Geração de jovens nem-nem tem crescido no Brasil; entenda

Cerca de 35,6% dos jovens brasileiros nem trabalham e nem estudam atualmente. Uma das causas é a desigualdade social

ter, 31/01/2023 - 10:30
Reprodução/Freepik Cidade com as pessoas andando fora de foco Reprodução/Freepik

Nosso dia a dia é composto por tomar decisões. Escolher o que comer, o que vestir e onde ir são decisões que integram o viver humano, mas no mundo acadêmico e profissional existe uma gama de jovens que parecem não saber o que fazer da vida. Um estudo realizado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico ou Económico (OCDE) aponta que, com 35,6%, o Brasil é o segundo país com maior percentual de jovens “Nem-Nem” do mundo, ficando apenas atrás da África do Sul, com 36% das pessoas na faixa etária entre 18 e 24 anos que nem estudam e nem trabalham no país.

Segundo o professor e sociólogo, Sidarta Soria, esse fenômeno é trazido pela desigualdade social encontrada no Brasil, já que 70% dos jovens que estão fora das escolas e do mercado de trabalho, pertencem a famílias de baixa renda.

"Cerca de 70% desse contingente de jovens que não estudam e nem trabalham, pertencem à famílias mais pobres. A desigualdade social seria o primeiro fator estrutural para a incidência desse fenômeno, uma vez que temos uma maior concentração de jovens nessa condição nas famílias mais pobres", pontuou.

Um outro ponto que intensifica esses fatores, segundo Sidarta, é a conjuntura econômica do contexto. Para ele, a pandemia da Covid-19 provocou uma desaceleração na atividade econômica, o que intensificou a problemática de jovens fora do mercado de trabalho.

"Esse fenômeno Nem-Nem é intensificado pela conjuntura econômica adversa. A pandemia, por exemplo, não cria a situação, mas uma vez que ela acabou obrigando uma desaceleração econômica, por razões óbvias, como a população acabou tendo que ficar mais recolhida para diminuir a exposição ao vírus, houve uma desaceleração da atividade econômica e o problema fica intensificado batendo mais forte no contingente mais jovens", destacou.

Para além disso, o docente pontua a falta de perspectiva vista atualmente entre os jovens. O desalento com o mercado de trabalho e a evasão escolar são apontados por ele como os principais motivos que levam os mais novos a não irem em busca de desenvolvimento acadêmico e profissional. 

"Entre os fatores prováveis para explicar essa situação estão o desalento com o mercado de trabalho e a evasão escolar. No caso do Brasil, a evasão escolar bate mais forte levando em consideração que a maioria dos jovens nessa situação pertencem às famílias mais pobres, devido a insuficiência de recursos para manter crianças na escola e outros cursos básicos de sobrevivência". destacou.

Para a psicóloga Joana Helisa, a falta de investimento nos jovens tem sido uma das causas do esfriamento na procura pelo futuro profissional entre a faixa etária mais jovem. Segundo ela, o senso de urgência e imediatismo inserido na sociedade atual, tem intensificado ainda mais esse movimento.

“A geração de jovens tem forte papel no desenvolvimento das diversas áreas como a ciência e pesquisa, esportes, cultura, economia entre outros. O fator comportamental que chama atenção é a forma como essa atitude vem sendo naturalizada e aceita, uma vez que não há investimento suficiente na geração que não parece ser orientada, incentivada ou questionada sobre sua condição de vida atual, nos faz pensar sobre a forma como era conduzido nas gerações anteriores, será que “no tempo antigo” certas imposições funcionavam melhor? Naturalmente não cabe comparação quanto ao crescimento dos avanços tecnológicos que estamos vivendo, quando voltamos o olhar para 15, 20 anos atrás, percebemos que hoje a sociedade encontra-se inserida num senso crítico de urgência e imediatismo que aprisiona, adoece e nos faz desaprender a esperar”, afirmou.

A profissional ressalta ainda a importância da participação dos pais nesse processo. De acordo com ela, o caminho para reverter essa condição é educar os filhos para que sejam emocionalmente fortalecidos, assim saberão lidar com os obstáculos que surgirem e lidarão com eles da melhor forma.

“A forma como esse jovem é ensinado a lidar com suas angústias, conflitos, medos, expectativas e toda emoção não elaborada que pode gerar ansiedade, sensação de desespero e dúvida, fará toda diferença no início da vida adulta. Educar os filhos para se tornarem jovens fortalecidos emocionalmente pode ser um bom caminho. Amor e limite sempre são bem vindos no desenvolvimento da autoconfiança, bem como na capacidade de fazer escolhas saudáveis com clareza e autonomia. O filósofo Jean Paul Sartre dizia que “Toda escolha envolve risco, renúncias e incertezas”, e que “existir é escolher”. Portanto, se a pessoa não é capaz de fazer escolhas conscientes, como dará conta de atribuir sentido à própria existência?”, destacou.

“É possível ensinar os filhos a atravessar as angústias através do diálogo e da fala. A palavra sempre cura. É pela palavra que conseguimos dar o contorno necessário para enfrentarmos as nossas emoções que são próprias da condição humana”, concluiu.

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