Afroempreendedorismo luta por espaço e protagonismo
Mesmo com um bom quantitativo de empreendedores, devido ao racismo estrutural, esses trabalhadores são colocados em um lugar de pouco protagonismo e, muitas vezes, de invisibilidade
Maioria da população do Brasil, negros e negras representam 56% dos brasileiros. No empreendedorismo, de acordo com um estudo realizado pela plataforma Movimento Black Money, aponta que 51% dos empreendedores são negros. Mesmo assim, devido ao racismo estrutural, esses trabalhadores são colocados em um lugar de pouco protagonismo e, muitas vezes, de invisibilidade.
Na tentativa de ocupar cada vez mais espaços, não apenas no empreendedorismo, a Futuro Black, iniciada em 2021, funciona como banco de talentos, assim como, de fontes profissionais negras. A iniciativa reúne cursos, palestras e consultorias destinada a pessoas negras e tem como principal premissa "não naturalize nossas ausências".
Em entrevista ao LeiaJá, a Co-fundadora da Futuro Black, Dayse Rodrigues, explica que o banco de talentos, atualmente, contabiliza mais de 400 cadastros com profissionais de diversas áreas. “O banco de talentos não conta apenas com empreendedores. Temos também médicos, tatuadores, fotógrafos, entre outros”.
Após participação de empreendedores cadastrados na Fenahall, no início deste ano, a Futuro Black promove a 1ª feira de afroempreendedorismo de Pernambuco nos dias 7, 8 e 9 de abril. O evento é realizado na Casa Estação da Luz, localizada em Olinda, Região Metropolitana do Recife, e reúne 10 afronegócios, conta com rodas de conversa, lançamento de livro e atrações artísticas. A entrada é gratuita.
Expositora na feira, Fernanda Mendes se descobriu artesão do barro durante a pandemia. "No início da pandemia, eu trabalhava como auxiliar de farmácia, mas fui demitida e passei um tempo trabalhando, ajudando minha mãe. Comecei com os vasos, muita gente começou a cultivar plantas nesse tempo. Comecei com pouco e , de repente, estava com um estoque", conta Fernanda que descobriu também, no final de 2021, o talento para pintura.
Integrante da Futuro Black desde o início deste ano, Fernanda fala com orgulho sobre a iniciativa. "Aqui é um ajudando o outro. Graças a Deus, é um dando apoio ao outro. A palavra que resume minha participação na Futuro Black é 'gratidão'. É bem gratificante fazer parte desse espaço e estar junto com todos aqui", ressalta.
Fernanda Mendes se descobriu artesão do barro durante a pandemia. Foto: Rafael Bandeira/LeiaJáImagens
A maternidade foi a responsável pela a entrada no empreendedorismo de Ana Paula, dona da marca Afromatrena, e Maria de Jesus, do Ateliê Mãos de Fada. Apostando em itens que trazem a essência da negritude, ela também passaram a fazer parte do banco de talentos no início do ano e já sentem a diferença em seus negócios.
“É um reconhecimento sem igual em todos os sentidos, de quem nos conhece e de quem passa a nos conhecer. Porque até então tudo é para os brancos, tudo só os brancos podem, tudo só nos brancos ficam bonito. E só o que nos resta é, como se diz, é o que os brancos não querem. Isso está mudando e está mudando radicalmente. Estamos tendo espaço, estamos tendo voz e a feira já é uma resposta”, expõe Maria de Jesus à reportagem.
Maria de Jesus (à esquerda) e Ana Paula (direita). Foto: Rafael Bandeira/LeiaJáImagens