Professora é ameaçada de morte por realizar pesquisa

Educadora da UFBA realiza estudos sobre divisão sexual no trabalho. Outros professores também foram ameaçados

por Nathan Santos qua, 22/11/2017 - 10:01
Reprodução/Facebook oficial da UFBA Registro ilustrativo de uma das entradas da UFBA, em Salvador Reprodução/Facebook oficial da UFBA

A Universidade Federal da Bahia (UFBA) repudiou ameaças contra três professores que desenvolvem, na própria instituição de ensino, pesquisas acadêmicas. De acordo com a UFBA, há até ameaça de morte, oriunda de pessoas que não respeitam o mote do estudo: divisão sexual no trabalho.

De acordo com a Universidade, a maioria das ameaças ocorre pelas redes sociais há cerca de um mês, no entanto, ainda não foi possível identificar quem são as pessoas responsáveis pela violência. A professora ameaçada de morte teve a identidade preservada pela instituição de ensino, porém, a UFBA revelou que ela integra o Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre a Mulher (NEIM). Além da violência contra os três professores, uma estudante de mestrado foi ameaçada antes de apresentar sua dissertação. 

Em nota publicada na última segunda-feira (20), a UFBA, por meio do reitor João Carlos Salles Pires da Silva, condenou a atitude dos ameaçadores e valorizou as temáticas abordadas pelos professores e estudantes, tais como gênero, diversidade, mulheres e feminismo. A instituição de ensino também revelou que as próprias vítimas solicitaram medidas de segurança; o conteúdo completo das ameaças, porém, não foi divulgado. 

“Em episódios recentes, verificamos ameaças de morte e outros tipos de violência contra uma de nossas docentes, pesquisadora do NEIM (Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre a Mulher); a tentativa de impedimento de defesa de uma dissertação de Mestrado de aluno do IHAC (Instituto de Humanidades, Artes e Ciências), tendo que solicitar a segurança da própria Universidade; e a perseguição e ridicularização nas redes sociais de projetos de pesquisa e extensão que versam sobre essas temáticas”, informou a Universidade.

Ainda em seu posicionamento, a UFBA informou que essas ameaças e demais intolerâncias acontecem além dos muros das universidades. “Tais iniciativas obscurantistas não têm se restringido à nossa Universidade. Vimos também elas se estendendo contra eventos científicos, práticas culturais, artísticas e intelectuais, por meio não apenas de ataques virtuais, mas também de cancelamento de exposições e censura à peça de teatro. Assistimos perplexos à tentativa de cerceamento e agressão à filósofa Judith Butler, que em 2015 acolhemos com tanta satisfação na UFBA. Também nos deixa estupefatos o inquérito policial instaurado contra um projeto de pesquisa de um professor da Universidade Federal de Ouro Preto, assim como a tentativa de aprovação de diversos projetos de lei que violam frontalmente a Constituição Federal e Tratados e Convenções em Direitos Humanos vigentes”, diz a nota da instituição de ensino.

De acordo com a Universidade, “o clima de intolerância” está estabelecido no Brasil e repercute “de forma drástica na liberdade de expressão, no livre exercício profissional e na autonomia universitária para tratar de temas relevantes concernentes a determinados segmentos sociais”.  A nota ainda crava claramente a posição contrária às ações dos ameaçadores. 

À imprensa, a assessoria da UFBA garantiu que foram tomadas as providências necessárias para garantir a segurança das vítimas, bem como para manter a ordem durante os eventos científicos e acadêmicos realizados nas dependências da Universidade. Em entrevista ao Correio Brasiliense, uma pesquisadora que terá a identidade preservada contou que as ameaças são oriundas de inúmeras redes sociais e, diante da violência, o NEIM entrará na Justiça para punir os agressores.

A Procuradoria Federal está acompanhando o caso; as vítimas devem prestar queixa na Polícia Federal e, para a efetivação do procedimento, os envolvidos estão reunindo provas contra os agressores.   

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