o mesmo juramento.
Em frente ao Congresso, milhares de pessoas se reuniram para celebrar sua posse. Vestidos com camisas da seleção de futebol e portando bandeiras argentinas, os apoiadores de Milei aguardavam seu discurso na praça.
"Hoje começa uma nova era na Argentina, uma era de paz e prosperidade, uma era de crescimento e desenvolvimento, uma era de liberdade e progresso", disse Milei a seus apoiadores. "Nenhum governo recebeu uma herança pior do que a que estamos recebendo", acrescentou.
Vários líderes latino-americanos comparecem à posse de Milei, como o chileno Gabriel Boric e o paraguaio Santiago Peña; e europeus, entre eles o ucraniano Volodimir Zelensky e o húngaro Viktor Orban, além do rei da Espanha, Felipe VI.
"Hoje é uma festa que todos merecemos, temos que deixar a corrupção para trás, isso acabou. Acho que a partir de agora vamos evoluir. Não acredito que haja um governo pior do que o anterior, então se esse funcionar 50% já é suficiente. Darei o tempo que for necessário", disse à AFP Fabián Armilla, funcionário judicial de 60 anos.
- Obrigado a conciliar -
Terceira economia da América Latina, a Argentina registra uma inflação anualizada superior a 140% e uma taxa de pobreza superior a 40%. Para enfrentar esta crise, Milei propôs medidas drásticas para cortar gastos públicos, reduzir o Estado e liberalizar em um país habituado durante anos a subsídios e déficits fiscais.
"Acho que vai ser difícil nos primeiros anos, ele já espera devido à situação do país, mas tenho muita fé", comentou Federica Diggiano, uma estudante de 20 anos que o aguardou em frente ao Parlamento.
A Liberdade Avança, o partido de extrema direita de Milei, é apenas a terceira minoria no Congresso, o que o obriga a conciliar muitas das suas reformas com outras forças políticas.
"Há uma tentativa de expandir a coalizão e ampliar um pouco mais o apoio legislativo do governo. Mas tudo isso tem um preço. Se negociar, não será tão anticasta", disse à AFP o cientista político Diego Reynoso.
- 'Prova de fogo' -
O presidente terá, no entanto, a liberdade de decidir sobre a desvalorização do peso e algumas medidas de redução de gastos. A dolarização, tema central da sua campanha, foi suspensa enquanto se aguardam os primeiros resultados do seu plano econômico.
"A primeira prova de fogo decisiva para o presidente será decidir se ele vai realmente interromper a emissão [de dinheiro] ou se adota uma postura mais pragmática e deixa para depois o objetivo da não emissão", disse à AFP o economista Víctor Beker, da Universidade de Belgrano.
"Teríamos uma situação de aumento dos preços, sem dinheiro no bolso das pessoas. Haverá um choque entre as promessas e a realidade. Veremos qual será o resultado", acrescentou.
De um total de 18 ministérios do governo de Alberto Fernández, o de Milei sairá apenas com metade.
Depois de alertar que provavelmente haverá estagflação nos primeiros dias de seu governo, Milei garantiu que manterá a assistência social aos mais necessitados.
Mas assim como há entusiasmo entre os seus apoiadores, outros estão preocupados com o que está por vir.
"Acho que a inflação continuará, talvez pior do que antes. Não vejo nada de bom no futuro", disse Martina Soto, uma mulher de 66 anos, perto do Congresso.