Abin: garimpeiros financiaram atos golpistas
Documentos entregues pelo órgão à CPI dos Atos Golpistas mostram roteiro de tentativa de golpe de Estado
A Agência Brasileira de Inteligência (Abin) entregou à CPI dos Atos Golpistas, responsável por investigar os ataques de 8 de janeiro, 11 relatórios de investigação acerca da organização dos prédios dos Três Poderes e de seus financiadores. Os documentos constituem um roteiro dos atentados que visavam engendrar um golpe de estado.
Nos relatórios, obtidos pela TV Globo, a Abin rastreia os suspeitos de financiar e divulgar os atos, mostrando como eles se articularam por meio das redes sociais e até um plano de ataque a torres de energia e sistemas de controle. Dentre as ações da Abin, uma análise de máquinas usadas no garimpo ilegal no Pará permitiu o rastreio de uma rede de empresários que financiou os ataques golpistas.
Segundo o relatório, os empresários Roberto Katsuda e Enric Lauriano estão diretamente ligados ao garimpo e possuem relação com políticos da região. Enquanto Lauriano financiou manifestações no Pará e em Brasília, marcando presença nos atos do oito de janeiro, Katsuda é classificado pelos documentos como "notório defensor de garimpos em áreas protegidas e visto como um dos maiores articuladores políticos" do tema.
Também foram identificadas oito retroescavadeiras em atividades ilegais dentro das Terras Indígenas Kayapó e Trincheira-Bacajá, no sudeste do Pará. Destes equipamentos, três pertenceram à empresa BMC Máquinas, Equipamentos Pesados, Engenharia e Locações, administrada por Felipe Sica Soares Cavalieri, com sede em Itatiaia (RJ).
Outras quatro retroescavadeiras também eram da empresa, mas foram revendidas. A filial da BMC em Itaituba (PA) é administrada pela filha de Roberto Katsuda e é o principal ponto logístico para o garimpo na bacia do Rio Tapajós. O relatório aponta que Katsuda "financia a estrutura do lobby garimpeiro do vereador Wescley Tomaz". Tanto o político quanto o garimpeiro integram a comissão pró-garimpo, junto com Fernando Brandão, dono de um escritório de advocacia, e Guilherme Aggens, engenheiro florestal da Geoconsult Pará.
Confira a lista dos relatórios entregues pela Abin:
1.Empresários que contrataram ônibus fretados para transportar os golpistas
2. Envolvimento de empresários do garimpo no financiamento dos atos
3. Empresas transportadoras que deram suporte às ações violentas
4. Ameaças de novas ações violentas como identificação de explosivos em locais públicos e sabotagem de sistemas de controle industriais
5. Ataques a torres de linhas de transmissão de energia com objetivo de causar prejuízo no abastecimento
6. Influenciador digital que participava de grupos extremistas em redes sociais com convocações para os atos golpistas
7. Participante de atos extremistas que auxiliou bolsonaristas a saírem do DF
8. Intensificação da atuação de extremistas violentos de direita
9. Mapeamento dos presos e foragidos no 8 de janeiro
10. Identificação de grupo extremista violento em Brasília que poderia ameaçar a posse do presidente Lula
11. Empresários do agronegócio que patrocinaram os ataques de 8 de janeiro e articularam anteriormente diversos atos por intervenção militar e em apoio a Bolsonaro
Outro lado
A empresa BMC emitiu uma nota:
Hoje o nome da empresa BMC foi mencionado em matéria sobre a CPI dos Atos Golpistas e a um eventual “envolvimento de empresários do garimpo no financiamento dos atos”. Gostaríamos de esclarecer os seguintes pontos: 1. A empresa BMC Máquinas, Equipamentos Pesados, Engenharia e Locações Ltda., bem como seus executivos e sócios, entre eles Felipe Sica Soares Cavalieri, jamais estiveram envolvidos em qualquer ação relacionada aos atos golpistas como também a qualquer prática de garimpo ilegal. 2. A matéria informa que foram identificados três equipamentos comercializados pela BMC, que eram utilizados em atividades ilegais dentro das áreas indígenas Kayapó e Trincheira-Bacajá, no sudeste do Pará. A BMC já comercializou mais de 25.000 dessas máquinas escavadeiras e não é possível relacionar qualquer envolvimento da empresa em atividades dessa natureza. 3. A matéria cita que a BMC tem filial em Itaituba, no Pará. A BMC não possui filial na cidade de Itaituba, no estado do Pará, e a filha do Sr. Roberto Katsuda, mencionada na matéria, não tem qualquer função e muito menos ocupa cargo na área administrativa da BMC. 4. A filha do Sr. Roberto Katsuda, Sra. Bruna Maria Gravena Katsuda é sócia de outra empresa, com nome semelhante, a BMG Comércio de Máquinas (CNPJ nº 26.001.755/0001-02), com a qual a BMC mantinha relações comerciais, de venda de empresa para a empresa, uma modalidade conhecida como B2B (business to business), visto a BMC ser a única comercializadora desse tipo de equipamento da marca Hyundai. A BMC vende seus equipamentos para outras mais de 100 revendas no Brasil, além de venda direta ao consumidor. 5. A BMC tomou conhecimento de relatório elaborado pelo Greenpeace, que apontava que os equipamentos da marca Hyundai, vendidos pela BMG, estavam sendo utilizados em garimpos ilegais no estado do Pará. Ato contínuo, após acordo firmado entre o Greenpeace e a matriz da Hyundai, na Coreia do Sul, em maio deste ano, a BMC notificou a rescisão do contrato com a BMG. 6. Em suas diretrizes de governança corporativa, a BMC, ao vender seus produtos, exige que os clientes declarem, expressamente, que não exercem qualquer atividade ilegal, principalmente, mas não tão somente, atividades de desmatamento de florestas, destruição do meio ambiente, violação de terras indígenas e mineração ilegal. Diante desses fatos, solicitamos que a matéria seja atualizada com as informações apresentadas acima.