Rodrigo Morcego: "Manter-se acordado e viver do passado"
Guitarrista, cantor e compositor lança no Recife seu primeiro disco autoral 'Café preto jornal velho'
O guitarrista, cantor e compositor recifense Rodrigo Morcego, que há mais de 10 anos vive do blues, lança no Recife seu primeiro disco autoral Café preto jornal velho. O lançamento acontece neste domingo (22) às 19h, com um show no Downtown Pub. O álbum de blues é cantado em português, com sotaque pernambucano e reúne referências regionais com a filosofia do ritmo musical.
Produzido por Iuri Frieberger, Café preto jornal velho conta com oito faixas e letras bem trabalhadas. Entre os destaques estão Irmãos Blues, que abre o álbum, Ladjane, e Hey Mama. A banda que compõe o disco é formada por Morcego (guitarra, violão e voz), Gilson Biu Jr (baixo) e Jô Pinto (baterista). Para o show de lançamento, a banda terá a mesma formação, além da participação do tecladista Gustavo Albuquerque.
Rodrigo Morcego é fundador da banda El Mocambo, com a qual gravou um albúm em 2007 e tocou em festivais em Pernambuco e no Ceará, além de se apresentar em várias cidades do Nordeste. É um dos responsáveis pela renovação do blues local ao promover reuniões musicais através dos eventos da Cooperativa do Blues, projeto de sua criação, trazendo bandas antigas de volta à atividade, e participa ativamente na formação dos novos talentos do blues recifense, ao ministrar aulas de guitarra no Recife.
Durante sua jornada, Morcego participou de projetos sempre ligados ao estilo. Foi guitarrista da Uptown Band no início dos anos 2000, acompanhando vários artistas do blues nacional e internacional como Bruce Ewan (EUA), Nasi (da banda Ira!), Flávio Guimarães (da Blues Etílicos), André Christovam (SP), Danny Vincent (ARG), Sólon Fishbone (RS) e J.J. Jackson (EUA), entre outros. Membro da banda Má Companhia desde 2000, trabalhou ao lado do multiartista e ícone do rock pernambucano Lula Côrtes, falecido em 2011.
O lançamento do disco conta com a participação da banda Handmade Blues Band, que abre a noite. Além do show, uma exposição em vídeo do making of das gravações do CD, que foi realizada no Estúdio Casona, compõe a festa. Os ingressos estão à venda no Bar Burburinho, Box da Vitória Régia (Praça de Casa Forte) e no site do eventick.
Confira entrevista exclusiva com o bluesman Rodrigo Morcego:
Como foi o processo de construção do disco?
O trabalho de composição aconteceu no tempo normal. Surgiu da necessidade de colocar as coisas pra fora, de compor algumas coisas relacionadas à rotina, à convivência, ligadas ao blues. O blues tem como característica ser uma música rotineira e muito direta. E como tem essa permissividade de ser rotineito, qualquer pessoa pode tentar escrever blues, é só saber adequar. A proposta do disco é bem amarrada.
Com mais de dez anos de estrada, como você define este momento em sua carreira?
Estou inevitavelmente mais maduro, mas não deixando de ter a mesma intensidade que sempre tive. Tenho trabalhado mais e às vezes é difícil encarar algum bar/contratante que não entende o que é blues, ou não se interessa pela música.
Que avaliação você faz do cenário 'blueseiro' no Recife?
O cenário do blues nunca esteve melhor, mas não significa que está bom. Sempre fiz parte do processo de reciclagem de bandas, fazendo com que a cena de blues não só existisse, mas que ela fosse renovada. Algumas pessoas acham que o blues é uma coisa 'jogada', outras já acham que é uma coisa super requintada. O blues vive desta dicotomia. E é o pai da música mais popular do mundo.
De onde vem o título Café Preto Jornal Velho?
A inspiração vem muito do formato que o disco tomou. Não surgiu de algo predefinido. Veio de uma sequência de sugestões. Já tinha este nome há muito tempo atrás e comecei a viajar nele. A minha interpretação para o título é 'manter-se acordado e viver do passado'.
Como se deu a preferência de cantar em português, com sotaque pernambucano?
Não foi fácil juntar a linguagem natal com a rotina do Nordeste, com a rotina que vivemos. O blues não é da gente, mas aprendemos muito a mostrar nossas características em estilos que não são os nossos. A referência que a gente tem é desses grandes artistas do blues, que imortalizaram o estilo e suas vertentes. A proposta de escrever em português foi desafio principal do disco. Trazer pra nossa linguagem o que de fato é. A intenção é misturar a rotina com a música. A parte instrumental é carregada de blues e de rock, mas a parte literal é em português. Quem é nordestino vai se identificar bastante com o modo como me expresso, quis trazer essa regionalidade.
Você pretende lançar outros trabalhos?
Certamente sim. Coisas novas estão por vir, estou promovendo reuniões para um projeto muito bom, que será divulgado em breve.
Serviço
Lançamento do disco Café preto jornal velho, de Rodrigo Morcego
Domingo (22) | 19h
Downtown Pub (Rua Vigário Tenório, 105 - Recife Antigo)
R$ 20
(81) 3424 6317