Medalha não é tudo, aceitam chineses

Adotando uma postura inédita, a imprensa oficial optou por estimular seus atletas - em vez de sobrecarregá-los

sex, 12/08/2016 - 18:36
Jim WATSON O chinês Ma Long posa com sua medalha de ouro no tênis de mesa, nos Jogos Olímpicos do Rio, no dia 11 de agosto de 2016 Jim WATSON

Uma semana depois do início dos Jogos Olímpicos Rio 2016, a China ainda não ocupa a liderança do quadro de medalhas, mas a imprensa e os torcedores permanecem do lado de seus atletas, admitindo que ganhar títulos olímpicos não é mais uma prioridade.

Pela primeira vez desde 2000, a China não conquistou uma única medalha no primeiro dia dos jogos. Em vez de aumentar a pressão, sobretudo oito anos após a excepcional colheita em Pequim 2008, torcedores e autoridades mantêm a expectativa sob controle.

O país comunista ocupa o segundo lugar no quadro, com apenas 30 medalhas, sendo 11 ouros, bem atrás dos Estados Unidos, que têm 38 medalhas e 16 ouros. Nessa mesma época, nos Jogos de Londres 2012, os chineses já haviam acumulado 18 medalhas de ouro e reinavam no primeiro lugar.

Adotando uma postura inédita, a imprensa oficial optou por estimular seus atletas - em vez de sobrecarregá-los.

"As medalhas não são o mais importante dos Jogos", estampou o jornal "China Daily" na capa, destacando que a "maioria" dos torcedores chineses está aprendendo a apreciar os esportes, mais do que simplesmente ligar para uma luta cega apenas para satisfazer o orgulho nacional.

"Claro que queremos ver nossos atletas ganharem o maior número possível de medalhas, sobretudo de ouro, mas devemos aplaudir e apreciar o desempenho de todos os nossos esportistas, homens e mulheres, visto que dão o melhor de si", completa o jornal.

Trata-se de uma mudança espetacular, em um país onde o Estado considerou o ouro, por muito tempo, como um ferramenta indispensável para a construção da glória nacional, oferecendo carros, apartamentos e polpudos prêmios aos campeões.

As equipes e os dirigentes esportivos eram avaliados em função do número de medalhas conquistadas nas Olimpíadas e nas competições no continente asiático. Já dos atletas que não conseguiam subir ao pódio esperava-se um , em geral feito aos prantos e com pesar.

Agora, mesmo o jornal estatal "Global Times", bastião do sentimento nacionalista, defende que a premiação não importa tanto.

"A confiança do povo chinês não tem mais necessidade de ser alimentada por mais medalhas", ostenta.

Essa mudança de percepção surge no momento em que a classe média, em crescimento constante no país, reluta a enviar seus jovens para as academias esportivas ultraexigentes na esperança de vê-los brilhar no pódio.

Os exemplos de ex-campeões que vivem com dificuldades financeiras, pedindo esmola no metrô em alguns casos, chocaram os chineses, que se questionam cada vez mais sobre o propósito de arriscar dessa maneira o futuro de seus filhos.

Muitos questionam, inclusive, os investimentos feitos pelo país. Segundo dados do governo, o orçamento para a área dos Esportes chegou a US$ 500 milhões em 2016.

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