Baenão completa 99 anos de fundação e busca revitalização
Estádio é a casa do Clube do Remo e um importante símbolo da história do Leão Azul paraense
Travessa Antônio Baena, entre Almirante Barroso e 25 de setembro, próximo ao posto azulino, sem n°. Este é o endereço da casa dos torcedores do Remo, dito por quase um século. Palco de inúmeras histórias, o estádio Evandro Almeida completou mais um ano vida em 15 de agosto e clama por renovações, novos ares.
As primeiras décadas de funcionamento do estádio já reservaram grandes momentos para a história do Remo. O clube dominava o cenário do futebol paraense e garantiu o heptacampeonato paraense – feito até hoje não igualado por nenhuma agremiação no Estado
Nos registros históricos constam que a primeira partida oficial do Remo disputada no Baenão foi no dia 2 de setembro de 1917, quando os azulinos derrotaram o Panther Club por 3 a 0, pelo Campeonato Paraense. Antes, os jogos eram realizados no Campo da Empresa Ferreira & Comandita, mais tarde chamada de Curuzu, casa do maior rival do Leão – o Paysandu.
O Remo jogou aquela partida com o seguinte time: Francelísio; Armindo e Lulu; Infante, Bordalo e Carlito; Lugards, Djalma, Chermont, Cícero e Formiguinha. Lulu, Chermont e Djalma marcaram os primeiros gols azulinos no estádio.
Antes da reforma do Mangueirão, no início dos anos 2000, era muito comum que o Re x Pa fosse jogado nas respectivas casas dos clubes. O primeiro “Rei da Amazônia” disputado no Baenão foi também em 1917, no dia 14 de outubro. Com vitória azulina, pelo placar de 1 a 0. Um dos mais simbólicos foi realizado na final do Campeonato Paraense de 1968. O Paysandu seria tetracampeão caso vencesse. Mas, no final do jogo, o atacante Amoroso aproveitou um erro conjunto do goleiro Omar e do zagueiro Abel, na cobrança de um tiro de meta. O goleador azulino roubou a bola, driblou o defensor bicolor e fez o gol do título azulino.
A partir do dia 4 de agosto de 1965 o estádio Baenão passou a ter um nome oficial: Evandro Almeida. Ele vestiu a camisa azulina e da Seleção Paraense durante 15 anos (1924 a 1938). Aposentou-se, mas continuou influente no clube. Chegou a ser treinador, benemérito e, posteriormente, Grande Benemérito. O defensor morreu em 1964 e deixou um enorme legado. Como os seis títulos paraenses conquistados nas temporadas 1924, 1925, 1926, 1930, 1933 e 1936. Entre os grandes momentos de Evandro Almeida, um dos mais marcantes foi a cabeçada que deu na trave depois de evitar um gol do adversário. O choque fez o defensor sair de ambulância do estádio, mas, ao menos, garantiu a vitória do Leão.
Por muitas décadas o estádio foi o principal da capital paraense, junto com o Franscico Vasques, da Tuna. Eles eram os mais utilizados em jogos de maior relevância, contra equipes grandes do Brasil ou internacionais. Confira alguns:
Remo x Santos – 29.04.64
Esta partida ficou marcada pelo dia em que Pelé vestiu a camisa do Remo. O Santos, na época, possuía um verdadeiro esquadrão de estrelas e tinha como a principal o bicampeão do mundo. A partida terminou 9 a 4 para os santistas. Mas o resultado pouco importou, afinal, a parte mais icônica do jogo foi quando o “rei” subiu ao gramado vestido com a camisa azulina. O gesto era uma forma de agradecimento ao carinho dado pelos torcedores a Pelé, que ainda recebeu um buque de flores.
Escalações:
Remo: Arlindo; Jorge Mendonça, Faustino, Socó, Zeca e Walter; Zé Ilídio, Rangel, Zanzé, Santos e Chaminha.
Santos: Claudio; Carlos Alberto Torres, Mauro e Geraldinho; Lima e Haroldo; Peixinho (Toninho Guerreiro), Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe.
Remo x Benfica – 08.09.68
Em iniciativa conjunta do Governo do Estado e Prefeitura, o Benfica, um dos maiores times de Portugal, veio a Belém para enfrentar o Remo que, na época, havia conquistado o Parazão de 1968. A grande estrela dos Encarnados era o atacante Eusébio, um dos maiores jogadores da história de Portugal. Além disso, formavam a base da Seleção Portuguesa na Copa do Mundo de 1966, que eliminou o Brasil e ficou com a terceira colocação da competição.
O jogo terminou 1 a 1. Amoroso, conhecido como pé de anjo, fez o gol azulino. Enquanto o meia atacante Torres marcou para os lusitanos.
Escalações:
Remo: Jorge (François), China, Alemão (Zé Maria), Casemiro e Edilson; Celso (Ângelo) e Íris; Zé Ilídio (Jorginho), Rubilota, Amoroso (Julião) e Zequinha. Técnico: Danilo Alvim.
Benfica: José Henrique, Jacinto, Humberto, Raul e Cruz; Jaime Graça e Coluna; José Augusto (Toni), Torres, Eusébio (Praia) e Simões.
Remo x Itabaiana (SE) – 08.12.1971
Após ficar com o vice-campeonato no Norte-Nordeste das temporadas 1698 e 1969 ao ser superado por Sport e Ceara, respectivamente, o Remo, enfim, conquistou a taça. Após faturar a terceira Copa do Norte em 1971, o Leão iria decidir pela terceira vez o Norte-Nordeste, competição que era decida entre o campeão da Copa Norte e o vencedor da Copa do Nordeste. O adversário foi o Itabaiana (SE).
A primeira partida terminou empatada por 0 a 0. No segundo jogo, disputado no Baenão, o Leão triunfou por 2 a 0. Os dois gols foram de Robilota. No entanto, o grande personagem daquela partida foi o atacante Alcino, que entrou no segundo tempo e mudou a postura do time em campo. O choro do gigante ao apito final ficou eternizado, assim como o “Negão Motora”.
Reformas
O estádio Evandro Almeida passou por três grandes reformas. A primeira ocorreu em 1935, quando passou a ter arquibancadas maiores e refletores – inéditos no Estado, até então. Na segunda, em 1962, ganhou vestiários com túneis para duas equipes e árbitros, novas arquibancadas, novo gramado e alambrado mais reforçado.
A última e mais recente iniciou e 2014 e se arrasta até hoje. O torcedor azulino chegou a visitar a casa azulina em algumas ocasiões neste período – alguns jogos do Parazão chegaram a ser disputados no “Novo Baenão”. Os alambrados deram lugar ao acrílico dos estádios mais modernos do país, o gramado começou a ter fisionomia nunca antes vista, entre outras novidades. Mas ainda estava incompleto. Há mais de dois anos o Evandro Almeida não é utilizado para jogos oficiais – desde o dia 14 de abril de 2014, quando o Remo vence o Independente por 4 a 0, pela semifinal do segundo turno do Parazão daquela temporada. A expectativa é de que a reinauguração oficial e definitiva seja no ano que vem, quando o estádio completa 100 anos de existência, com capacidade de 13.400 torcedores.
O projeto “#SouBaenão” é a principal alternativa encontrada pela diretoria azulina para acelerar as reformas do estádio, sem onerar os cofres do clube. Ele consiste na compra de unidades personalizadas de porcelanato para revestimento do Baenão, com o nome dos compradores. A ideia entrou em vigor a partir de abril deste ano. A outra maior forma de arrecadação da agremiação é a arrecadação conseguida através do programa sócio torcedor, que possui mais de 10 mil associados.
As principais modificações prometidas para o estádio são: reforço estrutural, impermeabilização, colocação de piso novo, pintura das arquibancadas, execução do sistema de combate a incêndio, reforma dos vestiários da arbitragem e time visitante. Construção do muro de alvenaria na lateral do campo, instalação dos refletores, estacionamento na área do carrossel, revitalização do gramado, além da construção da nova fachada com os porcelanatos personalizados.
Reorganização
A data de 15 de agosto é marcada também pelos 105 anos de reorganização do clube. Fundado no dia 5 de fevereiro de 1905, o Remo passou por grave crise anos depois e chegou a ter a extinção decretada. Mas isso não se efetivou graças a nomes como: Oscar Saltão, Antonico Silva, Geraldo Mota (Rubilar), Jaime Lima, Cândido Jucá, Harley Collet, Nertan Collet, Severino Poggy, Mário Araújo, Palmério Pinto e Elzeman Magalhães. Esse grupo passou a se reunir para a consolidação do ressurgimento. E, a partir de 1914, o Grupo do Remo passou a se “Club do Remo”.
Por Mateus Miranda.