Orquestra Contemporânea de Olinda fala sobre o novo disco

Banda lança “Pra ficar”, seu segundo disco, neste sábado em Olinda, na MIMO

por Felipe Mendes qui, 06/09/2012 - 16:56
Divulgação Orquestra Contemporânea de Olinda lança disco Pra ficar neste sábado m(8), na MIMO Divulgação

Pra ficar é o nome do novo disco da Orquestra Contemporânea de Olinda, que faz um show de lançamento neste sábado (8), no Carmo, Olinda, dentro da programação da Mostra Internacional de Música de Olinda – MIMO. A apresentação será exibida ao vivo na página da Mostra.

Surgida da cabeça do percussionista Gilú, a Orquestra é a junção de músicos experientes da cena musical independente olindense e músicos de sopro do Grêmio Musical Henrique Dias, capitaneados pelo maestro Ivan do Espírito Santo. A força criativa de Gilú (percussão), Juliano Holanda (guitarra), Maciel Salú (Voz e rabeca), Tiné (voz), Hugo Gila (baixo) e Rapha B. (bateria) se une aos arranjos de metal do maestro Ivan (flauta, sax alto, barítono e tenor), executados por Roque Netto (trompete), Adriano Ferreia (trombone) e Alex Santana (Tuba) para forjar uma sonoridade peculiar e dançante.

A OCO disponibilizou Pra ficar para download na sua página. Para poder baixar as faixas, basta um tweet. A estratégia rendeu ao grupo mais de dez mil downloads do disco em um mês. O show de lançamento marca um retorno cíclico da banda ao Carmo, na cidade de Olinda: foi lá que eles lançaram seu primeiro disco. O guitarrista Juliano Holanda e o cantor Maciel Salú conversaram com o LeiaJá sobre o processo criativo de Pra ficar, o amadurecimento da OCO como grupo e a importância da internet. Eles também falaram sobre a expectativa para o show de lançamento, confira vídeo no fim da entrevista.

Qual a maior diferença que vocês identificam deste Pra ficar para o primeiro disco da Orquestra Contemporânea de Olinda?



Juliano Holanda – No primeiro disco, ou Tiné trazia uma música e a gente trabalhava, ou eu trazia e ele colocava uma letra, ou Maciel trazia uma música dele e mostrava pra banda, que arranjava. Aí a gente gravava a base e mandava pra Ivan do Espírito Santo pra ele botar os arranjos de metais. Neste segundo, até pelo processo de maturação, nós vimos que somos um grupo que trabalha muito bem junto, que era um caminho compor em conjunto e que o que saía ficava mais interessante, com cara de banda mesmo. Durante 2011, a gente ficou muito tempo assim em estúdio, criando bases, fazendo e reescrevendo as músicas até chegar nesse resultado, que é diferente do primeiro. Quando tínhamos as músicas fomos para o estúdio e gravamos tudo.

Em que momento o Arto Lindsay entra para produzir o disco?

Juliano – Na gravação. Fizemos uma pré, enviamos pra ele, que deu uma escutada e achou que os arranjos já estavam bem resolvidos. Ele veio pra cá, passou dez dias com a gente no estúdio e, durante o processo de gravação, foi dando direcionamentos. Acho que uma coisa em que Arto foi importante foi direcionar a sonoridade do disco para uma coisa mais crua, ele teve a sacação de perceber que a OCO é uma banda muito de show, de ao vivo, então o disco é muito perto do que é o show, praticamente não tem overdubs (gravações de instrumentos extras e/ou duplicados).

Maciel Salú – Ele saiu limpando algumas coisas para que o disco trouxesse um resultado mais positivo pra gente.

E o nome do disco, Pra ficar, surgiu como?

Maciel – A gente já veio decidir isso quase nas últimas, já tínhamos pensado em vários nomes.

Juliano – Foi Aline (Feitosa) que sugeriu. Tem uma coincidência legal, porque tem uma música chamada Falar pra ficar e outra, Janela, que fala: “veja quem chegou pra ficar”, aí Aline teve a sacada e sugeriu esse nome.

Como foi o processo de amadurecimento deste disco que vocês mesmos apontam como mais coletivo e orgânico?

Maciel – Em qualquer profissão, leva um tempo para você ir cada vez mais amadurecendo e aprendendo. A gente gravou Pra ficar quase cinco anos depois do primeiro disco e no decorrer disso a gente vai aprendendo cada vez mais, tendo experiência de shows, vão surgindo ideias, isso funciona muito na Orquestra. E não é só amadurecimento, até porque todo mundo da banda já toca há um bocado de tempo e vem trazendo sua experiência, mas é uma satisfação ao público também. A gente lutou pra formar um público. A gente não está preocupado com a questão do mercado nem com a fama, hoje um artista grava um disco e já quer virar logo sucesso. Eu acho que o sucesso vem de acordo com o que o artista ou a banda vai plantando e tudo isso é fruto do que a gente plantou.

O que a banda ainda tem do seu surgimento?

Juliano – Talvez uma característica da Orquestra Contemporânea de Olinda que se mantém é uma naturalidade nas coisas, na forma de fazer. A gente tenta também não forçar um caminho que a gente não ache legal. É muito comum se dizer que o som é ‘despojado’. Não é despojado no sentido de não se ter cuidado, existe um cuidado muito grande no que está se fazendo, mas tem também um cuidado muito grande de que continue natural e soe a expressão daquilo que a gente, como grupo, sente.

Maciel – A gente vai trilhando de acordo com o que a gente pensa, para que nada faça com que a gente perca nossa identidade. A gente vai trilhando nosso caminho, aquilo que a gente quer mostrar: nossas músicas, letras, arranjos.



Falando em identidade: a Orquestra Contemporânea de Olinda é uma banda grande. Vocês sentem que Pra ficar significa que a banda encontrou uma identidade bem delimitada como grupo?

Juliano – A gente sempre conversa que é uma homogeneidade que surge da singularidade de cada um. A gente conseguiu achar um formato com a linha musical de Tiné ou a de Maciel – que são bem distintas – ou mesmo a de Gilú. A gente conseguiu achar uma zona de fronteira, um caminho onde todo mundo anda bem.

Maciel – E que funciona.

Juliano – São escolas muito distintas, é uma banda muito heterogênea, mas existem alguns pontos que se tocam, e são nesses pontos de ligação que a gente se pega quando faz música pra Orquestra. Talvez a influência mais óbvia seja a música africana, nos dois discos. Porque é uma coisa que todos gostam, todos na banda gostam de música de matriz africana e isso de uma forma ou de outra aparece no som da gente.

Maciel – Mesmo sendo escolas diferentes, todo mundo bebe da mesma fonte. E a experiência de cada um é o que fortalece a Orquestra, é o que faz a Orquestra ser o que é hoje. Uma coisa muito importante é que a gente respeita muito a opinião e o espaço de cada um. A gente sempre pensa no que é bom para a música e para a Orquestra, porque sabe que vai ser bom pra todo mundo. Isso é uma coisa que funciona muito na Orquestra. Lançamos este disco e brevemente vamos pensar no futuro, até porque vão surgindo as músicas, é o amadurecimento. A gente não quer também que as pessoas fiquem rotulando a gente, se a gente toca afrobeat, samba, a gente sempre fala que é música pro mundo. A música quebra muito preconceito das pessoas, de raça, cor, de estar perto independente de se ter dinheiro ou não. A música passa esse encontro, das pessoas se juntarem e se divertirem.



Vocês disponibilizaram o disco para ser baixado de graça na internet. Qual a importância da rede no trabalho do grupo?

Juliano – A gente é de uma geração que viu a internet surgir. A relação que a gente tem individualmente com a internet é igual a de todo mundo: emails, facebook. A ideia de disponibilizar o disco e trocar o download por uma tuitada foi de Aline (Feitosa, produtora e assessora de comunicação da OCO, que está presente e se manifesta).

Aline Feitosa – A internet hoje é o nosso maior canal de comunicação com o nosso público. A gente não tem rádio ou TV na mão, então a gente usa e abusa mesmo da internet. Se você entrar hoje no Twitter da banda, tem tuitada sobre essa entrevista que está acontecendo agora.

Maciel – Hoje a internet é um mundo, você se comunica com o mundo inteiro. Só não dá pra se comunicar com Deus pela internet hoje.

Aline – Não dá pra estar de fora.

Maciel – Quando a gente lançou o disco, em menos de uma semana já tinha mais de cinco mil downloads.

Aline – A gente já passou de dez mil em um mês, isso para uma banda independente é muito bacana.

Maciel – E tem muita gente que baixou o disco e vai pro um show e compra o CD. Para uma banda independente a internet é muito importante, porque hoje a gente tem uma mídia manipulada, comprada, que divulga o que quer, isso já vem de muito tempo. E não é que nossa música não seja comercial, ela é comercial e popular, porque a gente sobrevive dela.

Lançado o disco e feito o show durante a MIMO para lançá-lo, quais as próximas metas da Orquestra Contemporânea de Olinda?

Juliano – A gente conseguiu muita coisa com o primeiro disco, e almeja conseguir até um pouco mais com esse segundo.

Maciel – Quanto mais as pessoas conhecerem nosso trabalho vai ser melhor não só pra Orquestra, mas pra cidade da gente, pro Estado, para o Brasil, todo mundo ganha com isso.



Juliano – Talvez o grande desafio da gente seja ainda se emocionar com as coisas... A gente ir pra Europa e Estados Unidos novamente de uma forma legal, curtindo. Nossa luta é essa, sempre se colocar de uma forma melhor.

Maciel – E ampliar cada vez mais nosso trabalho.



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