Ministro tentou proteger universidade acusada de fraude

Mesmo com provas concretas de fraude no Enade 2019, Milton Ribeiro teria adiado enviar um ofício para que as autoridades investigassem a instituição presbiteriana

seg, 10/05/2021 - 09:41
Marcello Casal Jr/Agência Brasil Ele o dono da universidade já participaram de pregações religiosas juntos Marcello Casal Jr/Agência Brasil

O quarto ministro da Educação do Governo Bolsonaro, o pastor Milton Ribeiro, tentou favorecer um centro universitário presbiteriano denunciado por fraude no Enade (Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes) 2019. As informações da Folha de S. Paulo indicam que os alunos do curso de biomedicina da Unifil, de Londrina, no Paraná, atingiram a nota máxima após a coordenadora vazar a prova.

Uma investigação do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais) verificou fortes indícios de fraude após a coordenadora de biomedicina da Unifil, Karina Gualtieri, ter acesso à prova e às respostas com antecedência. Ela integrou a comissão que elaborou a avaliação para o governo e o curso alcançou a nota máxima do Enade.

O caso foi denunciado uma semana antes da prova, de forma anônima, por um aluno da universidade, que acusou Gualtieri de ter repassado as questões e o gabarito aos estudantes. Ribeiro viajou à Londrina para tratar o caso pessoalmente e depois enviou o secretário Danilo Dupas Ribeiro à instituição.

Ligada à Igreja Presbiteriana Central de Londrina, a Unifil tem o pastor Osni Ferreira, líder da igreja, como chanceler, e seu irmão Eleazar Ferreira é o reitor. Ambos foram recebidos pelo ministro em seu gabinete quando a investigação já estava em curso, aponta a publicação. Quando esteve em Londrina para visitar a instituição, o ministro aproveitou para pregar na igreja de Osni. Outros dois cultos com a presença do gestor ocorreram no fim de novembro.

Ribeiro teria adiado enviar o caso à Polícia Federal e ameaçou demitir servidores do Inep caso a investigação fosse encaminhada às autoridades. O recado teria sido dado pelo secretário-executivo da pasta, Victor Godoy Veiga, segundo a publicação. Na época, o Instituto era comandado por Alexandre Lopes.

Com atraso, o ofício só foi enviado à PF em fevereiro deste ano, após o Ministério da Educação (MEC) encerrar a investigação interna de forma favorável à universidade presbiteriana. "Toda a apuração foi realizada pelo MEC de maneira técnica, observando-se os dispositivos legais. Todos os atos administrativos praticados estão adequadamente registrados no processo administrativo encaminhado na íntegra à Polícia Federal pelo MEC em fevereiro de 2021", destaca a nota do MEC, que teria ignorado dados estatísticos da fraude apurados pelo Inep.

Técnicos do Inep compararam o resultado da Unifil com a média dos cursos de biomedicina do Brasil e também com os de nota máxima. A instituição concluiu que era estatisticamente impossível que a universidade atingisse tal desempenho.

Ribeiro retirou Alexandre Lopes da Presidência do Inep no dia 26 de fevereiro e nomeou, no mesmo dia, Danilo Dupas Ribeiro. Ele era o secretário da Secretaria de Regulação e Supervisão da Educação Superior (Setes) que realizou a apuração do caso em paralelo ao Inep e foi enviado à Londrina em dezembro. Esta foi sua única viagem oficial em seis meses na Seres.

COMENTÁRIOS dos leitores