O 'Buraco Frio' da Câmara do Recife

Sala reservada aos vereadores, espaço os embates esfriam ou esquetam

sab, 06/04/2013 - 00:09

Na Câmara do Recife existe um espaço de convivência entre os políticos, um lugar restrito aos vereadores, longe dos olhos críticos da imprensa, onde os ânimos às vezes esquentam ou esfriam. O espaço serve de comitê, um lugar diverso, às vezes utilizado para descanso, em outras ocasiões é onde se acalmam os ânimos exaltados. Muitos projetos foram decididos lá, discussões fortes foram iniciadas e finalizadas nesse lugar. O Buraco Frio funciona como antessala do plenário e nem mesmo a assessoria de imprensa da Casa José Mariano tem acesso.



De acordo com o vereador e ex-presidente da Câmara do Recife, no último Biênio (2011-2012), Jurandir Liberal (PT), o buraco frio é onde se tem as conversas antecipadas sobre determinado assunto, sem a burocracia do regimento interno da Casa. “No plenário se tem um ritual, só pode falar naquele horário estabelecido e as pessoas que estão escritas. No buraco frio todo mundo fica a vontade para falar o que pensa a qualquer momento, uma antessala onde os vereadores se encontram antes de entrarem no plenário”, contou Jurandir.



Ao falar dos motivos que levaram a colocar nesse espaço de convivência dos vereadores o nome de Buraco Frio, Liberal disse: “Você chega da rua com um calor muito grande e usando paletó, aí de repente entra num espaço muito frio que equilibra, já chega se refrescando.” Muitos projetos polêmicos foram discutidos no Buraco Frio, lugar onde se retira ou se acrescenta emendas aos Projetos de Lei modificando artigos dentre outros assuntos relacionados à vereança. “Ás vezes o vereador só concorda em partes com determinada matéria e pretende modificar algum artigo. São esses acordos e essas negociações que são feitas para que na votação do plenário se tenha unanimidade”, destacou Jurandir Liberal.



O petista que foi relator do Plano Diretor da Cidade do Recife, reforçou que no Buraco Frio as Comissões Legislativas debatem assuntos importantes, se reúnem com a sociedade civil organizada, conselhos municipais para se chegar a um consenso sobre a matéria que está sob análise. O vereador citou como exemplo o debate que aconteceu em torno do Plano Diretor que recebeu 273 emendas parlamentares. “Se chegar a um relatório que não tenha nenhum destaque, ou seja, aprovado por unanimidade, é esforço de negociação”, afirmou.



A vereadora líder da oposição, Aline Marino (PSDB) ao falar sobre o Buraco frio afirmou que outras Casa como a Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) e o Congresso Nacional  também possuem espaços reservados somente aos políticos. “Normalmente é lá que os assuntos esquentam, mas ninguém pode ouvir o que está sendo discutido, porque só quem entra lá são os vereadores. Um espaço exclusivo que nem a assessores é permitida a entrada. Lugar onde acontece conversas de bastidores, desabafo. Muitas vezes o clima fica alterado, então é onde chegamos ao entendimentos depois dos embates na tribuna. Quando o clima esquente tem o buraco frio para dar uma esfriada nos ânimos”, explicou Aline Mariano.



A vereadora disse que não frequenta muito o Buraco Frio, é mas a passagem por onde entra e sai do plenário.  “Se o vereador tem um projeto para ser votado é um lugar onde se encontra com todo mundo e faz uma conversar preliminar para que se vote no projeto e não se crie problemas na obstrução da matéria, mas no geral é um espaço de convivência, um comitê”, apresentou.



Questionada se os vereadores utilizam o Buraco Frio para se esconderem da imprensa quando temas polêmicos são discutidos, Aline Mariano afirmou que não há nenhuma saída secreta do espaço e a porta por onde se entra é e mesmo por onde se sai. “Não há isso de se esconder de alguém, porque acredito que quem milita na vida pública tem que gostar de povo e ter gabinete aberto, andar nos bairros e atender as pessoas. A intenção do espaço é de convivência”, reforçou. 





Um dos nomes que há tempos estão na política brasileira e recentemente assumiu um mandato legislativo na capital Pernambucana é o vereador Raul Jungmann (PPS) que disse ver o buraco frio como um espaço para descontração, mas que também serve para se discutir projetos polêmicos.

Segundo o novato Jungmann, até o momento essa gestão não enviou nenhum tema que tenha causado polêmica e exaltado os ânimos dos parlamentares. “É um espaço de convívio e que serve para muitos vereadores jogarem conversar fora, lugar para trocar ideias. Também é um espaço onde os principais projetos são discutidos. Lá se busca convencer que determinado vereador e bancada votem favorável ou contra”, comentou.   



Jungmann contou que é um lugar sem muita formalidade, diferente do que acontece no plenário, onde o espaço segue o que determina o regimento interno, o buraco frio também serve para os vereadores descansarem, tirarem um cochilo e até almoçarem por lá. “É no buraco frio que cada um dos vereadores expõe realmente a opinião que tem sobre determinado assunto e é lá que se busca o convencimento político”, informou Raul Jugmann.

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