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Liberdade, mas sem direitos e ações afirmativas. Jogados na rua apenas com a roupa do corpo. São essas questões que representam o 13 de maio, data oficial da abolição da escravatura no Brasil, para o movimento negro - que não enxerga nesse dia motivos para celebrar.

Isso se dá porque, há 134 anos, quando a Princesa Isabel assinou a Lei Áurea, não foi editada nenhuma medida que garantisse a sobrevivência digna dessa população que passou 388 anos sendo escravizada no país.

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Mônica Oliveira, integrante da Rede de Mulheres Negras de Pernambuco e Coalizão Negra por Direitos, reforça que os movimentos negros brasileiros não comemoram o 13 de maio por compreender a abolição como uma ação inclonclusa. 

“Nós usamos a expressão de ‘falsa abolição’ porque, concretamente, o simples estabelecimento da lei não significou melhoria da vida para a população negra. No dia seguinte ao 13 de maio, os negros ficaram na rua, sem escola, sem casa, sem alimentação, sem trabalho e sem nenhum tipo de proteção social. O Estado brasileiro se desobrigou de oferecer a proteção social para essa população”, acentua.

Para Dayse Rodrigues, consultora de diversidade racial e co-fundadora da empresa futuro black, essa data é mostrada pela história de uma forma muito “romantizada”, como se a partir da sanção da Lei Áurea tudo tivesse melhorado para os negros. 

“A princesa Isabel não tem nenhum papel central na luta pela abolição da escravatura. Quem de fato tem o papel central são os abolicionistas, são as pessoas pretas que lutaram e morreram para que isso acontecesse. Esse protagonismo deveria ser mostrado nas escolas. Imagina o impacto que isso teria na vida dos jovens pretos”, diz.

Ela lembra que a Lei Áurea foi algo pensado puramente na economia. O país estava sofrendo pressão, principalmente da Inglaterra, para ser um mercado consumidor muito maior e o Brasil tinha uma população de quase 70% das pessoas escravizadas ainda. Isso não era interessante para os países europeus”, detalha.

Mulheres unidas na área central do Recife contra o racismo. Foto: Júlio Gomes/LeiaJá Imagens/Arquivo

Mônica Carvalho complementa que, após a abolição, ao invés do governo brasileiro ajudar os negros concedendo terras e possibilitando ações afirmativas, preferiu financiar a imigração européia. 

“Concretamente, o Estado fez uma escolha. Ele financiou as passagens de navio para os europeus, financiou um atendimento quando essas famílias européias chegaram ao país e deu terras de graça. Por isso que hoje nós não temos grandes latifundiários negros. E isso é fruto de como foi feito o processo de ‘libertação’ dessa população escravizada”, fala.

É diante de todas essas faltas do governo brasileiro para com o povo preto que o 13 de maio é tido como um dia de denúncia do racismo, sendo classificado como o “Dia Nacional de Denúncia contra o Racismo”. 

“A discussão importante é como se dá o racismo hoje, porque o racismo não é uma coisa de antes, superada com a abolição. O racismo é operado como um sistema de exploração e opressão. É um sistema que está na política, na economia, na segurança pública e que violenta a população negra”, esclarece Mônica.

A integrante da Coalizão Negra Por Direitos reforça que o racismo é um sistema de dominação e está em todos os campos da vida em sociedade, atingindo todas as dimensões da sobrevivência de uma pessoa negra. 

Mas, para ela, tudo não pode ser atribuído à escravidão. “Eu jamais vou afirmar que nada mudou desde a Lei Áurea até agora, porque isso não é verdadeiro. Não é que nada mudou. Existem conquistas da população negra, existem conquistas do movimento negro. Nós avançamos em diferentes aspectos, mas nós ainda não destruímos o sistema racista”, pontua.

Celebração só em novembro

O dia 20 de novembro, data da morte de Zumbi dos Palmares, é a data escolhida pelos movimentos negros do Brasil para celebrar as lutas e conquistas dessa população que até os dias atuais luta contra o racismo e pelas reparações históricas. Neste dia, o povo preto sai as ruas do país, celebrando as vitórias, reafirmando a sua identidade e fortalecendo as suas lutas.

Maioria da população do Brasil, negros e negras representam 56% dos brasileiros. No empreendedorismo, de acordo com um estudo realizado pela plataforma Movimento Black Money, aponta que 51% dos empreendedores são negros. Mesmo assim, devido ao racismo estrutural, esses trabalhadores são colocados em um lugar de pouco protagonismo e, muitas vezes, de invisibilidade.

Na tentativa de ocupar cada vez mais espaços, não apenas no empreendedorismo, a Futuro Black, iniciada em 2021, funciona como banco de talentos, assim como, de fontes profissionais negras. A iniciativa reúne cursos, palestras e consultorias destinada a pessoas negras e tem como principal premissa "não naturalize nossas ausências".

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Em entrevista ao LeiaJá, a Co-fundadora da Futuro Black, Dayse Rodrigues, explica que o banco de talentos, atualmente, contabiliza mais de 400 cadastros com profissionais de diversas áreas. “O banco de talentos não conta apenas com empreendedores. Temos também médicos, tatuadores, fotógrafos, entre outros”.

Após participação de empreendedores cadastrados na Fenahall, no início deste ano, a Futuro Black promove a 1ª feira de afroempreendedorismo de Pernambuco nos dias 7, 8 e 9 de abril. O evento é realizado na Casa Estação da Luz, localizada em Olinda, Região Metropolitana do Recife, e reúne 10 afronegócios, conta com rodas de conversa, lançamento de livro e atrações artísticas. A entrada é gratuita.

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Expositora na feira, Fernanda Mendes se descobriu artesão do barro durante a pandemia. "No início da pandemia, eu trabalhava como auxiliar de farmácia, mas fui demitida e passei um tempo trabalhando, ajudando minha mãe. Comecei com os vasos, muita gente começou a cultivar plantas nesse tempo. Comecei com pouco e , de repente, estava com um estoque", conta Fernanda que descobriu também, no final de 2021, o talento para pintura.

Integrante da Futuro Black desde o início deste ano, Fernanda fala com orgulho sobre a iniciativa. "Aqui é um ajudando o outro. Graças a Deus, é um dando apoio ao outro. A palavra que resume minha participação na Futuro Black é 'gratidão'. É bem gratificante fazer parte desse espaço e estar junto com todos aqui", ressalta.

Fernanda Mendes se descobriu artesão do barro durante a pandemia. Foto: Rafael Bandeira/LeiaJáImagens

A maternidade foi a responsável pela a entrada no empreendedorismo de Ana Paula, dona da marca Afromatrena, e Maria de Jesus, do Ateliê Mãos de Fada. Apostando em itens que trazem a essência da negritude, ela também passaram a fazer parte do banco de talentos no início do ano e já sentem a diferença em seus negócios. 

“É um reconhecimento sem igual em todos os sentidos, de quem nos conhece e de quem passa a nos conhecer. Porque até então tudo é para os brancos, tudo só os brancos podem, tudo só nos brancos ficam bonito. E só o que nos resta é, como se diz, é o que os brancos não querem. Isso está mudando e está mudando radicalmente. Estamos tendo espaço, estamos tendo voz e a feira já é uma resposta”, expõe Maria de Jesus à reportagem.

Maria de Jesus (à esquerda) e Ana Paula (direita).  Foto: Rafael Bandeira/LeiaJáImagens

 

Nos dias 7, 8 e 9 de abril, a Casa Estação da Luz, localizada em Olinda, Região Metropolitana do Recife, recebe a 1ª feira de afroempreendedorismos de Pernambuco. A iniciativa é promovida pela Futuro Black, banco de talentos e fontes profissionais negras, e conta com a participação de 10 afronegócios, três escritores e apresentações artísticas em todos os dias do evento.

A abertura do evento será nesta quinta-feira (7), às 17h, e contará com pocket show da cantora Uana Mahin. Nos demais dias da feira haverá pinturas, debates e conexões para o fortalecimento do afroempreendedorismo, assim como, dos talentos que contam essas histórias.

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Confira a programação:

ABERTURA

Quinta-feira (07/04), das 17h às 21h30h.

Pocket show de Uana Mahin, às 20h

SEGUNDO DIA

Sexta-feira (08/04), das 14h às 21h30

Tarde no Jardim: pintura com Jeff Alan, caricaturas com César Praxedes e tranças com Ana Klyssya Tozer, da Gana Hare.

Apresentação de Gilmar Bola 8, às 19h

TERCEIRO DIA

Sábado, (09/04) , 14h às 21h30.

A Orquestra de Frevo Grupo efervescente convida Orquestra do Maestro Carlos e Mestre Lua, às 16h

Coco dos Pretos, às 17h

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