O que impulsionou a aprovação de Zanin para o STF?
De acordo com especialista ouvida pelo LeiaJá, "certamente houveram conversas nos bastidores" que resultaram na aprovação de Zanin para o Supremo
Após um grande burburinho no meio político da indicação do presidente Lula (PT) do nome de seu advogado para vaga no Supremo Tribunal Federal (STF), o advogado Cristiano Zanin Martins foi aprovado. A vitória ocorreu por 58 votos favoráveis e 18 contrários, em votação secreta, na noite da última quarta-feira (21), no plenário do Senado. O bom resultado é visto por especialistas como algo que "já era provável", devido às movimentações realizadas nos bastidores políticos que buscavam a aprovação da indicação.
Aos 47 anos, Zanin chega ao Supremo após longos anos como advogado do presidente Lula nos processos da Operação Lava-Jato. Partiu dele, por exemplo, o habeas corpus impetrado na Corte em 2021 que resultou na anulação das condenações do mandatário, com o reconhecimento da parcialidade do então juiz Sergio Moro (UB-PR) na condução da ação penal.
A reversão das sentenças restaurou os direitos políticos do líder petista, que chegou a ficar preso por 580 dias em Curitiba. Devido esses feitos do advogado e sua aproximação com Lula, parlamentares de oposição ao atual governo continuam criticando a indicação. Antigo adversário de Zanin no meio jurídico, o senador Sergio Moro, afirmou que a indicação de Zanin “fere o espírito republicano”.
“A nomeação de um advogado e amigo pessoal do presidente da República para o Supremo Tribunal Federal não favorece a independência da instituição e fere o espírito republicano”, escreveu no Twitter.
Em entrevista ao LeiaJá, a cientista política Letycia Raila disse acreditar que a aprovação de Zanin ao Supremo foi impulsionada por fortes movimentações nos bastidores políticos. Ela ainda avalia que grupos da esquerda esperavam o presidente Lula indicar alguma mulher ou algum negro na substituição do ministro Lewandowski, e assim, confirmar avanços da "pauta de diversidade que o governo trouxe bastante durante as eleições".
"Sobre a indicação do Zanin, as pessoas, inclusive a própria esquerda, esperavam uma indicação mais voltada para o público negro ou de mulher. Pegou as pessoas, não direi de surpresa, mas as deixou em uma posição um pouco desconfortável por Zanin ser advogado pessoal do presidente Lula. Apesar disso não ser ilegal, passa uma ideia de imoralidade e antiética. Então isso pegou a própria base da esquerda desprevenida, mas acredito que ele passou com relativa facilidade. Ele passou com 58 votos, porém só precisava de 41. A votação foi bem rápida, então certamente houve conversas nos bastidores a respeito disso", afirmou a especialista.
No início deste mês, o futuro ministro do Supremo almoçou com três congressistas com forte poder político: o senador Carlos Viana (Podemos-MG) e os deputados Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) e Renata Abreu (Podemos-SP). Além disso, na manhã do dia 7 de junho, Zanin tomou café da manhã com um ex-líder do bloco cristão, o deputado Cezinha de Madureira (PSD-SP), e mais parlamentares evangélicos.
Após a aproximação do advogado com figuras políticas vinculadas as igrejas neopentecostais, um dos maiores líderes religiosos e aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o pastor Silas Malafaia, fez questão de elogiar Cristiano Zanin.
Em entrevista à Folha de São Paulo, Malafaia disse que o futuro ministro é um “cara de família”. O pastor da Assembleia de Deus Vitória em Cristo também afirmou que Zanin não é um “advogado militante do PT”. “Advogado é advogado. Uma coisa é advogado militante, e [Zanin] não é advogado militante do PT, é um advogado contratado por Lula”, disse.
Com posse prevista para agosto, Zanin será o ministro mais jovem a ocupar uma cadeira no Supremo. Se permanecer no tribunal até a idade máxima permitida na Constituição, terá 27 anos de magistratura pela frente, ou seja, pertencerá a Corte até 2050.
O salário inicial do advogado será de R$ 41.650,92, valor que é superior a 31 salários mínimos. A partir de 1º de fevereiro de 2024, será de R$ 44.008,52, e depois de 1º de fevereiro de 2025, passará a ser de R$ 46.366,19.