Vaza Jato: procuradores reconhecem ajuda a Bolsonaro

Informações são de Mônica Bérgamo, da Folha de São Paulo, e se baseiam em diálogos de 2019, revelados pela defesa do ex-presidente Lula, nesta segunda (29)

por Marília Parente seg, 29/03/2021 - 11:32
EVARISTO SA / AFP O procurador Deltan Dallagnol, que chefiou a operação por seis anos. EVARISTO SA / AFP

O procuradores da Operação Lava-Jato reconheceram que a operação favoreceu politicamente o atual presidente Jair Bolsonaro (Sem Partido) e buscaram uma forma de se desvincular do político. Os novos diálogos, que ocorreram em março de 2019, foram divulgados pela jornalista Mônica Bérgamo, da Folha de São Paulo.

De acordo com Bérgamo, as conversas foram entregues ao Supremo Tribunal Federal (STF) pela defesa do ex-presidente Lula, nesta segunda (29). Os advogados tiveram o acesso ao material autorizadoo pela Operação Spoofing, que investiga o hackeamento dos aparelhos celulares dos integrantes da operação. Os procuradores temiam que o ganho político de Bolsonaro com a operação comprometesse sua credibilidade com a imprensa.

"Delta, sobre a reaproximação com os jornalistas, minha opinião é de que precisamos nos desvincular do Bozo [Jair Bolsonaro], só assim os jornalistas vão novamente ver a credibilidade e apoiar a LJ ", disse a procuradora Jerusa Viecili a Deltan Dallagnol, no dia 28 de março de 2019. Jerusa ainda escreveu que a Lava-Jato seria vista como apoiadora do atual presidente. "Temos que entender que a FT [Força Tarefa] ajudou a eleger Bozo, e que, se ele atropelar a democracia, a LJ será lembrada como apoiadora. eu, pessoalmente, me preocupo muito com isso (vc sabe). veja que, no passado, em pelo menos duas oportunidades poderíamos ter nos desvinculado um pouco do Bozo nas redes sociais: 1. caso Flavio (se fosse qualquer outro politico envolvido, nossa cobrança por apuração teria sido muito mais forte); 2. caso da lei de acesso à informação que o bozo, por decreto, ampliou rol de legitimados para decretar sigilo e depois a Camara derrubou o decreto. A TI fez nota técnica e tudo e nossa reação foi bem fraca (meros retweets). (ao lado do caso Flavio, o proprio caso de Onix Lorenzoni) agora, com a "comemoração da ditadura" (embora não tenha vinculação direta com o combate à corrupção), estamos em silêncio nas redes sociais. Não prezamos a democracia? concordamos, como os defensores de bozo, que ditadura foram os 13 anos de governo PT? a LJ teria se desenvolvido numa ditadura?”, questiona a procuradora.

Ela reconhece ainda que há uma perda de apoio dos “bolsominions”, conforme se refere aos apoiadores de Bolsonaro. “Sei que há uma preocupação com a perda de apoio dos bolsominions, mas eles diminuem a cada dia. o governo perde força, pelos atropelos, recuos e trapalhadas, a cada dia. converse com as pessoas: poucos ainda admitem que votaram no bozo (nao sei como Amoedo nao foi eleito no 1º turno pq ultimamente, so me falam que votaram nele). enfim, acho que defender a democracia, nesse momento, seria um bom início de reaproximação com a grande imprensa. com relação a defender a Democracia, tambem seria importante um discurso de defesa das instituições. Atacamos muito o STF e seus ministros, mas sabemos que a democracia so existe com respeito às instituições. e o STF precisa ser preservado, como órgão máximo do Poder Judiciário brasileiro”, completa Jerusa.

Deltan Dallagnol responde: "Concordo Je. Acho nota esquisita. E se fizermos artigos de opinião? Acho que não da pra bater, mas da pra firmar posição numa abordagem mais ampla". A procura pontua: “Isso. defender, sem atacar”.

COMENTÁRIOS dos leitores