Streaming ou cinema: experiências dividem o público
Pandemia fechou grande parte das salas de cinema e opção das produtoras foi investir em lançamentos para o público assistir em casa
Em dezembro do ano passado, a Warner anunciou que todos os filmes com estreia programada para 2021 seriam lançados na plataforma de streaming HBO Max simultâneo aos cinemas. Parte dessa decisão é causada pelas consequências da pandemia de coronavírus (Covid-19), que fechou parte dos exibidores físicos. O fato pode refletir em futuras tendências da indústria cinematográfica.
O anunciou trouxe de volta o debate sobre os serviços de streaming substituírem os cinemas físicos, e dividiu a opinião do público consumidor. Em recente entrevista, o ator Tom Hanks afirmou que os cinemas vão sobreviver à crise sanitária e vão voltar mais fortes do que nunca.
Embora serviços como Netflix, Amazon, Disney+ e Amazon Prime Video sejam opções consideráveis ao consumidor, muitos entendem o ato de ir ao cinema como uma experiência diferenciada, por conta da tela grande e da qualidade do áudio presentes nos exibidores. É o caso do criador e apresentador do portal Combo Infinito, Ariel de Souza, 35 anos, de Taboão da Serra (SP). "Sou um apaixonado por cinema. Adoro o clima e a atenção exclusiva que um filme pede enquanto estamos na sala escura com a pipoca no colo", declara.
O apresentador do portal Combo Infinito, Ariel de Souza | Foto: Arquivo Pessoal
Antes da pandemia, o cinema atingia números em bilheteria que chegavam à casa dos bilhões. "Coringa" (2019) alcançou a marca de US$ 1,074 bilhão, e o sucesso "Vingadores: Ultimato" (2019) faturou US$ 2,798 bilhões com ingressos. Por conta disso, Souza acredita que os streamings precisarão de uma estratégia para gerar renda parecida, além da tradicional assinatura. "Em um mundo sem pandemia, eu assistiria aos grandes blockbusters no cinema e aos lançamentos que eu talvez tivesse dúvidas quanto a qualidade em casa", relata Souza.
Embora seja apaixonado experiência proporcionada nos cinemas, o apresentador também destaca a comodidade de poder pausar um filme para ir ao banheiro, sem a preocupação de perder cenas, como um diferencial no streaming. "Caso as empresas decidam lançar seus filmes também em streaming, eu ficaria dividido e avaliaria caso a caso se eu estaria confortável em gastar uma grana pra sair de casa, ou se aproveitaria a comodidade de assistir ao mesmo filme na minha sala", comenta.
O designer gráfico e modelador 3D Thiago Duarte | Foto: Arquivo Pessoal
Por outro lado, o designer gráfico e modelador 3D Thiago Duarte, 34 anos, de São Paulo, acredita que, assim como as mídias de áudio CD e Vinil cederam espaço para os arquivos MP3 e armazenamentos em pen-drives e cartões de memória, os cinemas também serão substituídos pelo streaming. "Pensando no cenário de pandemia, onde fomos condicionados a manter o distanciamento social, o streaming acabou sendo impulsionado, levando parte da experiência da sala de cinema para dentro de casa", reflete.
Ao pensar em um mundo onde todos estão vacinados e imunizados, Duarte afirma que o cinema nunca foi uma atração que lhe prendia a atenção e, para ele, é muito mais confortável consumir as obras em sua residência.
A adaptação dos cinemas
Por mais que exista um debate de streaming vs cinema, nem todos analisam essas duas vertentes como competidoras, e percebem neles experiências diferentes. "O streaming é uma maneira de entretenimento para quem fica em casa, por outro lado, a sala de cinema é uma diversão coletiva, para quem quer sair”, explica André Sturm, diretor do Petra Belas Artes, em São Paulo, que durante a pandemia também passou a oferecer o serviço de streaming Petra Belas Artes à La Carte.
Na visão de Sturm, as salas de cinemas devem se preocupar em oferecer experiências que as pessoas não teriam em casa, como qualidade nos produtos oferecidos, que vão desde o atendimento, projeção do filme, ar condicionado e limpeza. "Uma pessoa quando quer sair de casa, ela vai optar entre ir ao teatro, show ou cinema. Ver uma comédia no cinema é totalmente diferente do que ver em casa, pois você gargalha junto outras pessoas", destaca.
Por conta da variedade de mídia, os produtores de filmes poderão adequar suas obras em plataformas específicas. "Haverá produções que serão feitas para o streaming, que não possuem potência para serem filmes de estreia nas salas de cinema, mas que são agradáveis de assistir nos serviços domésticos. Assim como também teremos filmes para todas as janelas", finaliza Sturm.