Crises humanitárias: o que são e quais podem cair no Enem?

Professor analisa pontos importantes de história que caracterizaram o surgimento de grandes crises humanitárias enfrentadas atualmente no mundo

seg, 29/10/2018 - 17:14
Pixabay/ Creative Commons Campos de refugiados no Oriente Médio Pixabay/ Creative Commons

Na reta final de preparação para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) os feras têm que ficar atentos aos assuntos de atualidades. Dentro da prova é exigido o conhecimento de diversas áreas. Entre elas, estão assuntos que abordam a compreensão da realidade, com destaque para as crises humanitárias, questões de suma importância que podem ser abordadas no Exame.

As crises humanitárias são definidas como casos de situação de emergência, nos quais há risco à vida. A caracterização de uma crise do tipo vem de situações nas quais há privação de alimentação, abrigo, riscos à saúde, à segurança ou ao bem-estar de uma comunidade ou de um grande grupo de pessoas.

Entre os exemplos de fenômenos que podem contribuir para uma formação de crise humanitária estão: conflitos armados; epidemias; crise alimentares ou desastres naturais. O professor de geografia do Caras de Pau do Vestibular, Benedito Serafim, destaca que em 2018 existem alguns pontos nos quais o fera de prestar atenção.

“Encarar o Enem é compreender diversos aspectos. As crises humanitárias exigem uma compreensão de suas causas e consequências sociais e políticas. Neste ano, vivenciamos alguns pontos bastante importantes, como as crises migratórias provocadas pelos conflitos na região da síria e dificuldades econômicas na Venezuela. Além de ainda destacar o movimento de mexicanos aos Estados Unidos”, analisa Benedito.

Em entrevista ao LeiaJá, o docente detalhou o contexto dos movimentos classificados por ele como "mais importantes" e que merecem atenção do participante do Enem. “Para se destacar, o fera deve ter a consciência dos assuntos em nossa realidade. É característica do Exame”, lembra Benedito. A recomendação é revisar o conteúdo e não esquecer de contemplar pontos de atualidade.

A crise econômica da Venezuela

Considerada a maior crise humanitária da América Latina, a Venezuela enfrenta hoje um processo de evasão da sua população para países vizinhos. As causas são a falta de recursos, dificuldade em emprego e momento econômico conturbado. Esse processo, segundo Benedito, começou com a má administração pública causada pelo governo de Maduro.

“O fator principal nesse processo foi investir apenas no petróleo como fonte de economia central do país. Nisso, com a crise mundial da substância envolvendo os Estados Unidos e Arábia Saudita em 2014, o preço caiu em detrimento da grande produção desses países”, explica. Com o mercado externo oferecendo o produto a preço mais baixo e a política interna estabelecida pelo governo de congelamento de preços fez com que a economia do país perdesse fôlego.

Ainda de acordo com o docente, em tempos de crise em grandes países a tendência é reajustar os preços para se manter competitivo e atrair investimento. Na Venezuela foi diferente. A classe empresária viu o lucro cair, tendo em vista o custo de produção aumentado e, sem conseguir reajustar o preço, foi obrigada a fechar empresas, diminuindo postos de trabalhos. Esse movimento aconteceu em diversos setores no país.

As consequências são desabastecimento e falta de emprego. Com todos os problemas enfrentados, a população acaba sentindo-se obrigada a ir a outros países. Bendito destaca que esse movimento é conhecido como “rota da fome”, em que há esse movimento migratório em busca da sobrevivência. Os venezuelanos, por sua vez, encontraram saída para países vizinhos, entre eles, o Brasil.

Em terras brasileiras, o principal estado que recebeu imigrantes foi Roraima. “Em crises humanitárias, a população faz de tudo para tentar se manter, passando por situações de risco nesse movimento em direção ao novo país”, pontua. Essa entrada expressiva de imigrantes provoca a criação de problemas sociais, como a falta de suporte para acolhimento, superlotação e possíveis movimentos radicais por medo de perda de garantias para estrangeiros.

Benedito frisa que no Enem será possível a cobrança do tema, por se tratar de um assunto que está em alta no mundo. “O enem é uma prova governamental. As atitudes de um governo vão estar na prova. Hoje, o atual governo de Temer não tem nenhuma proximidade com o da Venezuela. Então, considero que mostrar a crise política do país vizinho é possível”, pontua. Ainda para o docente, os feras devem ficar atentos à questão da rota da fome e a má administração. Assim como ao ponto de análise de que um governo falho pode levar o país a uma grande crise.

Anos em guerra: a região da Síria

Benedito destaca que o assunto é o que mais repercute e gera crises de diversas esferas na atualidade. Ele afirma que é importante para o fera compreender a complexidade que está por trás dessa guerra civil e religiosa travada por mais de 7 anos na região. “Existem algumas forças que contribuíram para essa crise. A política e religião nessa região está inteiramente interligada e movimentos diferentes lutam para a conquista de seus ideais”, menciona.

A criação do grupo Estado Islâmico é um dos fatores mais decisivos nesse processo. O docente explica que as ações dos Estados Unidos, como a derrubada de Saddam Hussein, provocaram uma imensa lacuna no Afeganistão. Isso uniu os militares da Al-Qaeda e os de Israel que simpatizam com o político morto na criação do grupo. Defendendo um governo teocrático, em que o centro das ações seja baseado na religião, o Estado Islâmico, acentua sua luta na criação de um país em que todos os moradores devem ser mulçumanos "suita salafita".

O termo indica uma questão religiosa em que a interpretação dos escritos compreende na conquista de um novo país através de uma guerra. “Nesse novo governo, o poder é concentrado em torno da figura do Califa, ele, por sua vez, determina as atitudes de um governo, sempre observando as questões religiosas”, conta Benedito. A guerra é concentrada nessa região entre Israel e Síria e tem provocado diversos ataques.

Ainda discutindo as forças que contribuíram para a formação do estado de guerra na Síria, o professor pontua a Primavera Árabe - movimento em que o povo foi às ruas em busca da retirada dos ditadores de seus países do poder. “Essas ações foram apoiadas pelos Estados Unidos, com o auxílio de armas e apoio nas ruas. O apoio é baseado no interesse da região, rica em petróleo. O governo estadunidense vê na oportunidade de eleger presidentes de forma democrática como uma aliança e parceria econômica”, ressalta.

Quando esse movimento chega na Síria em 2011, os jovens precursores das ideias são presos e torturados, seus familiares e amigos vão às ruas e também são torturados e presos. Sendo assim, o número de protestos aumenta com a esperança de derrubar o governo de Bashar al-Assad. A Rússia, aliada do governo sírio, percebendo isso, também entra no conflito.

No meio desse conflito, o Estado Islâmico invade o país. Sendo assim, a região da Síria vira uma guerra civil com resquícios de guerra fria - pela relação entre EUA e Rússia - e religiosa. Como consequência desse processo, o movimento de imigrantes tem tomado proporções grandiosas. Mais de 6 milhões já saíram do país. Nessa rota de fuga, países da Europa são o alvo. No processo de fuga ao destino "de paz", diversas situações de risco, com condições precárias, são enfrentadas. Muitos acabam morrendo.

Sendo assim, alguns países não aceitam e consideram-se incapazes de abrigar os imigrantes, com o pressuposto de retirada de emprego de nativos para estrangeiros. Por outro lado, alguns os aceitam como a oportunidade de mão de obra barata e desenvolvimento econômico. Benedito ainda conclui que o assunto nunca foi questão no Exame, mas nesse ano tem grandes chances de aparecer. “É um assunto muito recorrente e não faltam abordagens diferentes para a problemática. O fera deve ficar atento”, observa.

Benedito esclarece que ainda existem outros pontos importantes a serem observados pelos candidatos ao Enem. Os assuntos relacionados à travessia de mexicanos com destino aos EUA também podem ser pontuados. “Ainda existem várias crises de confrontos civis na África, em detrimento dos regimes totalitários nos países. É interessante, também, pontuar a questão vivenciada no Haiti com o terremoto e os resquícios de problemas sociais que perduram até hoje”, finaliza.

Outra crise humanitária que poderá ser assunto no Enem é a relação entre Israel e Palestina. Benedito destacou em vídeo como esse processo se desencadeou e orientou os feras para construir um repertório crítico sobre o tema para ter sucesso na hora de realizar a prova; confira:

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