Cosplay: uma ficção da vida real

O movimento está no Brasil desde o final da década de 1990

por Paulo Uchôa sex, 25/05/2018 - 15:25
Mari Frazão/Arquivo pessoal O termo cosplay é de origem dos americanos, mas os japoneses popularizaram o movimento Mari Frazão/Arquivo pessoal

Neste sábado (26) e domingo (27), no Centro de Convenções, em Olinda, acontece pela primeira vez em Pernambuco a Bienal Geek. Os amantes do universo dos quadrinhos e da tecnologia poderão explorar o evento por meio de oficinas, apresentações, palestras, competição de games, sem contar também na comercialização de produtos geeks espalhada por todo o pavilhão, entre outros serviços.

Para quem curte deixar de lado o papel da vida real e assumir uma identidade inspirada nos personagens de animes, mangás, filmes e séries, a Bienal é o lugar certo para desenvolver e executar o sonho de ser aquele ídolo - intocável - por um dia. No final da década de 30, em Nova York, o escritor Forrest J. Ackerman foi quem iniciou o movimento cosplay, única pessoa caracterizada de um personagem de ficção científica na feira de entretenimento montada na World Con.

Naquele momento, Forrest não imaginou que a sua atitude tomaria um rumo maior. Apesar da palavra cosplay ser um termo original do inglês, os japoneses popularizaram o seguimento. O pernambucano Lucas Rigaud, mais conhecido como Luke, foi influenciado pela literatura na infância. O ponto de partida do crítico de cinema, já tomado pela essência da imaginação capturada nos livros e em histórias cinematográficas, alçou voos na adolescência. 

"Ser cosplay, para mim, é um hobby. Eu vejo como uma forma de diversão. Você faz com prazer”, explica. O fascínio por deixar se permitir encarar o lúdico tem dois responsáveis: Marty McFly, do filme “De volta para o futuro”, e o pai. Aos 17 anos, a trilogia de Steven Spielberg e Robert Zemeckis fez com que Luke explorasse com vigor o seu imaginário.

“Aqui em Recife eu fui a primeira pessoa a representar o Marty McFly. Fui em eventos também falando da importância dos filmes. Ano passado na Comic Con, em Olinda, consegui tirar uma foto com a atriz Claudia Wells vestido de Marty McFly. Foi uma coisa fantástica”, contou.

A maioria das fantasias de Rigaud são feitas em casa, entre tecidos e elementos fáceis de montar. “A minha última produção, que eu tive que fazer do Newt Scamander, de Animais Fantásticos, gastei R$ 250". O rapaz de 23 anos esclarece que o dinheiro não está em jogo quando o assunto é o bem estar. "Eu não cobro para ir em evento. A única coisa que recebo em troca é o reconhecimento, a atenção das pessoas”, conclui.

A visão em adotar um estilo dentro do que se via nos quadrinhos espalhou-se rapidamente em diversas partes do mundo e, em 1970, a San Diego Comic Con, na Califórnia, virou referência em outros eventos produzidos para os apaixonados que não se limitam em apenas se fantasiar. A jornalista Mari Frazão, de 28 anos, entrou nesse ambiente de cosplay recentemente. Em 2017, na CCXP Tour Nordeste, Mari dispensou sua timidez.

Fã da jovem Millie Bobby Brown, a Eleven de Stranger Things, ela encarou raspar os cabelos para ter a sensação de ser a personagem com quem teve um apreço nas duas temporadas da série. “Foi uma loucura, porque o povo me parava de instante em instante pra tirar foto, perguntar se eu tinha raspado pro personagem. A interação nesses eventos geek é muito interessante. O que conecta todo mundo é tão forte que é como se você estivesse rodeado de amigos, sabe?”, declarou.

Por ser novata, curtindo cada vez mais o audiovisual, Mari Frazão expressa sua admiração por qualquer pessoa que tiver a fim de homenagear. “Eu sou a única mulher em Pernambuco que faz cosplay de Darth Vader, um dos vilões mais icônicos da história do cinema, um homem. É muito engraçado ver a cara de todo mundo quando eu tiro o capacete e as pessoas veem que é uma mulher”, relembra.

Em pouco mais de 20 anos, os cosplayers brasileiros são levados ao aprimoramento criativo das novidades da cultura pop. O que diferencia Mari e Lucas é apenas o tempo. Os dois buscam, dentro de si, a certeza de que a igualdade é um direito para todos executarem com sabedoria e respeito. 

Fazer o bem

Morando há 11 anos no Recife, a paulista Karina Moutinho, de 31 anos, aproveitava na infância os HQs do irmão para ler. A garota que colecionava figurinhas do Jaspion, hoje, abriu caminhos para horizontes que precisam de atenção e carinho. “A única coisa que eu realmente me orgulho, nesses 9 anos, é de tirar um sorriso das crianças quando vou visitá-las em hospitais. Eu não só faço cosplay nos eventos, mas também visito abrigos de idosos e casas de apoio à criança com câncer", revelou Karina.

A publicitária não tem retorno financeiro dentre as inúmeras fantasias confeccionadas por ela mesma, mas afirma que o amor em viver um personagem não tem preço. “Não importa se você tem estereótipo, se você tem dinheiro. O que importa é que você vai fazer com amor. Isso já vale”, disse Karina, que tem no seu acervo roupas de todos os tipos, como Lanterna Verde, Mulher Maravilha, Thor e Vingador (Caverna do Dragão).

Denominando a palavra cosplay como um "vício saudável", Karina Moutinho acredita que dá para você ir além, de viver os passos do seu herói em qualquer circunstância. O amor, sempre enraizado no cotidiano de Karina, é o combustível para seguir em frente. "Não existe coisa melhor que você ajudar o próximo, de qualquer forma que seja".

 

 

 

COMENTÁRIOS dos leitores