Em busca do lançamento perfeito para Londres
Pernambucano Wagner Domingos ainda luta para conseguir a vaga do lançamento de martelo das Olimpíadas
Era final de 1997 quando Wagner Domingos, ainda com 14 anos, iniciava sua trajetória no atletismo. Mal sabia ele que alguns anos depois se tornaria um dos principais nomes do esporte no país. Atleta especialista em lançamento de martelo, aos 29 anos, o “Montanha”, como é conhecido, ainda persegue o índice para se classificar aos Jogos Olímpicos de Londres, que será iniciado no dia 27 de julho.
Wagner nem sempre teve vocação para atleta, muito pelo contrário. Depois de muita insistência do amigo Edson Salustiano, ele começou a prática esportiva, inicialmente para cuidar da saúde. “Estava acima do peso, obeso. Eu tinha mais de 100 quilos. Por isso comecei o atletismo: para poder cuidar da saúde”, explicou.
A treinadora Luciana Tavares foi a responsável pela iniciação do atleta no esporte, ainda na pista do Quartel Militar - localizado no bairro do Derby, no Recife. O pernambucano treinava em todas as áreas: dardo, disco, peso, salto e outros. Passou a integrar o Programa Atletismo Campeão, encabeçado por Abraão Nascimento, que depois de poucos meses começou a comandar o jovem.
O início de Montanha no lançamento de martelo foi curioso. “Ele fazia de tudo, menos lançar martelo. Essa modalidade era oferecida pelos campeonatos na época, mas não existia quase nenhum competidor no Estado. Formos ao Centro do Recife e encontramos um martelo para vender. Lembro que na época compramos por um preço muito baixo para ser o equipamento que era. Paguei uns R$ 6,00 e começamos as atividades”, explicou Abraão Nascimento.
O treinador lembra que não tinha conhecimentos sobre a modalidade, mesmo assim ambos acreditaram e foram em frente. “Não sabíamos nada, fomos trabalhando e aprendendo juntos. Líamos artigos, assistíamos filmes, tudo para aprimorar o trabalho. A princípio, era uma brincadeira, não tínhamos pretensão, mas aos poucos fomos evoluindo”, analisou.
O começou não foi fácil e Wagner lembra das dificuldades. “Só tínhamos um martelo e toda vez que lançava, precisava ir andando até o local para pegar, voltar e lançar de novo”, recorda. “As condições climáticas também não ajudaram. O tempo estaca chuvoso e a lama atrapalhava”, afirmou Abraão.
O primeiro grande resultado veio em 2000, quando Montanha conquistou o Campeonato Brasileiro de menores. “Éramos alvo de piadinhas. Diziam que o martelo era mais leve. Não acreditavam que um atleta pernambucano pudesse vencer a competição”, analisa o técnico. As conquistas continuaram acontecendo. Em 2002, mais duas marcas importantes: Campeão brasileiro juvenil e a quebra de recorde brasileiro durante o Campeonato Sul-Americano, em Belém-PA, onde ficou em quarto lugar.
A partir daí, Montanha passou a ser um dos mais respeitados atletas da área. Durante os 10 anos que passaram juntos, Wagner e Abraão conseguiram quebrar o recorde nacional 26 vezes. A primeira delas, inclusive, derrubou um jejum de 28 anos em relação à última marca estabelecida.
A partir de 2008, por falta de patrocinador, o lançador deixou o Recife para treinar com a Rede de Atletismo, que viria acabar pouco tempo depois por conta de problemas com doping. Mesmo não estando envolvido, Montanha acabou dispensado do grupo. Em seguida, passou a integrar o grupo da BM&F Bovespa, no qual está até hoje. Em 2010, o atleta participou de um período de atividades na Europa com o técnico esloveno Vladimir Kevo, comandante do campeão olímpico Primoz Kozmus. Ao retornar para o Brasil, segue treinando sob os olhares de Neilton Moura e Pedro Rivail Attilio.
Foram vários títulos até o momento, incluindo heptacampeonato do Troféu Brasil: 2004, 2005, 2006, 2007, 2008, 2009 e 2010. Wagner não esquece o momento mais importante da carreira. “Foi em maio de 2011. Eu descobri que estava com um câncer maligno na bexiga e precisei ir para a cirurgia. Fiz, deu tudo certo, recuperei a forma a tempo e pouco depois já estava de volta. Em agosto, consegui a medalha de prata no Troféu Brasil e o quarto lugar nos Jogos Pan-Americanos de Guadalajara, no México. Foi muito especial”, analisou.
Montanha explica que não existe uma regra muito rígida com relação à alimentação, mas que procura sempre comer coisas saudáveis. Ele ainda comentou sobre a preparação para esta temporada. “Venho treinando forte. Em média, estou em atividades de três a quatro horas por dia”. Wagner ainda não conseguiu o índice para Londres, faltam quase quatro metros. A meta estabelecida pela Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt) é de 76,08. O máximo feito até o momento pelo atleta em competições oficiais é 72,48, que é o recorde nacional.
“Acho que é importante ter um índice um pouco mais acessível. Não é uma queixa e nem que eu esteja pedindo pelo amor de Deus para ir, mas já visando os Jogos do Brasil, acho que é interessante participar dos Jogos de Londres para ter mais experiência”.
Sobre o assunto, de acordo com a CBAt, não é nenhuma novidade o fato dos atletas precisarem alcançar este índice se quiserem ir às Olimpíadas. Tudo foi estabelecido no IV Fórum do Atletismo no Brasil, em 2009, e o acertado é que em todas as disputas este índice seria baseado na média da 12ª melhor marca das três últimos Campeonatos Mundiais de Adultos ou Jogos Olímpicos, no período de 1º de janeiro até 1º de julho de 2012.
Neste caso, até o momento, estão sendo levadas em consideração as seguintes competições: Olimpíadas de Pequim (2008), Mundiais de Berlim (2009), na Alemanha, e Daegu (2011), na Coréia do Sul. A CBAt ainda explicou que se esta média ficar abaixo do índice B da Associação Internacional de Federações de Atletismo (IAAF), fica valendo a marca da entidade mundial.
A janela de classificação para todas as modalidades se encerram no dia 1 de julho. Mesmo sabendo da dificuldade, Abraão Nascimento sabe que é possível o seu pupilo chegar até esta marca e não mede elogios ao lançador. “Ele já superou vários problemas. Sempre foi focado e responsável nos treinamentos. Se marcasse treino às 6h30 de um domingo ou às 22h de um terça-feira, ele estava lá. Não será fácil, mas eu não deixaria de apostar. O Montanha é o melhor atleta brasileiro da história do lançamento de martelo”, ressaltou. Wagner também ressalta que não vai desistir. “É difícil, mas estou me esforçando, tentando. Vou buscar este índice até o final”, pontuou.
Neste sábado (9), ele foi o segundo colocado no Campeonato Ibero-americano de Atletismo, realizado em Lara, na Venezuela. Ele marcou 71,91 em seu último lançamento. A distância não agradou o atleta, que terminou chorando após o resultado.
A última chance que Wagner terá para conseguir a vaga será o Troféu Brasil de Atletismo. A competição terá início a partir do dia 27 de junho, no Estádio Ícaro de Castro Melo, no Complexo Esportivo do Ibirapuera, em São Paulo.