Poesia, existência e resistência de viva voz

Poeta paraense Antônio Moura terá encontro com o público no Café Literário da Casa do Fauno, nesta quinta-feira (7), às 19h30. Em podcast exclusivo para o LeiaJá, o escritor antecipa alguns tópicos da conversa.

qua, 06/02/2019 - 15:49

Os amigos do moço tímido que circulava com os olhos encobertos por óculos miúdos, no final da década de 1980, pelos pavilhões e pela beira-rio do campus da UFPA, em Belém, eram cientes de sua paixão pela literatura. Os mais próximos liam os versos que escrevia e por meio deles reconheciam, de imediato, um talento muito acima da média dos poetas de ocasião aglutinados em concursos e antologias universitárias.

Trinta anos depois, o rapaz amadureceu; hoje é um respeitável cidadão de 56 anos. O poeta também evoluiu, e alçou-se, mais uma vez, acima dos diletantes. Agora Antônio Moura é um honorável escritor com 11 livros publicados, oito deles no Brasil, três no exterior. Tradutor de poesia de língua francesa (Jean-Joseph Rabearivelo) e espanhola (César Vallejo), tem sua própria obra vertida e disseminada além-mar, em traduções para o castelhano e o inglês.

Como poeta, Moura labora rigorosamente a palavra, revelando-se às vezes ascético e impessoal, observou o crítico Benedito Nunes (1929-2011) ao apresentar seu segundo livro, “Hong Kong & Outros Poemas" (Ateliê Editorial, 1999, 89 pág.). Seu verso não cede à rima; centra-se no ritmo, compondo-se recitável e até cantável, se o leitor, dentro do próprio horizonte de expectativas e desejos, assim o quiser. Em sua carpintaria literária, ora modela poemas em prosa, ora experimentos gráfico-poéticos à maneira concreta, ora tercetos, ora quadras, mas ama e aplaina mesmo é o dístico – estrofe mínima de dois versos –, forma essencial e hiperconcentrada, minimalista até, na qual já alcançou mestria, como se pode observar em “A outra voz” (Patuá Editora, 2018, 118 pág.), seu livro mais recente.

Na obra de Moura, os temas vão se alinhavando e adicionando livro a livro: o tempo e a linguagem – matérias-primas por excelência do fazer poético –, a filosofia e a memória, a amizade e o desejo, o drama duplamente cósmico e ontológico da existência, a poesia com suas múltiplas vozes e influências, e agora, com pesar e nota de espanto, a cena histórica maculada por extremismos redivivos no século XXI. “A oficina do fascismo fabrica frias algemas”, alerta no belo, ainda que pesaroso, “Poema para ler ao andar com cuidado”.

Primeiro autor paraense vivo a ter a obra discutida no projeto Café Literário da Casa do Fauno, Antônio Moura tem encontro marcado com o público nesta quinta-feira (7), a partir das 19h30, no casarão do Baixo Reduto. Na ocasião, de viva voz, discorrerá sobre “Poesia, existência, resistência”, e lançará o poema-cartaz “Onipresença Onipotência”, em série numerada e autografada de apenas 50 exemplares.

Com exclusividade para o LeiaJá Pará, Antônio Moura gravou um breve podcast no qual fala sobre a necessidade e a pertinência da poesia no mundo contemporâneo, sobre o caráter não mercadológico da palavra poética e sobre a vocação para a resistência que lhe é peculiar – e agora mais do que nunca necessária – nos territórios da linguagem e da política. Clique no ícone abaixo e ouça.

Serviço

Evento: Café Literário.

Tema: “Antônio Moura: poesia, existência, resistência”.

Convidado: Antônio Moura, poeta e tradutor.

Moderador: Iran de Souza, jornalista.

Local: Casa do Fauno.

Endereço: Rua Aristides Lobo, 1061, Reduto, Belém.

Data e hora: 7 de fevereiro de 2019, quinta-feira, 19h30.

Entrada: gratuita.

Informações: (91) 99808-2322.

Por Iran de Souza, especialmente para o LeiaJá.

 

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