Bolsonaro Store e a nova estratégia para reviver o passado

Entre os produtos à venda estão tábua para cortar carne e canecas de chopp, com a proposta de reforçar a memória do ex-presidente

por Rachel Andrade qua, 01/03/2023 - 07:07
João Velozo/LeiaJáImagens/Arquivo O isolamento político é um dos percalços vividos por Bolsonaro João Velozo/LeiaJáImagens/Arquivo

Quais os limites para que uma ideia permaneça na memória das pessoas? O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), o 03, publicou em seu perfil oficial, no último domingo, o lançamento de uma loja virtual para enaltecer os feitos de seu pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). A Bolsonaro Store, com apenas duas publicações até o momento, já conta com mais de 38 mil seguidores, e tem na bio o link para o site de uma loja virtual, onde são vendidos, entre outros souvenirs, um calendário com imagens do governo Bolsonaro, de 2019 a 2022.

Os calendários de parede e de mesa, cujas pré-vendas podem ser feitas até o dia 5 de março, podem ser adquiridos por R$ 59,90 e R$ 49,90, respectivamente. Além desses artefatos, também é possível comprar caneca de chopp, tábua de madeira para cortar carne, canecas de café e troféu de mesa, com preços que variam de R$ 49,90 a R$ 109,90. Todos os produtos possuem a marca da loja, com a frase “nosso sonho segue mais vivo do que nunca”.

O site é composto por elementos comuns de qualquer loja virtual, mesmo que seja inusitado o propósito que serve. O objetivo principal do comércio é, segundo o site, “manter vivo [sic] na memória boa parte dos feitos do Presidente Bolsonaro”. O próprio deputado Bolsonaro declarou, em uma publicação ontem (27), que “Certamente a compra de calendários e canecas ajudam a financiar atividades extra parlamentares, ainda mais em tempos de cancelamento”. Dentre as informações coletadas no portal e na página da loja no instagram, é possível deduzir que o projeto seja idealizado e gerenciado pelo núcleo familiar do ex-presidente.

Segundo o cientista político Victor Tavares, a ideia da loja pode ter sido inspirada no principal ídolo que a família Bolsonaro declara com orgulho, o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. O líder da extrema-direita norte-americana é detentor de um verdadeiro império de negócios, e conta também com uma loja virtual, onde vende artefatos com sua marca pessoal, enaltecendo a memória do seu único mandato presidencial, de 2017 a 2021.

"Para os Bolsonaro, a política é um negócio de família. Então, não é surpreendente o lançamento de uma loja para vender produtos relacionados ao ex-presidente. A ‘Trump store’ conseguiu lucros milionários, isso exemplifica muito bem a possibilidade de se capitalizar, em termos econômicos, em cima de um eleitorado, mesmo com uma derrota nas urnas”, explicou Tavares.

O “negócio de família” vem repercutindo nas redes sociais de maneira ambígua. De um lado, apoiadores comentam e apoiam a ideia, declarando que vão consumir os produtos à venda. Do outro, opositores fazem piadas e tecem críticas à loja, acumulando um vasto rol de “memes” nas redes sociais, como a hipotética venda de capinhas para tornozeleira eletrônica com a estampa da bandeira do Brasil.

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Tentativa de reposicionamento

Apesar da repercussão negativa, a ala bolsonarista ferrenha, que ainda defende os ideais conservadores do ex-presidente e sua família, segue na expectativa de um retorno de Jair ao Brasil. “Pensando a política nacional, talvez esse empreendimento faça parte de uma estratégia maior para manter Jair Bolsonaro como o rosto e liderança da oposição ao governo atual. O que não será uma tarefa fácil, tendo em vista que ele está fora do país”, ressaltou Victor Tavares.

Ainda segundo o especialista, é possível observar a simbologia por trás dos itens à venda, reforçando a narrativa de unidade por parte de quem apoia o antigo governo, além de demarcar uma espécie de posicionamento silencioso.

“Tábuas de madeira para cortar carne, canecas de chopp e calendários são produtos banais, mas quando vendidos com a “marca Bolsonaro”, se tornam elementos de identificação. No cenário político-social profundamente polarizado em que estamos, podem ser utilizados como marcadores para “mostrar a outras pessoas de que lado você está” e servir de alternativas para a camisa da seleção de futebol brasileira, por exemplo", pontuou o cientista.

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