Cordel do Fogo Encantado usa sua música como arma de luta

Em entrevista exclusiva ao LeiaJá, o violonista do grupo, Clayton Barros, fez um balanço da retomada do carreira e revelou qual o objetivo da banda no atual cenário do país

por Paula Brasileiro sex, 06/09/2019 - 16:56
Reprodução/Instagram O Cordel do Fogo Encantado faz show, neste sábado (7), no Baile Perfumado Reprodução/Instagram

Em abril de 2018, milhares de fãs órfãos da banda pernambucana Cordel do Fogo Encantado viram um sonho tornar-se realidade: o grupo que havia se separado em 2010 anunciou seu retorno com o lançamento de um disco novo, Viagem ao Coração do Sol, e vários shows ao redor do Brasil e até nos Estados Unidos e Europa. 

Em quase um ano e meio da retomada da carreira, o Cordel (re)encontrou plateias sedentas, matou a saudade do Carnaval do Recife - festa que os alçou ao sucesso no início da trajetória -, aprendeu a lidar com novas tecnologias e formatos de música e viu a legião de fãs crescer ao passo que uma nova geração identificou-se com sua música. Neste sábado (7), o Cordel do Fogo Encantado sobe ao palco do Baile Perfumado, ao lado da Nação Zumbi, em um show que vai comemorar os sete anos de funcionamento da casa.

Antes do encontro com o público pernambucano, o violonista Clayton Barros falou com exclusividade ao LeiaJá sobre o turbilhão de emoções da volta aos palcos, a necessidade de se colocar em meio ao atual cenário político e social do país e o que está por vir na história do grupo de Arcoverde. 

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LJ - Vocês não tocavam no Recife desde o Carnaval, tocar em 'casa' deve ser sempre especial, né?

Recife pra nós é uma cidade que foi um ponto principal da nossa ida pela primeira vez pro Sudeste. É sempre um público muito forte e muito querido, a gente sabe que aqui é uma das nossa maiores forças.  Você junta isso com a vontade de tocar e ainda participar de uma noite com a Nação Zumbi e comemorando os sete anos do Baile. Pra nós tem uma simbologia muito forte e é diferente também porque o último show foi no Carnaval, ao ar livre, esse é à portas fechadas então a gente tem uma expectativa bacana das pessoas que movimentam o mercado da música aqui no Nordeste. É uma série de sensações e simbologias. 

LJ - Vocês já fizeram um balanço desse um ano e meio de retomada da carreira?

A gente tem falado muito sobre isso. Cada um tem uma impressão, mas uma coisa é unânime: o pensamento de como foi importante pra gente ter voltado nesse momento tão difícil no Brasil. Juntar nossa energia, nossa força artística como uma mensagem também de positividade e de enfrentamento das lutas. Falando tecnicamente, a quantidade de shows - não sei precisar agora quantos foram -, mas tem a ida pra Europa, recentemente ao Central Park (nos Estados Unidos), é muito positivo esse resultado; como o disco tem fluído na mão das pessoas, o público que se faz presente nos shows cantando junto, a recepção sempre muito bacana em todos os lugares, cada show é uma coisa diferente e a gente colhe de cada lugar a energia desse público. Mas resumindo, tem sido muito positivo a gente voltar a tocar no mundo de hoje, com as redes sociais; quando paramos ainda estava germinando o processo de internet no Brasil, não existia streaming, então tudo isso foi uma forma importante pra gente aprender a se comunicar com o público nos dias de hoje através dessas novas ferramentas. É muito positivo o saldo. 

LJ - Vocês passaram bastante tempo parados, oito anos, e voltaram, como você disse, em meio a essas novidades de mídias e formatos de música, isso deve ter gerado uma renovação do seu público. Vocês notaram isso?

Antes de voltar pro palco, a gente conversava internamente sobre como seria o encontro com quem já conhecia a banda e as pessoas que já tinham ouvido, mas nunca tinham visto ao vivo, ir de encontro a essa renovação de público tem acontecido de forma muito positiva e muito aliada às redes sociais. A gente tem aprendido muito com o próprio público a dialogar dessa maneira, com essa estrutura,  essa nova comunicação.

LJ - Você falou sobre a vontade do grupo em juntar forças a um "enfrentamento de lutas" e o disco novo, Viagem ao Coração do Sol, tem como grande mote a liberdade. Como essa mensagem tem reverberado junto ao público?

Lira mesmo disse que a arte é uma forma de manifestação política, a gente vem pra somar forças na luta, na resistência contra essas forças obscuras da política. Quando a gente fala de liberdade é aquela coisa: conhecer a sua liberdade interior e a liberdade do outro, querer sempre o outro livre. Eu acho que a democracia real é feita disso e não de passar por uma situação de você ser tolhido, perseguido, shows que têm sido censurados, isso a mim pessoalmente, me entristece. Mas ao mesmo tempo, isso promove uma reação de força, de luta, resistência, e de contestação a esses valores - se é que podemos chamar de valores os ataque à liberdade de expressão, os ataques às ideias opostas. Isso traz uma imagem muito negativa e temerosa de um passado, desde o golpe militar. Enfim, eu torço pra que a gente consiga um diálogo mais amplo e efetivo sobre todas essas coisas mas a cada dia que passa eu percebo q é utópica essa visão. Pessoalmente, é bem nítido, tenho visto um dos anos mais temerosos  em relação a uma série de coisas na política na arte, nos espaços. Um ano bem difícil tem sido 2019, mas nem por isso se torna um ano inútil, é uma ano de luta e de resistência. A gente sente que soma nessa força, é uma forma da gente expandir essa energia.

LJ - Passado esse turbilhão inicial do retorno, após tantos shows, o Cordel já tem projetos novos?

Estamos preparando coisas para o futuro próximo, ainda não posso falar muita coisa.  Filmamos vários shows, temos um material bacana pra um documentário. Estamos decidindo quais setas vão apontar para os próximos passos, a gente tá muito feliz e realizado artisticamente em todo esse processo. 

 

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