Do funk ao sertanejo: paródias embalam feras do Enem
Músicas adaptadas aos assuntos das disciplinas da prova ainda fazem sucesso nas salas de aula
Entre a pressão pela nota dos sonhos e o quadro repleto de conteúdos, um momento de leveza e descontração. Na fase final de preparação para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), a tensão sobre os candidatos dá lugar, em alguns instantes, a músicas que contribuem para a compreensão dos assuntos trabalhados em sala de aula. Não é de hoje que as paródias são utilizadas por professores que apostam no embalo das canções como uma ferramenta que une brincadeira e aprendizado.
Funk, sertanejo universitário, brega e tantos outros ritmos. É grande a lista de sucessos que inspiram músicas adaptadas aos assuntos das disciplinas do Enem. No lugar das letras que lideram a mídia musical, são feitas rimas que resumem conteúdos de matemática, português, química, biologia, física e de outras matérias.
O professor de matemática André Maranhão soma 23 anos de sala de aula. Experiente, o educador é adepto às paródias como um auxílio à explicação do conteúdo e não como uma atividade que deve tomar todo o tempo da turma. “Enxergo como um auxílio para memorizar uma fórmula e para tornar a aula mais dinâmica. Não é uma aula inteira. Você pega alguns momentos e reserva um minuto de uma aula de três horas, por exemplo”, alerta Maranhão.
Com passagens por vários colégios e cursos preparatórios da Região Metropolitana do Recife, o professor de matemática acredita que a paródia, além de promover uma revisão para os candidatos, diminui a tensão pela aprovação. “É um momento que você torna a aula mais lúdica, porque o grande problema hoje da educação não é a avaliação, e sim motivação. Como você faz o aluno se sentir bem? Você tem que ser dinâmico, não pode ser um professor paradão”, acrescenta.
No repertório do professor há dezenas de paródias. Ele revela que não existe uma preferência por qualquer ritmo e não há um padrão de composição. “Simplesmente vou ouvindo uma música que está na mídia e faço a paródia na hora, passo para o papel”, revela. A canção escolhida é a que está em evidência, considerada um "chiclete" na mente do público.
De acordo com André, a primeira paródia surgiu em 2008, inspirada na canção infantil “Os Dedinhos”. “Estava dando aula e progressão aritmética e geométrica tem muitas fórmulas. Então, senti a necessidade de ver algo diferente. A partir daí as paródias foram surgindo”, relembra. Entre as adaptações do professor André Maranhão, os alunos curtem funk, bregas da cena musical pernambucana e até swingueira, a exemplo de “Não Vale Mais Chorar Por Ele”. Confira a desenvoltura do professor:
Aluna do professor André em um curso preparatório localizado em Olinda, na Região Metropolitana do Recife, Alice Lima, de 17 anos, diz que o momento das paródias é importante para os colegas de classe. “Acho muito produtivo para os alunos, porque a paródia faz com que a gente fixe mais as formas de resolver os exercícios. Também faz com que a gente tenha um estímulo a mais para vir à aula. A aula é divertida e faz com que a turma goste de estar aqui”, opina Aline que pensa em cursar história ou direito.
Para a estudante Maria Isabel de Oliveira, 17, aluna do mesmo preparatório, as paródias deixam as aulas mais leves. “Ajuda muito, porque o professor anima a gente, nos dá incentivo para estudarmos. Já lembrei das músicas em vários exercícios”, comenta a jovem.
Músico e professor
Há dez anos atuando com docente de biologia, Maxuel Barreto divide o amor pela sala de aula com o universo musical. Além de conduzir turmas do ensino médio e que encararão a prova do Enem, Barreto é músico e gere uma produtora. O contexto perfeito para adaptar os assuntos de biologia a paródias que caem no gosto dos estudantes.
De acordo com o professor, seu contato com a música facilita bastante na hora de criar as paródias. “Consigo fazer letras rapidinho. A música já nasceu comigo”, brinca. “A aula com paródia é bem motivadora, porque é um assunto resumido em forma de música”, comenta.
O professor de biologia alerta que a paródia não pode ser a base de estudos dos candidatos. O recurso é apenas uma forma de revisar os assuntos e, sendo assim, as leituras e aulas tradicionais merecem toda a atenção dos feras. “Não serve como parâmetro para estudar! Você não pode pegar a música e confiar nela. Você a usa para fixar o que aprendeu. Muita gente acha que a música aprova e ela não aprova”, alerta Barreto.
Como bom nordestino, o professor de biologia prioriza xote e forró ao fazer suas paródias. No entanto, o educador já criou adaptações de outros ritmos, como o sertanejo universitário. “Tenho praticamente uma paródia para cada assunto. São umas 30, 40 músicas”, garante. Para dar vida às canções, nos momentos de pausa e de descanso, o professor escreve suas paródias. “Já fiz música até no trânsito do Recife”, brinca.
Diante de seus alunos do curso NCN Vestibulares, localizado na Avenida Caxangá, Zona Oeste do Recife, Maxuel embala a explicação no ritmo do sertanejo universitário. Sua mais recente criação é uma paródia da canção “Dona Maria”, sucesso nacional na voz do cantor Thiago Brava. Assista:
Relembre
O professor de química Valter Júnior também faz sucesso entre seus alunos ao investir em paródias. A mais famosa, inspirada na música “Envolvimento”, da MC Loma, foi destaque no programa Vai Cair No Enem.