Família encena peças teatrais para moradores de rua

Mãe, seus dois filhos e a nora separam um dia da semana paras ir às praças de Belém levar teatro com mensagens de fé e paz a quem vive no abandono e esquecimento

sex, 12/05/2017 - 14:00

As noites de quinta-feira são diferentes na praça do Operário, em Belém. Pontualmente às 19 horas, moradores de rua se reúnem para assistir às apresentações de atores do Teatro Águia. Enquanto tomam o sopão doado pelos integrantes do grupo cênico, os espectadores ouvem histórias que falam do dia a dia, de problemas relacionados a uso de drogas, violência e prostitução, mas o objetivo principal das apresentações é conscientizar as pessoas em situação de risco e garantir conforto e paz. Nem que seja por alguns minutos.

As apresentações teatrais e a doação de alimentos fazem parte do projeto Teatro Águia nas Ruas, realizado há sete anos ininterruptos. O grupo formado pela teóloga Márcia Sarah, seus dois filhos e a nora interpreta Jesus, Satanás, pessoas em situação de risco e outros personagens para contar histórias. Na última apresentação, no dia 11 de maio, em São Brás, os atores falaram sobre os malefícios do uso de drogas ilícitas.

Estudante de jornalismo e filho de Márcia, Lucas Sarah diz que aquelas pessoas precisam de impacto, de algo que choque a realidade deles. Foi surgiu a ideia de usar o teatro para que eles possam se ver naquela cena. “Quando tivemos o desejo de fazer peças lá, não queria levar apenas cultura ou um espetáculo, queria que eles vissem tudo aquilo que pastores, padres e ONGs falam a eles, que aquilo não era vida, que o contato com as drogas poderia matá-los”, conta o ator.

Segundo Márcia, a cidade só enxerga essa parcela da população pelo vidro do carro ou do ônibus, como se fossem pessoas distantes, fora da realidade de suas vidas. “Eles são muitos e estão em diversas praças, as pessoas passam perto deles, mas quando se aproximam, ficam em pânico e só faltam correr. Poucos vão lá levar uma palavra de esperança e de paz”, complementa Márcia.

O trabalho da família é voluntário e recebe ajuda das igrejas ou ONGs para garantir a alimentação dos moradores de rua durante as apresentações. Segundo os atores, o público se interessa por cada cena apresentada. Há casos em que alguns moradores se envolvem na história. “Ao interpretar o papel de Jesus, fui abraçado por alguns deles pedindo a ajuda de Deus. Por outro lado, quando interpreto o papel do diabo, outros tentam me agredir dizendo: ‘Tu é o diabo que me aprisiona nessa droga’. São seres humanos que precisam de ajuda”, conta Lucas, fundador do grupo.

Quéren Sarah, estudante de técnico em enfermagem, disse que estava em um coletivo quando dois ambulantes a parabenizaram pelo trabalho. “Eles conversavam sobre em qual local utilizariam drogas ilícitas, quando um deles parou e disse: ‘Você não faz parte daquele grupo que apresenta peças que mostram toda a vida do cara no mundo do crime? Eu gosto de ver, paro para refletir em tudo que vocês apresentam’. Ouvir isso é a nossa recompensa”, comenta Quéren.

Segundo o grupo, quando começa a chover, a peça não para, pois sempre tem alguém assistindo atentamente à história. Após a apresentação os atores ficam totalmente molhados, mas para eles tudo vale a pena, pois a mensagem foi entregue ao público.

Para Marluce Negrão, estudante de técnico em administração, o Ver-o-peso é um palco especial para o grupo. “Lá comemoramos o aniversário do Águia. Desde 2009 estamos junto com eles (moradores de rua), ensaiando meses para levar algo diferente a eles”, afirma Marluce. O grupo possui um canal no youtube com todas as peças e bastidores das ações: www.youtube.com/MinistérioÁguiaTeatroCristão. Fotos ou notícias do grupo estão disponíveis no blog: www.teatroaguia.blogspot.com. Contatos: (91) 983032494 zap – Quéren / 982004797 - Márcia / 32456213 - Lucas.

Por Lucas Sarah.





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