Eles não gostam de cinema 3D
Desconforto, dor de cabeça e incômodo com os óculos: conheça pessoas que preferem assistir a filmes no formato tradicional
A tecnologia de exibição em 3 dimensões (popularmente chamada de 3D) no cinema é a 'queridinha' de muita gente, que sempre dá preferência às sessões que exibem os filmes usando esse recurso. A expectativa de poder ver os personagens mais de perto e ter a sensação de estar dentro da cena motivam os espectadores a querer passar pela experiência. Porém, mesmo com os recursos e atrativos da tecnologia, há muitas pessoas que não fazem questão nenhuma de colocar os óculos e ter a sensação de 'mergulhar' na imagem.
A principal reclamação é em relação ao mal-estar físico provocado pelo 3D, dor de cabeça e enjoo os mais comuns. O gestor de projetos William Silvestrini afirma que já tomou muita aspirina por conta do desconforto causado por sessões 3D. Ele ainda reclama que, para quem usa óculos de grau, a situação é ainda mais desconfortável. “Pra gente que usa óculos é um desastre! Entra luz nas laterais, os acessórios ficam ainda mais pesados. Resumindo, é um desconforto total”, diz.
William lembra qual foi o primeiro longa que ele tentou prestigiar em 3D, Avatar, de James Cameron. “Não consegui ficar até o final, saí antes com muita dor de cabeça”, lembra. Mesmo com a experiência ruim, arriscou assistir ao 6D, mas alegou a mesma insatisfação.
De maneira sucinta, ele faz algumas considerações à tecnologia: “O 3D não é tão incrível. Além disso, os óculos em sua maioria estão sujos, com marcas de digital, o que dificulta ainda mais a visão”. Quanto à possível extinção dos óculos com o avanço da tecnologia, William festeja. “Se isso realmente ocorrer será mais fácil de aderir ao recurso, até por ser mais confortável”, estima.
A publicitária Núbia Modesto também se sente incomodada ao assistir a filmes em 3 dimensões. "Sempre sinto dor de cabeça e acho que algo está atrapalhando”, conta. "Sempre prefiro o tradicional de duas dimensões e só vejo em 3D quando não há outra escolha. O último que tentei assistir foi ‘Caça-Fantasmas’, pois só tinha 3D”, relata. Para Núbia, "os exibidores poderiam dosar melhor a divisão das salas que têm 3D”.
Problemas na visão
A oftalmologista Eveline Barros explica o motivo do desconforto que algumas pessoas sentem ao assistir aos filmes em 3 dimensões. “Na realidade, os cinéfilos que sentem mais sintomas como dores de cabeça ou até náuseas são aqueles que já possuem algum tipo de problema na visão. A grande questão é a dificuldade em conseguir enxergar com mais profundidade”, disse, em conversa com o LeiaJá.
“Normalmente, que possui algum tipo de estrabismo ou estrabismo subclínico podem apresentar mais sintomas. No estrabismo convencional, a pessoa já sabe que tem um desvio e na maioria das vezes é visível. Já o subclínico surge quando a pessoa é submetida a um ambiente não convencional e o corpo não consegue se adaptar, causando o mal-estar citado pelas pessoas”, exemplifica.
Ainda de acordo com a doutora Eveline, quem não possui nenhum dos problemas citados não terá sintomas como dor de cabeça e náuseas. Além disso, ela alerta que não é possível afirmar ainda se o uso excessivo dessa tecnologia, pelas crianças, pode ocasionar transtornos na visão. “É um recurso ainda muito novo para podermos saber se essa geração terá algum tipo de problema”, conclui.
Extinção dos óculos 3D
Para a solução do problema e a conquista de mais adeptos à tecnologia, a grande promessa para os próximos anos será a extinção dos óculos 3D. De acordo com a notícia publicada no site Wired, dois pesquisadores sul-coreanos teriam descoberto uma forma de exibir filmes com tecnologia 3D, sem precisar usar o acessório que incomoda tanto alguns dos cinéfilos.
A ideia é utilizar uma matriz na frente do projetor para polarizar a luz emitida. Simultaneamente, um filtro seria instalado para cobrir a tela e escurecer algumas regiões. Como o espectador só consegue enxergar alguns determinados pixels, a junção dos dois recursos possibilitaria a imagem tridimensional. A estratégia é fazer com que a luz visível para o olho esquerdo detenha apenas os pixels dedicados a ele, sendo a mesma forma para o direito.
Expansão do cinema no Brasil
Conforme dados divulgados pelo Ministério da Cultura, o parque exibidor brasileiro encerrou o primeiro trimestre de 2015 com um total de 2.870 salas de exibição. Sete complexos cinematográficos foram inaugurados no período. Outros três complexos foram reabertos. Todas as salas cinematográficas inauguradas, reabertas ou ampliadas foram colocadas em funcionamento com projeção digital. Esses complexos têm pelo menos uma sala com projeção em 3D.
Ao fim do primeiro trimestre de 2015, 74,1% do parque exibidor brasileiro já estavam digitalizados (um total de 2.128 salas). Dos 20 maiores grupos exibidores, sete já estão com 100% de suas salas convertidas. A região Sudeste apresentou a maior quantidade de salas colocadas em funcionamento no período, 25 ao todo. Em seguida, vem a região Nordeste, com 11 novas salas de exibição. A região Norte apresentou cinco novas telas. Não houve inaugurações, reaberturas ou ampliações nas demais Regiões do país.
Tecnologia 3D no Brasil
A tecnologia 3D usada nos cinemas brasileiros atualmente - e que substituiu a anterior, em que se usava óculos com lentes verdes e vermelhas - foi lançada em dezembro de 2006, no cinema Eldorado, em São Paulo, pela Cinemark. Quase dez anos depois, a exibidora possui 237 salas 3D distribuídas em 35 cidades do país. As salas com projetor digital podem exibir filmes em 3D, digital e película.
O Portal LeiaJá entrou em contato com duas exibidoras de filmes, a Cinemark e a UCI para falar sobre a perpectiva da extinção dos óculos 3D, a possível tecnologia que acabaria com o acessório e o panomara de exibição dos filmes 2D e 3D, mas não obteve respostas.