Médicos pagavam tratamento de pacientes do Barão de Lucena
O setor de cirurgias eletivas do hospital foi interditado após fiscalização do Conselho Regional de Medicina de Pernambuco (Cremepe)
O Conselho Regional de Medicina de Pernambuco (Cremepe) constatou que os médicos do Hospital Barão de Lucena (HBL), localizado no bairro da Iputinga, Zona Oeste do Recife, realizavam “cotinhas” com frequência para não interromper o atendimento dos pacientes. A fiscalização identificou o desabastecimento de insumos básicos, como soro, sondas para recém-nascidos e luvas e interditou parte da unidade.
O presidente do Cremepe, Dr. Mário Jorge Lobo, reclamou da instabilidade na compra de insumos que motivou a interdição do setor de cirurgias eletivas por 30 dias. A orientação é que as intervenções que não sejam urgentes - exceto oncológicas e casos especiais - sejam remarcadas ou redimensionadas para outras unidades.
O conselho chegou a fazer três visitas ao Barão de Lucena e já havia notificado a direção sobre as inconformidades. Médicos e pacientes também foi apontaram dificuldades na realização de exames.
"Os relatos são de angústia e inconformidade de se viver diante de uma realidade dessa. Nós estamos falando de uma profissão onde quem se dedica, se dedica com amor. E quem vai fazer medicina, vai fazer medicina porque gosta de pessoas, para amenizar o sofrimento e salvar as pessoas. Quando você se depara com uma situação dessa, acontece o que foi dito. Se mobiliza, se junta. É o meu paciente. O meu paciente não é um número. A senhora Francisca, o senhor José, com quem eu estou lá, todos os dias. Então eu vou e compro o medicamento dele. Eu pago a biópsia dele, porque demora 14 dias para vir pelo estado uma biópsia. E com cinco, sete dias, se eu pagar chega. Isso é relato das equipes. Isso vai ser discutido no Ministério Público. Então, sentimento é de revolta e de angústia", definiu Dr. Mário Jorge Lobo.
A fragilidade na logística decorrente da incapacidade gerencial pode ter relação com a centralização do processo licitatório com o Governo do Estado. Antes, a compra era feita pela direção de cada unidade.
O presidente do Cremepe ainda reforçou que a interdição objetiva resguardar a assistência aos pacientes graves da unidade, para que não interfira nos tratamentos.
A gestão do Barão de Lucena foi intimada pelo Cremepe a se pronunciar. A Secretaria Estadual de Saúde (SES) e o Ministério Público de Pernambuco (MPPE) também foram notificados da decisão.
Uma nova reunião com o corpo clínico vai ocorrer na próxima quinta (25), quando será discutido se houve desassistência no hospital. Uma nova fiscalização ocorre em 15 dias para verificar se pacientes deixaram de ser atendidos pela falta de materiais ou se o desabastecimento persiste.
A expectativa é que a governo do estado consiga prover os insumos de forma regular. Contudo, o Cremepe não descarta a possibilidade de instaurar sindicância e tomar as medidas judiciais para resolver a situação.