'Tem mais negros no crime', justifica deputado

Em defesa da destruição da placa sobre genocídio negro, o deputado Daniel Silveira (PSL-RJ) diz que alto índice de mortalidade negra é "falácia"

por Francine Nascimento qua, 20/11/2019 - 11:43
Reila Maria/Agência Câmara Deputado federal Daniel Silveira (PSL-RJ) duvidou de dados estatísticos da mortalidade negra Reila Maria/Agência Câmara

Em discurso na Câmara dos Deputados, nessa terça-feira (19), o deputado federal Daniel Silveira (PSL-RJ), o mesmo que participou da destruição da placa da ex-vereadora Marielle Franco no ano passado, defendeu a retirada da placa sobre genocídio negro do plenário e disse que se mais negros morrem é porque “tem mais negros no crime”.

"É evidente que mais negros morrem. Eu tive o prazer e o desprazer de operar em todas as favelas do Estado do Rio de Janeiro. Lá tem mais negros com arma, tem mais negros cometendo o crime, mais negros confrontando a polícia, e mais negros morrem", disse.

Daniel Silveira também quis “apertar a mão” do deputado federal Coronel Tadeu (PSL), responsável por ter rasgado a placa que continha uma charge de um homem negro sendo morto pelas mãos da polícia militar. O painel de autoria do artista Carlos Henrique Latuff fazia parte da exposição “(Re)existir no Brasil: Trajetórias Negras Brasileiras” do Dia Nacional da Consciência Negra, comemorado neste 20 de novembro.

Sobre o genocídio negro nas periferias do Brasil, Silveira classificou como uma “falácia”, uma vez que, segundo ele, os dados divulgados pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) sobre o índice de assassinatos às pessoas negras não são verdadeiros.

Presidente da Câmara critica deputado que vandalizou o quadro

Durante o debate entre os parlamentares, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), se colocou contra o ato de vandalismo à peça em exposição. “Numa democracia, não é porque nós divergimos da posição da outra pessoa que nós devemos agredi-la fisicamente e verbalmente ou retirar de forma violenta uma peça de uma exposição que foi autorizada pela presidência da Câmara”.

Rodrigo Maia também desaprovou os deputados que defenderam o Coronel e reiterou que a importância do Dia da Consciência Negra, bem como o diálogo, “é um dia em que nós deveríamos estar defendendo a inclusão dos negros na política, a igualdade de oportunidades e não agredindo um cartaz, que pode inclusive, ser injusto por parte da polícia. Mas isso nós deveríamos ter resolvido com o diálogo e não com agressão”, concluiu.

O que diz o Ipea

No mais recente estudo divulgado pelo órgão em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o Atlas da Violência de 2017 revelou que em dez anos (2007-2017), a taxa de homicídios de pessoas negras cresceu em 33,1%, enquanto os assassinatos aos não negros aumentou em 3,3%. De acordo com a pesquisa, só no ano de 2017, 75,5% das vítimas de homicídio no Brasil eram negras. 

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