Mais preciso que a mão humana, robô ajuda em transplante
Com o uso do equipamento, o procedimento antes complexo se torna cada vez mais simples e bem menos invasivo
O Hospital São Luiz, da Rede D'Or, em São Paulo, fez nesta semana uma cirurgia inovadora, que começa a ganhar espaço em unidades de referência no Brasil: um transplante renal entre duas pessoas vivas (pai e filha) executado parcialmente por um robô. O responsável pela cirurgia foi o médico Rodrigo Vianna, da Universidade de Miami, que veio ao País para o procedimento. Com o uso do equipamento, o procedimento antes complexo se torna cada vez mais simples e bem menos invasivo.
O robô foi usado para retirar o órgão da doadora. Como a intervenção é bem menos invasiva do que o procedimento realizado por humanos, ela sentiu pouca dor, praticamente não sangrou e teve alta no mesmo dia, algumas horas depois do procedimento. O receptor teve alta nesta quarta. A previsão dos especialistas é realizar nos próximos 30 dias um transplante semelhante. Mas, desta vez, será executado inteiramente pelo robô - tanto a retirada do órgão quanto o transplante.
Num futuro não muito distante, com a estabilidade da rede 5G, o procedimento poderá até mesmo ser feito a distância. No caso de Rodrigo Vianna, por exemplo, ele poderia continuar operando pacientes no Brasil sem sair de Miami. No procedimento com o robô Da Vinci, o médico não se aproxima do paciente. Ele está na mesma sala de cirurgia operando uma espécie de joystick que passa as instruções ao robô. O médico acompanha a cirurgia por vídeo.
O Da Vinci melhora o desempenho do cirurgião, porque proporciona movimentos mais amplos. Chega a 360 graus de rotação e possibilita uma atuação mais precisa. As imagens em 3D com aumento de até dez vezes permitem ao médico visualizar melhor a anatomia dos vasos e estruturas do órgão.
No procedimento realizado esta semana, o robô fez uma pequena incisão na paciente pela qual retirou o rim saudável com pinças. Segundo especialistas, as intervenções feitas pelo robô são muito mais precisas do que quando feitas pelas mãos humanas. É o caso da cirurgia tradicional e também da laparoscopia.
Em seguida, o rim foi transplantado para o pai da paciente, que estava no mesmo centro cirúrgico, mas por meio de um procedimento cirúrgico tradicional.
Em conversa na noite de segunda-feira, pouco antes de ir para casa, Patrícia Tamada, de 34 anos, relatou estar feliz com o resultado da cirurgia, que terminara algumas horas antes. "Eu saí do centro cirúrgico não tem nem dez horas, já fiz três refeições. Não estou sentindo dor, estou andando e já estou pronta para ir para casa", contou a consultora de TI.
Desde 2018, transplantes renais com o robô Da Vinci já foram feitos no Hospital Pedro Ernesto, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), no CopaStar, da própria Rede DOr, e no Hospital São Lucas. Os três ficam no Rio.
O robô também já foi usado no Hospital Brasília, no Distrito Federal, e no Hospital Felício Rocho, em Belo Horizonte. "Devido ao custo e à complexidade, não é uma cirurgia muito praticada", explica Rodrigo Vianna. "Mas no caso dos transplantes, ela traz muitas vantagens. O braço do robô, além de propiciar um corte muito mais preciso (faz movimentos que a mão humana não faz), ele não exerce pressão. Com isso, o paciente sente menos dor e consegue ter alta precocemente", afirma.
Em 90% dos casos, segundo ele, o doador consegue ter alta em menos de 24 horas, sem sentir dor na incisão e já caminhando. "No procedimento tradicional, ele fica internado de dois a três dias. Isso é um grande incentivo para a doação de órgãos", acrescenta o especialista. Como o rim é extraído pelo robô com cortes muito precisos e praticamente sem manipulação, o transplante (mesmo com o método cirúrgico tradicional) é também menos traumático. No caso da cirurgia desta semana, o paciente teve alta na quarta-feira, apenas 48 horas depois do procedimento.
"Nunca achei que fosse possível ver uma doação assim, do jeito que eu vi hoje. Queremos mostrar que esta técnica já existe e está disponível no Brasil", afirmou o nefrologista Bráulio Martins, médico de Patrícia e de seu pai, Mário Tamada, de 61 anos, que sofria de insuficiência renal crônica. "Os próprios convênios podem pagar, é um direito do paciente. A medicina deve ser para todos, não privilegiar os ricos, então estamos mostrando que essa técnica é uma opção."
PREÇO
O hospital não informou o custo do procedimento com o robô, mas ele ainda é mais caro do que a cirurgia convencional. Entretanto, com a redução significativa do tempo de internação do doador e do receptor e a consequente redução do risco de infecção hospitalar, o procedimento deve ficar mais acessível em pouco tempo.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.